domingo, 3 de janeiro de 2010

A Reforma Vista Por Um Olhar Marginal (na Suíça e na Alemanha)

A Reforma vista por um olhar marginal
(na Suíça e na Alemanha)

LUIS FELIPE MENDES DO NASCIMENTO


Índice

INTRODUÇÃO

1. Os Radicais Suíços:
Felix Mantz; Conrad Grebel e Miguel Sattler
• Histórico
• Relação com Zwínglio e o Movimento Anabatista
• Posição quanto à autoridade
• Posição quanto a Reforma Magisterial e a Igreja Romana

2. Os Radicais Alemães:
Baltasar Hubmaier, André Bodenstein de Carlstadt, Thomas Muntzer e a Guerra dos Camponeses
• Histórico
• Relação com Lutero
• Posição quanto à autoridade
• Posição quanto aos Camponeses e Oprimidos
• Posição quanto a Reforma Magisterial e a Igreja Romana

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA


INTRODUÇÃO

O movimento Anabatista historicamente tem sido desprezado pela história, mesmo a eclesiástica, visto como uma conseqüência não desejada da Reforma, um defeito no processo polido e perfeito da Reforma Magisterial. Os Anabatistas são o filho bastardo da Reforma. É preciso resgatar um pouco do que se pensava e quais os ideais desta Reforma não oficial, a reforma que foi delineada nas margens da Sociedade e na direção contrária ao poder instituído. Os Anabatistas olharam a reforma com um olhar marginal, excluído, quer os que se envolveram no desafio aberto e hostil, quer os que se submeteram ao martírio por sua visão de fé.

Neste olhar marginal havia um espírito de liberdade, que não se contentou em contestar o Império e a Igreja Romana, mas que queria mudanças mais profundas na sociedade, na própria concepção de igreja e na relação entre os seres humanos, até entre as classes da sociedade de então, mudanças que implicariam na questão dos direitos humanos e no conceito de liberdade, etc.

Este espírito de liberdade tomou posse dos vazios deixados pela Reforma Magisterial, e foi além e fez propostas que levariam séculos para serem encampadas pela sociedade como um todo. Portanto em sua época eram vistos como marginais, hereges, enviados de Satanás, ao mesmo tempo em que devolviam este olhar e viam a Reforma Magisterial e a Igreja Católica como herege, satânica, etc. Esta situação vai evoluindo da teologia para a política e dela para a violência sem restrições.

Na maior parte dos casos, estes libertários pagaram com a vida o seu sonho de liberdade. Há afirmações (da história confessional, portanto há algumas restrições aqui) de que houve mais mortos nesta época do que até mesmo nas origens do cristianismo. Isto mostra a dramaticidade do momento vivido pelos anabatistas e seus contemporâneos.

O cristianismo provou mais uma vez que apesar de sua vocação para a paz, dignidade da vida humana e liberdade, na prática se sente atraído pelo sangue, pela violência, meias verdades e pelo maniqueísmo.

Entendo que não pode se esperar de uma sociedade valores que não fazem parte da sua consciência, do imaginário coletivo que a inspira. Lutero, Calvino, Zwínglio e outros não podem ir além do ambiente que os produziu. Mas é interessante pensar que estes homens – anabatistas - junto com Erasmo e outros, conseguiram compor com suas vidas e reflexões uma história alternativa que lançou sementes que vieram a fazer parte da história da humanidade e vingaram em outras épocas.

“Os anabatistas procuraram alternativas para uma Igreja carente de mudanças... No anabatismo vamos encontrar o protesto evangélico,... Nele encontramos elementos da teologia e piedade medievais, das teologias de Lutero, de Zwínglio e de Calvino, mas também temos que admitir que não é nem católica tampouco protestante. O anabatismo é uma alternativa a católicos e protestantes”.


Era uma frente ampla, um movimento sem consciência de que era, era espontâneo, obcecado com tudo aquilo que fosse religioso, ansiava por mudanças e pela purificação da igreja. Voltar às origens era o motivo de tudo. Creio que eram o próprio vigor primitivo da Reforma, rebelde, desorganizado e apaixonado, sem arranjos, sem concessões políticas e nem religiosas, não estavam preocupados em agradar a hierarquia, em qualquer uma de suas formas. Tinham a liberdade para pensar e para construir o novo. Essa sanha que de tempos em tempos toma conta do coração do povão (mesmo que recheado por pessoas de outras classes, que tenham o coração voltado para a justiça), dos marginalizados ideologicamente e socialmente. E que normalmente são regados à espada e sangue pelos donos do poder.

O seu desejo era mudança rápida e mortal, de tal forma que os modelos antigos fossem exterminados sem condições de restauração, viam a Lutero e a Zwínglio e outros pregadores como empecilhos neste processo, pela sua lentidão, desconfiavam de sua atitude, achavam que havia algo por trás.

“Comum a eles era também o fato de que, onde apareciam, havia ‘perturbação da ordem pública’, de modo que sempre vamos encontrar a polícia no seu encalço. Reuniam-se às ocultas em casas abandonadas, em barcos no meio de rio, na mata, e liam a Bíblia sem acompanhamento ‘oficial’. As perseguições que sofreram foram terríveis. Podiam ser considerados pessoas acuadas, em peregrinação quase que constante. Eram homens, viúvas, jovens, mulheres grávidas, que eram lançados em prisões, onde apodreciam na maioria das vezes sem renunciar a suas convicções. Eram marginais, sofrendo o martírio. Mesmo assim, sofrimento e martírio não foram capazes de leva-los à unidade. As bases doutrinais para sua prática batismal, para o martírio e perseguição que sofriam eram tão distintas, que não forneciam base para um consenso mínimo. Restou para eles o estigma de reformadores anárquicos. Neles se gestava a luta moderna por liberdade de opinião e de consciência.”

Temos que acrescentar que havia outras tantas formas de martírios: queimados, línguas arrancadas, afogados (um grande número, ironizando o rebatismo). Esses homens eram movidos por convicções maiores do que a vida, como convém a mártires, a diferença é que como foram derrotadas, as suas histórias se torna a história dos vencidos, eles passam para a história dos vencedores como “perturbadores da ordem pública”, é interessante que o brilhante historiador eclesiástico Martin N. Dreher, não analisa o fato de que estes sofreram perseguições terríveis e foram acuados e portanto não tiveram tempo nem oportunidade de buscarem chegar a unidade. Todas as tentativas de dar uma forma ao movimento ou aos movimentos anabatistas terminaram em chacinas, o que pode explicar a sua falta de unidade, não havia exércitos, nem o Estado por trás deles para garantirem o tempo necessário para construírem um movimento unido, aliás o exército estava atrás deles, os perseguindo e os donos do poder mandando mata-los.

“O anabatismo não é uniforme. Houve diversos movimentos anabatistas. Seus primórdios devem ser localizados no início da década de vinte do século XVI. São os anos do ‘crescimento anárquico’ da Reforma. É um período de grande descontentamento em relação ao clero, de agitação anticlerical, de reformas sem perspectivas muito claras... Formavam uma ‘frente’ político-eclesiástica. Os argumentos que formavam a base para sua crítica eram os mais distintos; distintas eram as propostas para uma Igreja e para uma sociedade melhoradas.“

É impossível descrever de forma absoluta as peculiaridades deste movimento, há mais de 50 grupos diferentes. O anabatismo foi o produto de uma manifestação quase simultânea, em diferentes países da Europa, sob a direção de líderes com as mais diversas formações, religiosas, eruditas, humanistas, e até mesmo sem nenhuma preparação formal. Há até mesmo uma dificuldade: qual o critério que se deve usar para determinar qual grupo pertence ao movimento anabatista e qual não? O que é possível fazer é dar uma idéia das crenças mais comuns entre eles. Uma coisa é certa o batismo não é a sua principal característica, ou aquilo que os define. Este nome foi dado pelos opositores só descrevia uma de suas características, mas não o fundamento de seu sistema de crenças. Anabatista era sinônimo de tudo de ruim. Era o monstro que a todos podia devorar. Mas entre eles, se chamavam de “Irmãos” e um tema comum entre eles, era a volta ao passado, aos direitos antigos, ao modelo de vida da igreja apostólica, aos ensinos do Novo Testamento.

Acrescentavam a isto a necessidade de “iluminação interna” que complementaria a Palavra externa. E esta doutrina tinha vários matizes de um grupo ao outro, indo até a extremos que davam espaço a expressões de fé intensamente emotivas.

Em geral davam ênfase à simplicidade, santidade e boas obras. Alguns negavam o ensino generalizado do pecado original, a Ceia do Senhor era vista como um símbolo memorial do sofrimento e morte de Jesus Cristo. Era inaceitável a interferência do Estado sobre a igreja. Ninguém deveria ser coagido em assuntos religiosos, ou condenado por isto. A única punição da igreja seria a excomunhão. Tinham muita tolerância para com todos os grupos. Eram em sua maioria contra o serviço militar, e a participação do crente em postos governamentais. Outros negavam a existência do Diabo, a Trindade, as penas eternas.

Outra área de posições diferenciadas da igreja estatal era a respeito das questões sociais. Este desejo comum aos anabatistas a respeito do retorno à igreja neotestamentária também implicava que a estrutura social deveria ser afetada e igualmente dirigida pelas Escrituras.

Estavam eles convencidos que as leis existiam somente para os injustos e desobedientes, e que aqueles que espontaneamente praticam as leis de Deus, estavam livres de estarem debaixo da obediência da lei, porque obedeciam a uma lei maior. Mas enquanto houvesse ímpios, deveria haver um poder controlador: o Estado, o que obriga os crentes a se submeterem a ele e sofrerem até a perseguição, mas o modelo almejado de uma sociedade compostas por crentes eliminaria a necessidade da existência do Estado.

Quando os anabatistas se posicionavam contra os cargos públicos, serviço militar, votos de fidelidade, ele estava se posicionando contra a Igreja estatal, que considerava herética, mas ao fazer isto se tornava um apátrida e suspeito de traição, pois a igreja atrelada ao estado se tornava um ente só com este. Ao se separar da igreja o anabatista se separava do estado e se tornava subversivo.

Os anabatistas não podiam e não queriam fazer juramentos civis, isto quebrava um dos elos importantes da vida social da Alemanha e da Suíça do século XVI. Ensinavam também que o crente não deveria ter propriedade privada e que deveria buscar viver em forma duma comunidade de bens. Mas neste ponto havia alguns que exigiam este modelo e outros que o colocavam como secundário e não essencial. Isto mexia com a classe dominante e com os excluídos do modelo social vigente.

Por serem considerados subversivos, viam-se obrigados a viverem na clandestinidade, isto acabou por determinar um certo modelo de viver a igreja, e uma certa maneira de vê-la. O progresso do anabatismo foi feito à base de pregadores que iam de cidade em cidade levando o que julgavam ser a mais pura expressão da fé cristã restaurada. Não se julgavam como formadores de um matiz novo da fé cristã, mas se viam como restauradores da fé primitiva dos apóstolos.

Para se manterem na clandestinidade fortaleceram os grupos caseiros, viam a igreja como uma comunidade marcadamente familiar, com amor fraternal e íntimo. Só como pequenos grupos podiam se manter ocultos dos que os perseguiam. Desenvolveram também um padrão alto e exigente quanto ao julgar uns aos outros. Isto se mantinha pela necessidade de se protegerem, uma traição não seria meramente uma questão religiosa, mas implicaria na morte de vários irmãos. O Compromisso entre os irmãos deveria ser tão profundo, a ponto de enfrentarem juntos a morte.

Em alguns grupos de anabatistas, principalmente aqueles que são posteriores à guerra dos camponeses, surge como forte componente de sua identidade o pacifismo. Isto dentro do contexto do século XVI, onde havia tantos motivos para recorrer à violência, chega a ser surpreendente. Certos grupos desenvolveram uma consciência clara a favor da não violência, contra a guerra, serviço militar, e qualquer outro tipo de violência quer da parte do Estado quer da parte do ser humano individual. Segue um resumo das possíveis contribuições que o movimento anabatista fez:

A. Estilo de vida: seguir a Cristo
• Espiritualidade pessoal, devoção íntima (derivada do misticismo medieval)
• Discipulado e disciplina: santidade e moral pessoal (derivado das correntes mais severas do monaquismo medieval)
• Ética de amor: objeção de consciência, não violência.

B. Eclesiologia: separação do mundo
• Comunidade de irmãos e rimas: A igreja é livre em dois sentidos: (1) participação voluntária; (2) independência do Estado.
• Solidariedade nas necessidades materiais
• Inconformismo com o mundo; conformismo con as regras da comunidade (note-se outra vez certa influência do monaquismo).
• Células pequenas, íntimas, de compromisso até a morte (por perseguição e clandestinidade). Quase sempre careciam de estruturas maiores do que a célula local (com exceção dos pregadores itinerantes).
• Visão pela evangelização de um mundo perdido.
• Sectarismo: certeza de possuir a verdade que ninguém mais possuía.

C. Hermenêutica: o lugar da Bíblia na igreja
• Apego radical à Bíblia: nem credos, nem papas, nem concílios, mas sim a Bíblia lida por eles mesmos, freqüentemente camponeses simples.
• O lugar para estudo bíblico que poda valer como autoridade: a comunidade de fiéis (no a universidade).
• O princípio cristológico na leitura bíblica. Marpeck: a relação entre os testamentos é de promessa e cumprimento. Conhecer a Jesus modifica todo o demais: ele determina nossa aplicação de todo texto bíblico.

D. Pluralismo.
• Este pluralismo não foi ideológico: Muitos grupos tinham uma mentalidade extremadamente sectária: criam-se os únicos possuidores da verdade cristã.


Os Radicais Suíços: Felix Mantz; Conrad Grebel e Miguel Satler

O movimento anabatista suíço, começou entre os reformadores de Zurique, que apoiavam a Zwínglio no começo, mas que depois começaram a divergir dele, quanto às fidelidades e quanto à última autoridade a que deviam se submeter. Um dos líderes deste grupo era Conrado Grebel (1498 – 1526) um jovem humanista que há pouco havia retornado da Universidade de Paris. Grebel era de uma família tradicional e importante na vida de Zurique e até mesmo na sua história. Estudou em Basiléia e Viena também. Foi influenciado pelo humanista Glareano (1468 –1563), Vadiano (1484 – 1551). Em Paris conheceu a Lefèvre d´Étaples e a Guilherme Budé. Foi influenciado por alguns dos mais destacados humanistas de seu tempo. Quando voltou a Zurique se tornou um dos melhores alunos de Zwínglio que tinha planos para ele e para Mantz no Colégio que pretendia fundar. Quando se casou em 1522, rompeu com seu pai, e passa por uma mudança interior que o faz se tornar um ardoroso defensor da Escritura, a princípio apoiando decididamente a Zwínglio e depois se afastando dele.

Conrad Grebel teve atritos com os monges, invadindo e interrompendo a pregação deles a respeito de venerarem os santos. Apesar de ter recebido uma advertência acabou por prevalecer com o apoio de Zwínglio e quem teve de se adequar foram os monges. Outros e que tinham opiniões semelhantes às de Grebel eram os sacerdotes Simón Stumpf, Jorge (Cajacob) Blaurock, Guilherme Reublin, João Brotli; e Félix Manz, jovem estudante como Grebel, de 20 e poucos anos, filho ilegítimo de um sacerdote

Outra questão foi a dos dízimos, a princípio Simón Stumpf, negou-se a pagar o dízimo e depois diversas comunidades fizeram o mesmo. O conselho da cidade de Zurique negou a competência do bispo neste caso e resolve decidir a questão. Em relação às comunidades, mantém o dízimo mas promete eliminar abusos quanto ao mesmo. Aí começam as separações, Zwínglio apóia o conselho, Grebel ficou com as comunidades. Ele desejava uma igreja livre e reformada a partir da Palavra de Deus e não a partir da autoridade civil.

Um outro ponto de divisão entre este grupo e Zwínglio foi a respeito da eucaristia, mas o tema que selaria a divisão seria o do batismo. Nos primeiros meses de 1524 Reublin e Brotli já pregavam contra o batismo infantil e se negavam a batizar aos recém nascidos nas suas paróquias. Meses mais tarde o grupo escreveu cartas a vários líderes protestantes, expondo suas razões sobre diversos pontos. Quanto ao batismo só para crentes argumentam que pelo batismo o crente passa a fazer parte da comunidade cristã, e que há de ser reflexo de sua experiência e compromisso pessoal.

Apesar de todas as tentativas de Zwínglio e até do Conselho de Zurique, não se conseguia demover o grupo de suas novas posições assumidas. Felix Mantz pede que seja realizado um debate entre os representantes dos anabatistas e Zwínglio, para que o Conselho tome as posições certas. Mas em 18 de janeiro (Dreher diz 15 de janeiro) o Conselho convoca uma reunião mas não permitiu o debate mas sim decidiu que todas as crianças deveriam ser batizadas sob a ameaça de que seriam expulsos os que não obedecessem, e também avisava que usaria a força para que todos se submetessem a esta decisão.

A resposta dol grupo de Grebel foi reunir-se para orar. Tinham uma semana para responder. Em 21 de janeiro (ou em 25 de janeiro segundo Dreher), na casa de Felix Mantz realizaram em Zollikon, o primeiro anabatismo, houve o rompimento definitivo com Zwínglio e a Reforma oficial em Zurique. Este batismo não foi por imersão, só o fizeram mais tarde.

Até aqui nunca haviam discutido a questão de se rebatizar adultos, toda as discussões envolviam a questão de batizar ou não crianças recém nascidas. Uma antiguíssima história conservada pelos irmãos hutteritas, nos conta como foi isto.

“Llevaban bastante tiempo reunidos y una profunda angustia se apoderó de sus corazones. Empezaron a doblar la rodilla ante el Dios que es exaltado en los cielos, clamando a él como a quien sabe lo que hay en los corazones de los hombres, rogando que les permitiese hacer su voluntad divina y que les mostrara su misericordia; porque la carne y la sangre y la imaginación humana no era lo que les impulsaba. Bien sabían lo que tendrían que sufrir y aguantar por causa de ello.

Después de la oración Jorge Cajacob se levantó y le pidió a Conrado Grebel que por amor de Dios le bautizara con un bautismo cristiano verdadero, como consecuencia de su fe y su confesión. Y ya que estaba de rodillas, rogándole con un deseo tan conmovedor, Conrado le bautizó, porque no había presente ningún ministro ordenado para hacer tal cosa. Una vez hecho esto, los demás de la misma manera rogaron a Jorge que les bautizara, lo cual hizo porque se lo pedían. Así con gran temor de Dios se encomendaron unos a otros al Nombre del Señor, se reconocieron mutuamente como ministros del Evangelio, y empezaron a predicar y guardar la fe. De este modo comenzó la separación del mundo y sus obras perversas.“


Em 06 de março de 1526 há o primeiro decreto que estabelece a pena de morte para quem se declarasse anabatista. Felix Mantz, talvez o mais corajoso deles, e um dos mais convictos, ele morreu antes dos 30 anos de idade. Era um evangelista decidido, e trouxe muitos ao modelo de fé, foi muito perseguido, e aprisionado várias vezes até 1526 quando é preso e deveria comer pão e água até que morresse. Mas em 1527 foi condenado a morrer nas águas frias do rio Limmat em Zurique. Foram feitos esforços para demovê-lo de sua fé, mas sem sucesso e assim foi o primeiro, afogado em 05 de junho de 1527. Conrad Grebel adoeceu e morreu um pouco antes.

Depois dos primeiro batismos, continuaram a reunir-se em Zollikon, nas casas para orar, praticarem a ceia do Senhor e depois de algumas semanas, começaram a praticar o batismo por imersão. O resultado imediato foi o surgimento de uma igreja alternativa, e eles se lançarão a um trabalho de divulgação e até mesmo de batismo dos simpatizantes de seu movimento.

Os anabatistas foram pioneiros na reivindicação da separação entre a Igreja e o Estado, queriam liberdade para as comunidades e igrejas de cada povoado em tomar decisões à respeito da vivência da sua fé. A sua atitude de independência em matéria de fé os levou a serem vistos como perigosos agitadores sociais, e parte de seu sofrimento é resultado mais de preconceitos do que questões definidas. Criam que as reformas deveriam ser feitas pelos que estão nas igrejas locais e não pelos que estão nas esferas do poder daquela época.

Mas a sua pregação sempre apaixonada estimulou a ondas iconoclastas e agressões contra os símbolos da religiosidade católica. Esta postura levou a Zwínglio a ficar ao lado do Conselho temendo um possível caos social. Zwínglio a princípio até concordava com algumas posições dos anabatistas a respeito de não terem fundamentos bíblicos certos ritos religiosos da missa, do batismo e da ceia. Algumas reformas ele vai fazer no futuro, mas para Zwínglio a responsabilidade pelas mudanças era do Conselho de Zurique e era seu dever cristão apóia-los e obedecê-los.


Michael Sattler

Depois da morte de Grebel em 1526 e de Mantz em 1527, Michael Sattler se torna o líder mais destacado entre os irmãos suíços, Sattler era grandemente considerado pela sua piedade cristã. Seu martírio ocorreu somente alguns meses em seguida ao de Mantz.

Michael Sattler nasceu aproximadamente 1495 em Staufen perto de Freiburg em Baden. Educado na universidade de Freiburg, Sattler entrou para o mosteiro de St. Peter perto de Freiburg como monge. Com seus estudos das Escrituras e influenciado pela nova teologia da reforma, Sattler saiu do monastério em 1523 e casou-se com uma freira. Sattler se juntou com os irmãos suíços em Zurique, de onde foi banido em 18 de novembro de 1525. Pregou em vários lugares, indo mais tarde a Estrasburgo na Alsácia, relacionou-se bem no começo com Capito, Zell e Bucer, os reformadores dali.

Em 24 de fevereiro de 1527, Sattler presidiu uma conferência dos Irmãos Suíços em Schleitheim, no cantão de Schaffhausen. Ele apresentou nesta conferência uma confissão de fé que foi aprovada por unanimidade e adotada por todos. Ela foi impressa sob título: "Bruderliche Vereinigung etlicher Kinder Gottes" (A União Fraterna de Alguns dos Filhos de Deus), tornou-se a confissão de fé dos irmãos suíços. A confissão foi considerada importante bastante para ser refutada por Zwínglio e por Calvino.


A Confissão Schleitheim, em fevereiro de 1527.

Preocupados em definir uma identidade, que possa deixar claro as bases principais de sua fé, ao mesmo tempo em que impediria de serem confundidos com movimentos anabatistas marcados por exageros visionários. Reuniram-se nesta cidade líderes, não se sabe bem quantos ou quais, para tomarem esta posição. Os temas que foram abordados na Confissão foram os seguintes:

1. Afirma-se o Batismo só de crentes
2. A separação dos que caem no erro do pecado, a excomunhão. Aqui simplesmente seguem Mateus 18.
3. O partir do pão. Defendem uma comunhão fechada, ou seja só podem participar os que são membros comprometidos da comunidade e que vivem em santidade.
4. É exigida absoluta rejeição de toda “servidão da carne”, deve-se afasta de todo o tipo de pecado, maldade, idolatria e abominação. Inclusive freqüentar bares e cultos tal como o culto das igrejas romanas, luteranas e zwingliana. É proibido o uso de armas até em defesa própria.
5. Cada congregação escolhe seus próprios pastores, que devem gozar de boa reputação dentro e fora da comunidade e, por meio deles, administra sua disciplina.
6. Quanto ao governo civil, diziam ser necessário neste mundo imperfeito, mas o cristão nele não deve participar, nem tomar armas ou lançar mão de coerção,
7. O cristão sempre deve dizer a verdade e não fazer qualquer tipo de juramento.

Michael Sattler foi capturado pelas autoridades católicas romanas austríascas em Horb, em 17 de maio de 1527 e levado para Rottenburg, foi martirizado em 21 de maio de 1527.

"na manhã desse dia este nobre homem de Deus, sofrendo uma horrível tortura, orou pelos seus juizes e perseguidores e admoestou os povos ao arrependimento. Resistiu a tortura inumana estipulada na sentença. Então seu corpo já bastante ferido foi amarrado a uma escada. Orou outra vez pelos seus perseguidores quando a escada foi colocada em cima da estaca. Tinha prometido a seus amigos dar-lhes um sinal da estaca ardente, mostrar que permanecera firme até o final, resistindo a tudo por Cristo. O fogo queimou as cordas que o prendiam permitiu que levantasse uma das mãos para cima dando o sinal prometido. Logo seu espírito ficou livre para estar com Ele a quem tinha sido fiel mesmo da mais extenuante tortura, um herói verdadeiro da fé."

Em seguida ele é aprisionado pelas autoridades austríacas e posto na cadeia, em Rottemburgo (21 de maio de 1527), ele morreu queimado e sua esposa afogada.



Os Radicais Alemães: Baltasar Hubmaier, André Bodenstein de Carlstadt, Thomas Muntzer e a Guerra dos Camponeses


Baltasar Hubmaier (1408 – 1528)

Um outro nome marcante entre os anabatistas foi o do Dr. Baltasar Hubmaier. Ele nasceu em uma aldeia de Friedberg próxima a Augsburgo, no seio de uma família de pobres camponeses, sabe-se muito pouco sobre este período de sua vida. Apenas que estudou em Augsburgo, onde estudou latim. Mais tarde matricula-se na Universidade de Friburgo, onde o Dr. John Eck, foi seu professor e tutor, este sempre o elogia pelo seu aprendizado. Foi uma época dura ali. Em 1511 torna-se professor de Teologia. O Dr. Eck vai ensinar na Universidade de Ingolstad, para onde leva Hubmaier tempos depois. Ali em 1512 com 32 anos recebe o seu doutorado em Teologia.

É um intelectual muito bem preparado conhecedor de Bíblia e de várias língua, chega a ser vice-reitor e sacerdote em sua universidade. Quando nomeado para a catedral de Ratisbona alcança fama de excelente pregador. Por causa da peste sai da cidade para Waldshut próximo a Suíça, em 1520. Há nesta época uma acusação de anti-semitismo contra Hubmaier, que ataca os judeus pelos juros injustos que cobram.

Ele havia estudado na Universidade de Ingolstadt debaixo da orientação do Dr. John Eck, com quem mantinha correspondência. Foi influenciado também pelo humanismo. Estudando livros de Lutero, e mantendo contato com outros reformadores é trazido a posição reformada.

Em maio de 1523 pôs em dúvida o batismo de crianças e chegou a discutir com Zwínglio sobre isto e numa carta comenta que houve simpatia de Zwínglio pela idéia. Depois se afasta de Zwínglio, mas mantém contatos com Thomas Muntzer e depois com Carlstadt que é quem lhe ensina a respeito da Ceia.

Em 1524 escreveu um tratado Sobre os hereges e os que os queimam, neste material ela apela contra a execução de pessoas por causa de sua fé.
Começa a fazer reformas em Waldshut semelhantes àquelas na Suíça, tendo o apoio de todo o povo. Ensinou a orar somente a Deus, abandonou a adoração de imagens, ceia em duas espécies, quase abandona o batismo infantil que é permitido só para os que insistem. Abandona o Sacerdócio Romano, mas é eleito “Ministro do Evangelho” pela comunidade. É pressionado pelas autoridades austríacas a se entregar, chega a fugir, mas volta para Waldshut que tinha se tornado totalmente evangélica e ganha apoio de várias cidades e inclusive dos camponeses com quem Hubmaier sempre se deu muito bem. Em 1525 se casa e em 15 de Abril do mesmo ano recebe a visita de Wilhelm Reublin que havia sido expulso de Zurique, este batiza Hubmaier e mais setenta pessoas.

Convencido a respeito do batismo de crianças ser contrário às Escrituras, toma uma atitude, em 1525 batiza no dia da ressurreição a mais de 300 pessoas, quase toda a sua paróquia. Estabeleceu também um rito simples para a celebração da Ceia, incluindo até a lavagem cerimonial dos pés. Por causa destas mudanças o governo austríaco o perseguiu e tentou várias vezes fazer com que ele fosse expulso da cidade, mas o conselho da cidade e os cidadãos o defendem, mas ele se tornava um perigo para a cidade e resolve fugir junto com sua esposa Hugline, sai de Waldshut no dia cinco de dezembro de 1525 para nunca mais voltar. No mesmo dia em que deixam a cidade, ela é conquistada pela Áustria e obrigada a se tornar novamente católica. Isto consternou os reformadores de todos os lugares e alguns culpam o radicalismo de Hubmaier disto ter acontecido.
Hubmaier, sua esposa e amigos vão para Zurique onde é descoberto e preso poucos dias depois, acusado de estar tentando fazer algo monstruoso. Pressionado em um debate com Zwínglio, mostra que o próprio Zwínglio já havia sido favorável a não batizar crianças, o que irrita muitíssimo ao reformador de Zurique, mas Hubmaier esta fraquejando fisicamente, alguns dizem que foi torturado, outros que só a prisão foi suficiente para ele escrever uma retratação onde se dizia convencido por Zwínglio de seus erros, e num culto na Catedral, com duas tribunas frente a frente, ele iria ler a sua retratação diante de todos, mas no dia ele se retrata de sua retratação, volta a ser preso e por fim já exausto volta a se retratar e expulso da cidade em junho de 1526, dali foge para a Moravia.
Acaba por ser aceito em Nicolsburgo onde ficou por um ano realizando um trabalho bem sucedido. Calcula-se que em 1527 já havia uns 12 mil anabatistas ali. No tempo em que Hubmaier ficou em Nicolsburgo ele chega a batizar a mais de seis mil pessoas. E escreve vários tratados sobre o batismo, equiparando-se a Melanchton em seu estilo e erudição.
No começo de 1527 surge um problema a respeito da contribuição de impostos militares para defender a Áustria do avanço turco, se os anabatistas deveriam ou não fazer esta contribuição, a posição de Hubmaier foi a de submeter-se a autoridade pois ela foi constituída por Deus. Quando Hans Hut chega a cidade realiza dois debates públicos com Hubmaier, conseguindo convencer a uma parte da população da cidade a respeito de seu pacifismo radical, no qual o cristão não pode se envolver em nada à respeito de guerra, etc. Esta divisão na cidade enfraquece muito a posição de Hubmaier na cidade, o que vai contribuir para o seu posterior aprisionamento. Ambos foram presos pouco depois e Hubmaier foi conduzido a Viena, onde ficou preso 8 meses, mas em 10 de março de 1528, é executado na fogueira, a sua mulher foi afogada alguns dias depois.

O historiador Torbet nos diz que devemos lembrar a Hubmaier pelos 3 princípios que defendeu: Supremacia das Escrituras, Liberdade Religiosa e Batismo dos Regenerados. Hubmaier escreveu vários livros defendendo a fé anabatista, defendia a necessidade do governo civil e a necessidade de submissão a ele, incluindo serviço militar e pagamento de impostos. Para ele a única lei da Igreja é a Bíblia.



Thomas Muntzer

É uma encruzilhada na história, para Lutero tinha parte com o mal, para os anabatistas de Zurique mesmo com ressalvas, era veraz e fiel mensageiro do Evangelho. E assim é visto pela história, uma mistura de enviado de Deus com servo de Satã. O “reformador sem igreja” (expressão de Eric Gritsch) era um teólogo e revolucionário ao mesmo tempo. Conseguiu reunir em si mesmo ambas extremidades, mostrando que não são excludentes, aliás procura fundamentar teologicamente a revolução.

Nasceu por volta de 1490 em Stolberg, na Alemanha. De família burguesa, estudou em Leipzig (1506) e em Frankfurt na der Oder (1512). Depois de abandonar Leipzig assumiu a função de colaborador eclesiástico e de mestre-escola. Em 1513 ou 1514 é ordenado sacerdote. Em 1516 conclui os estudos. Entre 1517e 1518 visita a Wittenberg e até 1520 adere a causa luterana. Neste ano por indicação de Lutero assume como pregador do evangelho na cidade de Zwickau.

Foi em crise que chega a ser luterano, sentindo-se com problemas de consciência, abandonado por Deus, desorientado. Mas foi influenciado pelos místicos alemães e nestes ensinos encontrou consolo para a sua alma. Aprendeu que o Deus terno se revela palpavelmente aos seus no mais profundo da alma. O ser humano pode sentir a Deus e ter certeza absoluta.

Depois Muntzer manteve um contato com um grupo de cristãos leigos em Zwickau, estudiosos da bíblia que diziam ter experiências com o Espírito Santo. Com influências taboritas, o grupo tinha a visão de instaurar o Reino de Deus, exigindo vida de testemunho, experiência com o Espírito, eliminar os não crentes.

Um deles era Nicolau Storch, um tecelão que havia estado na Boêmia, onde foi influenciado por doutrinas quiliastas dos Taboritas ainda professados por alguns irmãos boêmios. Era analfabeto, mas sabia citar as escrituras do velho e do novo testamento. Impressionava a todos ao seu redor, classificando suas profecias como inspiradas diretamente por Deus. Muntzer concordava com Storch e sentiu que junto com todos eles era chamado a fundar uma Nova Igreja Apostólica.

Muntzer via a Igreja como uma categoria sociológica para a vida humana em comunhão, antes de tudo uma experiência subjetiva do “Espírito” que antecede a Palavra escrita e que tem de ser despertada. Uma religião imanente que existe na alma humana desde a criação. É este o “Espírito” que se manifesta nos patriarcas, profetas, etc. E esta experiência está disponível a todos os homens, todos podem desfrutar desta manifestação de Deus e isto torna todos os homens iguais, sem diferença de raça ou nação.

O fator determinante para a sua interpretação bíblica era a possibilidade de receber revelações diretas de Deus que teria ascendência sobre a Palavra externa, um texto freqüente entre eles era a respeito de “a letra mata, mas o Espírito vivifica”.O “Espírito” cria uma comunhão dos eleitos e através deles uma nova realidade social. Muntzer via esta comunhão sem classes, sem propriedade privada na igreja primitiva.

“A Igreja é um ideal social, onde inexistem Estado, classes, propriedade privada.” ... “ ‘Igreja’ é para ele a união dos eleitos, através da experiência direta do Espírito e da vontade de Deus, e o estado final perfeito da humanidade, sem intituição estatal, sem propriedade, realizado aqui na terra e que conclui ou encerra a história que até aqui ocorreu (Hinrichs). Igreja é o reino de Deus implantado de maneira definitiva.

A partir daí Muntzer foi se distanciando de Lutero, tem que sair de Zwickau, vai para Praga, Em 1523 começa a pastorear em Allstedt. Institui o culto em alemão, casa-se com uma ex-freira Ottilie von Gersen, com quem teve um filho. Atrai multidões como pregador, vinha gente de diversos lugares, causando a reação dos príncipes católicos que fizeram restrições para seus súditos viajaram para Allstedt. Muntzer chega a ameaçá-los de oposição total e até mesmo rebeldia e desobediência.

“Algumas de suas expressões diziam: ‘Deus deu senhores e príncipes por ter estado irado, mas em tempo Ele os removerá em seu desgosto. Se os príncipes agirem não só contra o evangelho, mas também contra os direitos naturais do povo, devem eles ser estrangulados como cães.’”

Muntzer via-se como um profeta (Malaquias 4.5-6), enviado para conclamar os cristãos a voltarem a ter uma fé pura. Ele entendia que havia sido mandado por Deus para instaurar um novo Reino onde se estabeleceria a igualdade de classes e as pessoas viveram em comunhão de bens como nos dias apostólicos. Cria que este novo reino não seria estabelecido pacificamente, mas sim pela força. Muntzer tinha teorias extraordinárias de como isto se daria: os eleitos de Deus poderiam cada um estrangular a mil inimigos.

Da teoria à ação, em resultado de suas pregações uma capela dedicada a Maria, da qual se diziam haver poder milagroso, foi queimada em resultado de suas prédicas. O processo decorrente deste incêndio provocou a ira de Muntzer, que achava que a autoridade cristã teria que ficar do seu lado, contra a obra de Satanás – capela de Maria. A autoridade só era reconhecida por ele quando estivesse do lado da sua visão de evangelho.

Por pressão de Lutero foi para Mühlhausen, onde já havia partidários seus. Onde causou tantas tensões que acabou tendo que sair daí. Mas neste tempo já tinha amadurecido as suas idéias e tinha tido uma violenta polêmica com Lutero, e afirma idéias a respeito de uma teocracia socialista. Nela afirma que o poder da espada é da comunidade, o príncipe não passa de um servo da espada. Volta a Mühlhausen para pastorear a maior igreja da cidade, o conselho agora lhe era favorável. Houve a introdução de uma liturgia muito simples, objetos de valor das igrejas vendidos e aplicados com fins públicos, destruição de todos os tipos de imagens, etc.

Muntzer cria que uma voz interior especial ensina a pessoa sobre come interpretar as Escrituras. E que este era o modelo que Deus queria ver implantado na igreja, este tipo de ensino era mais importante do que a conclusão dos teólogos. E tinham mais autoridade do que os ensinos oficiais da Igreja. Valorizava os sonhos e as visões. Como boa parte do povo simples e até mesmo dos príncipes de sua época, Muntzer era contrário a tudo que tinha a haver com os sacerdotes, os altares, os quadros, as imagens e o uso de latim nos serviços de adoração. Muntzer assim como Lutero, defendia o uso do alemão, mas Lutero demorou um pouco mais para ter coragem de colocar isto em prática.

Entretanto os camponeses estavam já com sua revolta em curso e obtendo vitórias, vinham se aproximando de Mühlhausen, Muntzer já havia preparado a cidade para aderir a Revolta dos Camponeses, já havia profetizado a vitória da revolução das classes trabalhadoras. Insuflava o povo a destruírem totalmente os ímpios e conquistarem seus castelos.

Nos últimos meses de vida foi amargurado, rompido com Lutero, com os príncipes da Saxônia. Ficou ao lado do povo, transformou-se em importante agitador e pregador dos camponeses da Turíngia. Faltava-lhe conhecimento militar e político para liderar a revolta, foram enfrentar os exércitos da nobreza com oito canhões sem munição, bandeira com o símbolo do arco-íris e uma espada. Pregou com veemência, convenceu os camponeses, mas perdeu a guerra na Batalha de Frankenhausen em 15 de maio de 1525, cinco mil camponeses morreram e apenas 6 soldados, foi preso, torturado e decapitado em 27 de maio de 1525.



ANDREAS BODENSTEIN, de CARLSTADT

Nasceu em Carlstadt em 1477, estudou filosofia, jurisprudência e teologia em Colônia , Erfurt e Wittenberg. Depois de 1507 foi professor assistente na universidade de Wittenberg. Em 1510 teve o título de Doutor em Teologia. Também foi decano na Faculdade de Teologia de Wittenberg e Diácono na Igreja do Castelo. Secretamente recebeu o título de Doutor de Jurisprudência, em Roma. Melanchton o chamava de ABC, pelas iniciais do seu nome. “Era de caráter grave, sombrio, talvez propenso à inveja, e de um espírito inquieto, porém cheio do desejo de aprender e dotado de grande capacidade. “

Em 1517, Carlstadt publicou uma série de teses sustentando que a autoridade das Sagradas Escrituras estava acima da dos pais da Igreja. Quando a Reforma começou em 1517, postou-se ao lado de Lutero, defendendo suas idéias e teologia. Quando o Dr. Eck publicou seus Obeliscos atacando a doutrina de Lutero, Carlstadt saiu em sua defesa, respondendo e atacando Eck. Como Lutero, Carlstadt era apaixonado pela doutrina da Graça e admirador de S. Agostinho. A situação belicosa entre Eck e Carlstadt foi crescendo a tal ponto que foi marcado um debate entre os dois em Leipzig, tudo correu de tal forma que desde a história sobre o acidente de Carlstadt até o final do debate, Carlstadt foi ficando para segundo plano, enquanto que Lutero se tornava o centro das atenções. Os dois lados cantaram vitória nesta disputatio.

Data desta época uma descrição de Carlstadt citada por J. H. Merle D’Aubigné,

“Carlstadt é mais baixo: tem o rosto moreno e queimado; sua memória não é tão segura como a de Lutero, e mais também do que ele é propenso à cólera. Todavia, ainda que em grau menor, se encontram nele as qualidades que distinguem seu amigo.”

Carlstadt praticamente some no período posterior, ficando em posição secundária durante muito tempo. Até que na ausência de Lutero ele e Melanchton começam a tomar a frente da Reforma em Wittenberg, Carlstadt foi envolvido pelo clima de reformas e acaba tomando posições radicais de mudanças rápidas, sofre também a influência dos Profetas de Zwickau que convence a Carlstadt de suas posições quiliastas e visionárias, assim Carlstadt começa discordando de Lutero e do príncipe eleitor. Uma questão muito importante para ele era sobre a missa. Era zeloso reto e pronto a se sacrificar pelo que achava certo, mas não era moderado em suas posições. Estava impaciente, percebendo que tudo mudava a seu redor, ansiava por mudanças mais profundas na vida religiosa de sua cidade. Cria que tinha a obrigação de ajudar a Deus a realizar a sua obra.

“A linguagem do arcediago contaminava os outros com a impaciência que ele sentia. “ Tudo quanto os papas tem ordenado é ímpio, diziam certos homens íntegros e sinceros que lhe seguiam o exemplo. Não nos tornemos partícipes dessas abominações, consentindo que subsistam por mais tempo. Aquilo que é condenado pela Palavra de Deus devia ser deitado por terra em toda a Cristandade, sejam quais forem as ordenanças dos homens. Se os chefes do Estado e da Igreja não cumprem o seu dever, cumpramos o nosso. Renunciemos a todas as negociações, conferências, teses e polêmicas e apliquemos o remédio eficaz para a cura de tantos males.”

Frederico de Saxônia não estava de acordo com estas medidas e pediu calma e moderação, mas Carlstadt persistiu em seu objetivo. Começou a atacar a prática da confissão, o jejum, e o costume de não servir o pão e cálice juntos na eucaristia. No dia anterior ao natal de 1521, ele celebrou a Ceia sem as vestiduras típicas do sacerdote e eliminou a elevação da hóstia. Estimulou a todos que participassem da ceia tomando em suas mãos os dois elementos, o que criou alguns traumas para as pessoas que tinham em mente ainda o velho modelo.

Carlstadt era mais agressivo que Lutero quanto à por em prática as novas doutrinas. Carlstadt não apenas escreveu contra o celibato mas adotou uma posição ainda mais extrema que Lutero dizendo que para o sacerdócio deveriam aceitar-se apenas homens casados. O resultado foi que alguns sacerdotes começaram a casar- se.

Lutero reprimiu as reformas impostas em Wittenberg com apenas alguns sermões, isto foi levando Carlstadt a um afastamento progressivo. Carlstadt se dirige a Orlamunde, onde era titular da igreja paroquial. Ali começou a colocar em prática sua teologia do sacerdócio de todos os crentes, e a pregar e escrever livros que punham reparos ao sola fide de Lutero, colocando a necessidade de santidade e de uma vida mais mística do crente. Ele foi influenciado aqui pela Teologia Alemã.

Após isto começou um debate, em forma de livretos, com Lutero a respeito da presença real de Cristo na ceia, doutrina que Carlstadt era contra. Enquanto isto foi abandonando as vestimentas sacerdotais, pedindo para ser chamado de irmão André, desaconselhando os estudos teológicos e dando ênfase na vida simples. Não fazia mais batismo de recém nascidos. Sua teologia de justiça social ainda que vétero-testamentária, começou a se aproximar muito da teologia de Muntzer. Apesar de que Orlamunde não quis entrar em aliança com Allstedt naquele socialismo evangélico. Mesmo assim Lutero perseguiu a Carlstadt que se vê obrigado a deixar a cidade e ir para várias cidades, indo até contatar os anabatistas de Zurique.

Por fim vai parar na cidade de Rotemburgo, onde tenta desenvolver um papel de mediador não muito bem sucedido. Não se envolveu com o tumulto social, mas pregava sobre justiça social e moderação evangélica. Mas com a agitação social em torno da cidade já tomando a cidade, um sermão seu serviu de pretexto para uma agitação iconoclasta, que levou as autoridades a expulsarem da cidade uma série de camponeses, Carlstadt sentiu-se no dever de ser o seu capelão, mas mal saiu da cidade começou a experimentar a violência dos camponeses, ele era um intelectual educado que se esforçava para se identificar com os camponeses, mas não era um agricultor. Houve uma troca violenta de palavras entre ele e um mercenário a serviço dos camponeses na porta da cidade, este sacou uma adaga e tentou esfaquear a Carlstadt, que conseguiu desviar dos golpes. Logo depois escreve uma carta aconselhando os camponeses a tomarem cuidados com os seus excessos, pois a mão de Deus poderia virar contra eles. Depois disto não teve mais a simpatia dos camponeses.

Carlstadt voltou a Rottemburgo onde continuou a tentar auxiliar a Revolta dos Camponeses, mas as pressões de ambos os lados, de camponeses a patrícios, o fizeram fugir em um cesto pela muralha da cidade, e volta a cena apenas em Basiléia onde desenvolve a sua teologia eucarística, escreve livros que vão influenciar anabatistas suíços e outros. Ensina na Universidade. Onde morre em 1541.

A Rebelião dos Camponeses

A precária situação econômica dos camponeses constituía um elemento explosivo que podia conduzir a uma rebelião fanática. A maioria dos camponeses via-se forçado a arrendar terras de outros para sobreviver. Esta relação com os proprietários era muito tensa. Estavam sendo explorados pelos proprietários que agora os proibiam de pastorear o seu próprio gado, usar lenha e até mesmo pescar e caçar.

Os camponeses haviam lutado para obter justiça social já há muito tempo. Queriam uma justiça simples nas relações econômicas com os proprietários. Mas mesmo assim o povo era muito religioso e alguns religiosos tinham muita identificação com o povo por terem vindo da mesma origem social. A doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes, acabou por ser muito apelativa para os oprimidos porque trazia a idéia de que todos os homens eram iguais.

Os camponeses se revoltaram em junho de 1524, depois de mais uma medida extrema do governo que lhes impediu de colher o que plantaram. O movimento se espalhou rapidamente, na primavera do ano seguinte já tinha se espalhado por toda a Alemanha.

Os Doze artigos

Os camponeses prepararam vários documentos para explicar o motivo de seu protesto. Talvez o mais importante deles foi os Os Doze artigos, escritos em 1525. A insistência dos reformadores, inclusive Lutero, na autoridade Bíblica para ser a reguladora dos relacionamentos sociais, influenciou os camponeses de tal forma que este artigos vinham juntos com uma extensa citação de versículos para dar base para suas reivindicações.

O texto deste Os Doze artigos era muito simples e objetivo, tinha a ver com aquelas demandas mais antigas dos camponeses, falava sobre as mútuas obrigações neste relacionamento com os proprietários de terra. Pediam sobre eliminar o dízimo generalizado com exceção do dizimo do grão principal porque criam que aí haveria base bíblica para exigi-lo. Pedem permissão para caçar e pescar e o uso da água, o desejo dos camponeses era voltar ao relacionamento seguro das práticas antigas. Nos artigos que falam sobre religião afirmam não querer revolução mas o simples executar da justiça cristã. A preocupação dos camponeses em se vincular a Escritura era tanta que num dos artigos expunham que se algum destas reivindicações provassem não serem sustentadas biblicamente, este artigo seria revisto. Baltasar Hubmaier durante muito tempo foi visto como o autor destas reivindicações, mas ele admitiu isto em 1528 em Viena debaixo de tortura. Provavelmente (segundo George Willians) ele foi um revisor dos doze artigos.

Mas os que possuíam a autoridade não queriam abrir mão dos seus direitos que julgavam posses suas. Além do fato de desprezarem e odiarem uma classe social inferior. O resultado foi horrível, trataram os camponeses com desprezo e não os respeitaram, os trataram com violência que gerou outra violência, completamente diferente do equilíbrio visto nos artigos, e provocaram uma carnificina descontrolada de ambos os lados.

No início parecia que todas as profecias haveriam de se cumprir. O fim dos tempos havia chegado e Deus iria usar os camponeses para estabelecer seu novo reino aqui na terra. Os camponeses iam de vitória em vitória saqueando igrejas, propriedades particulares e de autoridades eclesiásticas. Destruíam imagens e relíquias, profanavam o sagrado. Mas quando as tropas imperiais que estavam na Itália puderam retornar, os príncipes ajuntaram seus exércitos para sufocar a rebelião. Então começou uma carnificina tal que sufocou a revolta num mar de sangue.

CONCLUSÃO

Ao mesmo tempo em que a Confissão de Schlateim e os Doze Artigos tinham pontos de vista bastante diferentes, no sentido de que a primeira se opunha a toda forma de violência, ao mesmo tempo em que convidava o crente a sair deste mundo, e a segunda defendia o direito do camponês, desafiando os senhores feudais e se comprometia a buscar mudanças neste mundo e não a fugir dele.

Ambas, tinham o mesmo transfundo cultural, econômico e social. O mesmo povo estava por trás das reivindicações. As causas do movimento anabatista e da guerra dos camponeses são muito semelhantes. As classes mais baixas da sociedade alemã e suíça estava há muito sofrendo os rigores das mudanças sociais e econômicas. Sofriam fome, frio, má nutrição e constantemente eram por demais explorados e exigidos no trabalho.

O povo já há muito tempo necessitava de um socorro, e foram despertados pelos ensinos de Lutero, Zwínglio e outros pregadores de que o seu sonho era possível. Mas não queriam de ter de esperar um outro século para serem satisfeitos. O ensino sobre o sacerdócio universal de todos os crentes, deu a eles de volta a dignidade perdida, todos os homens eram iguais e isto tinha para eles implicações sociais bem definidas. A religião simples, bíblica e numa língua que pudessem entender os motivou a se verem novamente parte da história e despertou desejos adormecidos naqueles corpos e naquelas almas. O problema era que a Reforma Magisterial não queria ou não podia satisfazer ao povo sem perder o apoio da nobreza, fundamental para sua implantação. Aí entram os Anabatistas e todas as forças que vem compor o quadro da Revolta dos Camponeses. Estavam prontos a escutar e se envolver em qualquer movimento radical que se apresentasse, não tinham outras opções.

Muitos dos primeiros líderes, como Carlstadt, Mantz e Grebel, eram de formação acadêmica elevada, alguns de formação humanista. Estavam preparados para fundar e liderar um movimento de tal envergadura. Mas a maioria dos líderes anabatistas morreu jovem. Os novos líderes já não tinham a mesma formação e acabaram escolhendo um caminho cheio de exageros, visões milenaristas, alimentando a ilusão do povo.

O movimento anabatista espalhou-se muito rápido e em meio àquela época de distúrbios religiosos despertou muita oposição. Lutero dizia que os pregadores anabatistas itinerantes eram emissários do diabo. Lutero e Melanchton criam que era preciso medidas severas, até mesmo a execução para deter este movimento. A maioria dos reformadores aconselhava o Estado a agir com mão de ferro contra estes hereges.

O século XVI vê a Reforma Protestante, que começou motivada por sonhos pessoais, por erudição, busca de mais profundos conhecimentos sobre as doutrinas cristãs a partir das escrituras. Vê agora esta Reforma ser banhada em sangue, e rasgada de parte a parte. Seria normal que todo o sonho dos anabatistas e dos camponeses fosse extinguido, mas o sonho parece que é feito de um material que nem o sangue derramado pode destruí-lo.

Muitos anos depois esta visão renasce das cinzas, nas igrejas separatistas da Inglaterra, nas comunidades menonitas e diria até nos movimentos marxistas, na Teologia da Libertação e no movimento dos direitos humanos dos séculos mais recentes. Parece que neles se encontra a mesma raiz, o mesmo sonho, a mesma fé para construir o mundo de novo, com erros e acertos, mas construído pela mão do homem, pelo coração que não se deixa calar, e abençoado pelo olhar de Deus.


BIBLIOGRAFIA

D´Aubigné, J. H. História da Reforma do Décimo Sexto Século. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana.
Dreher, Martin N. A Crise e a Renovação da Igreja no Período da Reforma. São Leopoldo: Sinodal, 1996. (Coleção História da Igreja).
Elton, G. R. A Europa Durante a Reforma 1517 – 1559. Tradução de Ana Hatherly. Lisboa: Editorial Presença.
Faircioth, Samuel D. Esboço da História dos Baptistas (súmula do livro A History of the Baptists por Robert G. Torbet). Leiria: Edições Vida Nova. 1959
Schaly, Harold. Os Anabatistas. Apostila não publicada.
Walker, W. História da Igreja Cristã. Tradução D. Glênio Vergara e N. Duval da Silva. São Paulo: Aste e Juerp. 1983
Wenger, John Christian. Compendio de Historia y Doctrina Menonitas. Traduzido por Ernesto S. Vilela. Buenos Aires: La Aurora, 1960
Willians, G. H. La Reforma Radical. México: Fondo de Cultura Económica. 1983

PESQUISA NA INTERNET

http://www.anabaptists.org/history (várias páginas)
http://www.anabaptists.org/Anabaptists Separate by Choice, Marginal by Force.htm
http://www.wittenberg.de/e/seiten/st011000.html
http://www.hccentral.com/nelson1/index.html#toc
http://www.menonitas.org/anabaptistas
http://www.bible.org/docs/history/schaff
http://www.sobreestapiedra.com/archivo_historia_cristiana/estep

Os livros seguintes também foram tirados da Internet:

Amaya, Ismael E. LOS FORJADORES DE NUESTRA FE (La Reforma Religiosa del Siglo Dieciséis)
Lindsay, Tomás M. La Reforma y Su Desarrolo Social. Biblioteca de la Historia Cristiana

sexta-feira, 5 de junho de 2009

CRONOLOGIA DAS CRUZADAS

A Primeira Cruzada e os novos estados da Terra Santa,
(1096 - 1099 - 1143)


Pedro, o Eremita discursa aos cruzados
diante de Jerusalém.

1095, começos. Aleixo I Comneno, imperador bizantino, envia uma embaixada ao papa Urbano II, para lhe pedir ajuda.

1095, Primavera. O papa Urbano II inicia a sua viagem a França.

1095, 18 de Novembro. Abertura do Concílio de Clermont.

1095, 26 de Novembro. Urbano II lança o seu apelo à Cruzada.

1096, Abril. Partida da Cruzada popular dirigida por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans Avoir. Massacres de judeus na Renânia.

1096, 6 de Julho. Concílio de Nimes: Urbano II confia a Raimundo de Saint-Gilles o comando de uma das expedições à Terra Santa.

1096, 1 de Agosto. A Cruzada popular chega a Constantinopla.

1096, Verão. Partida da Cruzada dos barões (Godofredo de Bulhão; Raimundo IV conde de Toulouse; Boemundo de Tarento; Estêvão conde de Blois; Tancredo de Hauteville e Roberto II conde da Flandres). O imperador alemão, Henrique IV, e o rei de França, Filipe I, estando excomungados, não puderam dirigir a Cruzada.

1096, 21 de Outubro. As tropas turcas e búlgaras do sultão de Niceia, Kilij Arslan, aniquilam a Cruzada popular na Anatólia. Pedro, o Eremita escapa ao massacre e foge para Constantinopla.

1096, 23 de Dezembro. Chegada de Godofredo de Bulhão a Constantinopla. O imperador de Bizâncio exige, e obtém, após muitas recusas, a promessa de restituição das terras e das cidades retomadas aos muçulmanos, e a aceitação da sua suserania sobre as novas conquistas.

1097, fim de Abril. O exército dos barões abandona Constantinopla, passando para a Ásia Menor.

1097, Maio. Tiro cai nas mãos dos Fatimidas do Egipto.

1097, Junho. Tomada de Niceia pelos cruzados, restituída a Bizâncio.

1097, 1 de Julho. Vitória franca contra o sultão turco de Iconium (Konya), em Dorileia.

1097, 13 de Setembro. Os cruzados dividem o exército em dois forças em Heracleia.

1097, 20 de Outubro. Chegada dos cruzados a Antioquia, e começo do cerco.

1097, 15 de Novembro. Balduíno de Bolonha abandona o campo dos cruzados e toma a direcção de Edessa, devido ao pedido de apoio do príncipe arménio da cidade.

1098, Fevereiro. Os Bizantinos abandonam o cerco de Antioquia. Balduíno chega a Edessa.

1098, Março. Balduíno de Bolonha proclama-se príncipe de Edessa, após a morte de Thoros, príncipe arménio, que lhe tinha pedido ajuda e o tinha adoptado. Funda assim o primeiro Estado Latino do Oriente.

1098, 3 de Junho. Tomada de Antioquia pelos Cruzados. Boemundo I de Tarento, chefe dos normandos da Itália meridional, recusa devolvê-la aos bizantinos e proclama-se príncipe de Antioquia.

1098, 4 de Junho. Os cruzados são cercados em Antioquia por um exército de socorro, comandado por Kerbogha, enviado pelo Sultanato seljúcida da Pérsia.

1098, 14 de Junho. Pedro Bartolomeu descobre a Santa Lança debaixo das lajes de uma igreja de Antioquia.

1098, 28 de Junho. Os cruzados de Antioquia derrotam as forças sitiantes muçulmanas.

1098, 26 de Agosto. Os Fatimidas ocupam Jerusalém.

1098,12 de Dezembro. Os cruzados apoderam-se de Maarat An Noman, na Siria. A população é massacrada e a cidade destruída.

1099, 13 de Janeiro. Os Francos retomam a sua marcha para Jerusalém.

1099, 2 de Fevereiro. O exército passa por Qal'at-al-Hosn, o futuro Krak dos Cavaleiros.

1099, 7 de Junho. O exército franco chega a Jerusalém.

1099, 13 de Junho. Primeiro assalto à cidade, sem qualquer preparação prévia, que falha.

1099, 10 de Julho. Assalto a Jerusalém. A muralha circundante é atravessada.

1099, 15 de Julho. Conquista de Jerusalém pelos cruzados. Massacre da população muçulmana e judia.

1099, 12 de Agosto. Os Francos derrotam os Egípcios em Ascalon, na costa mediterrânica, a norte de Gaza.

1099, 22 de Julho. Eleito rei de Jerusalém pelos barões, Godofredo de Bulhão só aceita o título de defensor do Santo Sepulcro.

1099, 1 de Agosto. Arnoul Malecorne, patriarca de Jerusalém. É substituído em 31 de Dezembro por Daimbert, bispo de Pisa, legado do papa.

1100. Acordo comercial entre Veneza e o Reino Franco de Jerusalém.

1100, 18 de Julho. Morte de Godofredo de Bulhão. Balduíno de Bolonha, irmão de Godofredo, príncipe de Edessa, é coroado primeiro rei de Jerusalém em Belém, no dia 25 de Dezembro.

1100-1101. Cruzadas de socorro. Cruzada lombarda (1) dirigida pelo arcebispo de Milão, Anselmo du Buis, Raimundo de Saint-Gilles, Estêvão-Henrique, conde de Blois, Estêvão, conde da Borgonha e o primeiro oficial do Santo Sepulcro, Conrado. Cruzadas de Nevers (2) e da Aquitânia (3). Nenhuma delas consegue atravessar a Ásia Menor, sendo sucessivamente vencidas por uma coligação dos diferentes potentados turcos da Anatólia.

1101, Março. Tancredo de Hauteville, um dos chefes da primeira Cruzada, abandona Jerusalém regressando ao Ocidente por Antioquia.

1101, 17 de Maio. Os Francos tomam Cesareia.

1102. Raimundo de Saint-Gilles toma Tortosa.

- Vitória de Balduíno em Ramla.

1103. Início do cerco de Trípoli pelos Francos.

1104, 7 de Maio. Derrota dos Francos em Harran: Balduíno du Bourg é feito prisioneiro. Paragem do avanço da Cruzada na Mesopotâmia, que se dirigia para Mossoul, no rio Tigre.

1104, 26 de Maio. Os cruzados tomam Acre com a ajuda de uma esquadra genovesa.

1105, 28 de Fevereiro. Raimundo de Saint-Gilles morre em Mont-Pèlerin, durante o cerco de Trípoli. É sucedido por Bertrand de Saint-Gilles.

1105-1113. Os «Assassinos» redobram de actividade.

1108. Conflito entre Tancredo e Balduíno du Bourg a propósito da restituição de Antioquia a este último.

1109, Julho. Trípoli cai na mão dos Francos. O conde Bertrand conquista finalmente a cidade de que é titular.

1110. Conquista do Castelo Branco (Safita) e do Krak dos Cavaleiros.

1111. Mawdud, emir ortoqida de Mossul, ataca os Francos, e massacra a população de Edessa quando esta se dirigia para a margem ocidental do rio Eufrates.

1113. Bula do papa Pascoal II reconhecendo oficialmente a ordem do Hospital de São João de Jerusalém.

1115. Conquista pelos francos do castelo de Shawbak (Montréal), a sul do Mar Morto.

1118. Morte do imperador Aleixo Comneno; a sua filha Ana começa a redacção da Alexíada.

1118, Abril. Morte de Balduíno I; sucede-lhe Balduíno du Bourg.

1119. Batalha de «Ager sanguinis» (do campo de sangue). O emir el Ghazi, de Diyarbakir aniquila o exército franco de Antioquia, pertp de Atareb.

1119-1120. Nove cavaleiros ocidentais fundam, em Jerusalém, a Milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo (Futura Ordem do Templo).

1123, 29 de Maio. Os Egípcios são derrotados em Ibelin pelo primeiro oficial do rei, Eustáquio Garnier, regente do reino durante o cativeiro de Balduíno II.

1124, 7 de Julho. Tomada de Tiro pelos cruzados.

1129, Janeiro. Concílio de Troyes: a Ordem do Templo é oficialmente reconhecida pelo papa Honório III.

1129, 18 de Junho. Zinki instala-se em Alepo; faz apelo à Jihad contra os Francos.

1131, 14 de Setembro. Morte de Balduíno II; Foulques V, de Anjou, rei de Jerusalém.

1135. O Hospital de São João de Jerusalém transforma-se em ordem militar.

1142. O Krak dos Cavaleiros é cedido aos Hospitalários de São João.

1143, 25 de Dezembro. Zinki, atabaque de Alepo e de Mossul, toma Edessa.


A Segunda Cruzada e o aparecimento de Saladino,
(1147 - 1149 - 1189)


©Bibliotheque Nationale de France

O rei de França Luís VII e o imperador Conrado III partem para a Segunda Cruzada.

1145, 14 de Dezembro. O Papa Eugénio III proclama a 2.ª Cruzada.

1146, 31 de Março. Sermão de São Bernardo de Claraval na basílica de Vézelay, a pregar a Cruzada.

1146, 15 de Setembro. O atabaque de Alepo, Zinki é assassinado pelos seus pajens. O reino de Edessa é partilhado pelos seus dois filhos, Ghazi e Nur ed-Din.

1146, 27 de Outubro – 3 Novembro. Jocelino II reocupa Edessa.

1146, 25-27 de Dezembro. São Bernardo de Claraval ordena a Conrado III, imperador alemão, que dirija a cruzada.

1147. Partida do rei de França, Luís VII, e de Conrado III para a Palestina.

1147, 4 de Outubro. Luís VII chega a Constantinopla.

1147, 26 de Outubro. Os cruzados alemães, abandonados pelos bizantinos, são esmagados em Dorileia.

1148, Março. Luís VII desembarca em Antioquia.

1148, 23 de Julho. As tropas francesas, os sobreviventes da cruzada alemã e os cavaleiros da Terra Santa põem cerco a Damasco. Abandonam-no cinco dias depois, sem terem conseguido conquistar a cidade.

1149, Primavera. Luís VII e Conrado regressam a França. A Segunda Cruzada falha e o mito da invicibilidade dos Francos é destruído.

1149, 29 de Junho. Nur ed-Din derrota os francos em Ma'arra, e mata Raimundo de Poitiers.

1150. Perante a ameaça muçulmana, Balduíno III abandona Turbessel e outras fortalezas do Norte do reino de Jerusalém.

1153, 19 de Agosto. Os Francos tomam Ascalon, que lhes resistia desde a Primeira Cruzada.

1153, 20 de Agosto. São Bernardo morre no mosteiro cistercense de Claraval, de que era abade desde 1115.

1154. Nur ed-Din entra em Damasco.

1155. Ataque normando contra Alexandria, no Egipto.

1155-1156. Renaud de Châtillon, príncipe de Antioquia, põe Chipre a saque.

1158. Harim é retomada por Balduíno III.

1159. O Príncipe de Antioquia reconhece o Imperador Bizantino como seu suserano.

- Os Francos com a ajuda dos Bizantinos põem cerco a Alepo.

- Os Bizantinos fazem a paz com Nur ed-Din.

1162, 10 de Janeiro. Morte de Balduíno III. O seu sobrinho, Amaury I sobe ao trono de Jerusalém.

1164. Amaury I cerca Pelusa, mas tem que levantar o cerco porque Nur ed-Din retoma Harim.

1167. Amaury I, rei de Jerusalém, ocupa o Cairo.

1168. Expedição de Amaury I ao Egipto, que fracassa

- Nur ed-Din reocupa o Cairo.

1169. Saladino (Salah ed-Din), fundador da dinastia curda dos Ayyubidas, é nomeado vizir do Egipto por Nur ed-Din, califa de Damasco.

1170. Amaury I bate Nur ed-Din no Mar Morto e Saladino em Gaza.

1171. Saladino suprime o califado fatimida do Cairo. A divisão dos muçulmanos entre o califado de Damasco e o califado do Cairo desaparece.

1173. Saladino manda construir uma nhanqab (convento) no Cairo. Adopta o título de malik - rei - e ocupa o Alto Egipto e envia uma expedição ao Iémen.

1174, 15 de Maio. Morte de Nur ed-Din. Saladino apodera-se do poder na Síria.

- Morte de Amaury I. Começo do reinado de Balduíno IV.

1176. Os Turcos seljucidas do Rum aniquilam o exército bizantino do imperador Manuel Comneno em Myriocéfalo.

- Saladino começa a construção da grande cidadela do Cairo.

1177. Cruzada dirigida pelo conde da Flandres, Filipe da Alsácia.

1177, 25-26 de Novembro. Saladino é derrotado em Montgisard por Balduíno IV.

1179. Saladino ataca Tiro.

1180. Saladino e Balduíno IV assinam uma trégua.

1182, Agosto. Saladino ataca Nazaré e Tiberíade e tenta tomar Beirute para dividir em dois os Estados latinos.

- Massacre de Latinos em Constantinopla.

1183. Expedição de Renaud de Châtillon contra Medina. A expedição é aniquilada por Saladino, que se torna o grande vingador do Islão. A trégua de 1180 acaba.

1183-1184. Saladino ataca Alepo e devasta a Samaria e a Galileia.

1184. Advento de Abu Yusuf Ya'qub al-Mançur. Apogeu do império almóada..

1185. Assinatura de uma nova trégua de quatro anos entre Saladino e Balduíno IV.

1187. Guy de Lusignan torna-se rei de Jerusalém, depois do breve reinado de Balduíno V, impedindo a subida ao trono de Raimundo III de Tripoli, que se refugia em Tiberíade.

1187. Renaud de Châtillon ataca uma caravana que se dirigia para Meca, pondo fim à trégua acordada dois anos antes

1187, 4 de Julho. Desastre de Hattin, onde Guy de Lusignan é feito prisioneiro.

- Saladino volta a tomar Acre, Jafa, Cesareia, Sídon, Beirute e Ascalon.

1187, 20 de Setembro – 2 de Outubro. Cerco e tomada de Jerusalém pelos muçulmanos. O Santo Sepulcro é fechado e as mesquitas reabertas


A Terceira Cruzada
(1189 - 1192 - 1197)



1187. O arcebispo de Tiro prega a Cruzada.

1188. Frederico Barba-Roxa, imperador alemão, Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração de Leão, rei de Inglaterra, organizam uma Cruzada a pedido do papa Gregório VIII.

1188, 1 de Janeiro. Saladino abandona o cerco de Tiro, defendido por Conrado de Montferrat, marquês piemontês.

1188. Saladino conquistou todo o território franco, tirando Tripoli, Tiro e Antioquia.

1189. Guy de Lusignan, antigo rei de Jerusalém, preso por Saladino, é liberto e cerca São João de Acre.

1189, Maio. Frederico Barba-Roxa parte para a Terra Santa.

1190. Fundação da Ordem Teutónica.

1190, 18 a 20 de Maio. Frederico conquista Konya, capital do sultanato turco da Ásia Menor.

1190, 10 de Junho. Frederico afoga-se nas águas do Selef na Cilícia.

1190. A Cruzada alemã dirigida por Frederico da Suábia, filho de Barba-Roxa, dirige-se para S. João de Acre.

1190, 4 de Julho. Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão partem de Vézelay para a Palestina, passando pela Sicília, onde se demorarão seis meses.

1191, 20 de Abril. Filipe Augusto desembarca em São João de Acre.

1191, 6 de Maio a 6 de Junho. Ricardo Coração de Leão conquista Chipre aos Bizantinos, e dirige-se em seguida para São João de Acre.

1191, 12 de Julho. São João de Acre é reconquistada.

1191, 2 de Agosto. Filipe Augusto, rei de França, regressa à Europa.

1191, 7 de Setembro. Ricardo derrota Saladino no palmar de Arsouf.

1192. Guy de Lusignan, antigo rei de Jerusalem, recebe de Ricardo Coração de Leão a ilha de Chipre, enquanto feudo.

1192, 28 de Abril. Assassínio de Conrado de Monferrat, senhor de Tiro, rei consorte de Jerusalém, por dois membros da seita dos Assassinos.

1192, Maio. Henrique II de Champagne casa com Isabel, viúva de Conrado de Monferrat, e torna-se rei de Jerusalém.

1192, 1 e 5 de Agosto. Batalha de Jafa: vitória de Ricardo Coração de Leão sobre Saladino.

1192, 2 de Setembro. Paz de Jafa entre Saladino e Ricardo Coração de Leão: trégua de três anos. Os muçulmanos mantêm-se em Jerusalém, mas permitem as peregrinações ao Santo Sepulcro. Os cruzados ocupam uma faixa contínua de território de Tiro a Jafa.

1193, 3 de Março. Morte de Saladino em Damasco.

1194. Amaury de Lusignan sucede a Guy de Lusignan no trono de Chipre.

1197, 10 de Setembro. Henrique II de Champagne, rei de Jerusalem, tendo morrido acidentalmente, Amaury de Lusignan, rei de Chipre, casa com a sua viúva e torna-se rei sob a designação de Amaury ll.

1197, 24 de Outubro. Amaury II reconquista Beirute aos muçulmanos e assina a paz com Melik-al-Adel, sultão do Egipto e irmão de Saladino.



A Quarta Cruzada
(1202 - 1204 - 1212)


1198. O Papa Inocêncio III proclama a 4.ª cruzada, que será pregada por Foulques de Neuilly e dirigida por Bonifácio I de Montferrat e Balduíno IX de Flandres.

1200, Verão. Os barões reunidos em Compiègne nomeiam seis representantes, entre os quais Godofredo de Villehardouin, para negociar com a República de Veneza o transporte dos cruzados até à Terra Santa.

1201, começos. Tratado entre os cruzados e a República de Veneza, para o transporte de 33.500 combatentes até à Palestina, por 85.000 marcos de prata.

1201, 24 de Maio. Thibaud III de Champagne morre. A 4.ª cruzada perde um dos seus principais chefes.

1201, Agosto. Bonifácio, marquês de Monferrat, é escolhido para comandante da expedição.

1202, Verão. Os cruzados chegam a Veneza. Os combatentes e o dinheiro não são suficientes para cumprir o tratado acordado no ano anterior. O doge veneziano Enrico Dándolo propõe a tomada da cidade de Zara, como pagamento do transporte dos cruzados.

1202, Novembro. Conquista e pilhagem de Zara na costa ocidental dos Balcãs, na Dalmácia.

1203, Janeiro. Os cruzados recebem uma embaixada de Aleixo Ange, filho do imperador bizantino destronado Isaac ll. Em nome daquele propõem aos cruzados que reponham o basileus no trono em troca de uma ajuda financeira e material para prosseguir a cruzada.

1203, 17 de Julho. Primeira conquista de Constantinopla. O Imperador Isaac ll é restaurado.

1203, 1 de Agosto. Aleixo Ange é proclamado imperador associado, com o nome de Aleixo IV, e pede aos cruzados que prolonguem a sua estadia por mais um ano, para fortalecer a sua posição.

1203-1204, Inverno. As relações entre Francos e Bizantinos degradam-se sensivelmente, devido à falta de cumprimento do prometido por Aleixo IV.

1204, Fevereiro. Assassínio de Aleixo IV, sendo o pai deste afastado. Aleixo Doukas «Murzuphle», faz-se proclamar imperador, mas também não cumpre as promessas feitas aos cruzados por Aleixo IV.

1204,12 de Abril. Segunda tomada de Constantinopla pelos Francos. Pilhagem da cidade e massacre da população.

1204, 9 de Maio. Balduíno IX da Flandres é eleito imperador do Oriente. Torna-se Balduíno I de Constantinopla, dando origem ao Império Latino do Oriente.

1205, Abril. Morte de Amaury ll, rei de Jerusalém. Maria, filha de Isabel e de Conrado de Montferrat torna-se rainha. Devido a só ter 14 anos, a regência é confiada ao seu tio João de Ibelin, senhor de Beirute.

1210, 14 de Setembro. João de Brienne casa com Maria de Monferrat, rainha de Jerusalém. A 3 de Outubro o casal é consagrado enquanto rei e rainha de Jerusalém na catedral de Tiro.
1212. Cruzada das crianças. Milhares de rapazes e raparigas embarcam em Marselha. Os armadores dirigem-nos para Alexandria onde são vendidos como escravos.

- Uma coligação de forças cristãs vindas de todos os estados hispânicos, derrota os muçulmanos na Batalha de Navas de Tolosa. O reino almóada da Hispânia, existente desde 1145, desaparece.




A Quinta Cruzada
(1217-1221)

1215. Inocêncio III lança um novo apelo à cruzada durante o sermão de abertura do 4.° Concílio de Latrão. Será dirigida por João de Brienne, rei de Jerusalém e André II, rei da Húngria.

1216, Janeiro. Morte de Inocêncio III.

1217, Setembro. André II da Hungria e Leopoldo VI, duque da Áustria, desembarcam em Acre para apoiar as tropas reunidas por João de Brienne.

1217, Dezembro. Os Francos abandonam o cerco da fortaleza do monte Tabor.

1218, 29 de Maio. O exército de João de Brienne desembarca em Damieta.

1219. Primeira incursão dos Mongóis de Gengis-Khan contra territórios muçulmanos.

1219, Março. Os muçulmanos desmantelam as fortificações de Jerusalém.

1219, 5 de Novembro. Tomada de Damieta pelos cruzados. Fuga do sultão al-Kamil.

1220, 29 de Março. João de Brienne entra na Síria.

1221, fim de Junho. Pelágio, legado do Papa, decide conquistar o Cairo.

1221, 30 de Agosto. Derrota dos cristãos em Mansurá. Evacuação de Damieta.



A Sexta Cruzada
(1228-1244)

1225, Novembro. O imperador Frederico II de Hohenstaufen casa com Isabel de Jerusalém. João de Brienne, o sogro, deverá ceder-lhe a coroa.

1227, 28 de Setembro. Gregório IX excomunga Frederico II, que tarda a partir para a cruzada.

1228, 4 de Maio. Morte de Isabel de Jerusalém. Frederico continua a administrar o reino em nome do seu filho e herdeiro, o futuro Conrado IV

1228, Julho. Frederico II desapossa João de Ibelin do reino de Chipre.

1228, 7 de Setembro. Frederico II desembarca em São João de Acre.

1228, Novembro. Início da fortificação de Jafa.

1229, 11 de Fevereiro. Conclusão do tratado de Jafa, entre al-Malik al-Kamil e Frederico II, com recuperação de Jerusalém, Nazaré e Belém.

1229, 18 de Março. O imperador é coroado rei de Jerusalém no Santo Sepulcro.

1229, 1 de Maio. Frederico II é expulso de Acre por uma turba popular.

1232. Ivan (João) Asen II, rei dos búlgaros, cortou com Roma e tornou a igreja búlgara independente.

1235. Aliança de João Asen com o imperador bizantino de Niceia contra os Francos.

1237, Junho. 120 cavaleiros cruzados são massacrados pelos Alepinos.

1238, Março. Morte do sultão al-Kamil.

1239, Julho. Fim da trégua assinada entre Frederico II e al-Kamil.

1239,1 de Setembro. Desembarque em Acre da expedição dirigida por Thibaud IV de Champagne.

1239, 13 de Novembro. Derrota dos cruzados em Gaza. Reconquista de Jerusalém pelos muçulmanos.

1240. Aliança do malik de Damasco com os Francos, com devolução de Beaufort e Safed aos Latinos.

1240, Outubro. Chegada a Acre da cruzada inglesa dirigida por Ricardo da Cornualha.

1241, 23 de Abril. Paz de Áscalon, com devolução da Galileia, Jerusalém e Belém aos Francos.

1244, 23 de Agosto. Tomada definitiva de Jerusalém pelos Turcos Kharezmianos, que pilham o Santo Sepulcro.

1244, 17 de Outubro. Desastre de La Forbie: os Kharezmianos aniquilam o exército franco composto essencialmente por Cavaleiros Templários, Hospitalários e Teutónicos.

1247. Os Turcos reocupam Tiberíades e Áscalon.




A Sétima Cruzada
(1248-1250-1269)

1244, Dezembro. Luís IX de França, São Luís, decide partir em cruzada.

1245, Junho – Julho. Reunião do Concílio de Lyon, onde a nova cruzada é proclamada.

1248, 25 de Agosto. Os Franceses embarcam para a Cruzada. Chegaram a Chipre a 17 de Setembro, passando aí o Inverno.

1249, 5 de Junho. Luís IX desembarcam em Damieta, na costa mediterrânica do Egipto.

1249, 20 de Novembro. O exército cruzado dirige-se para o Sul em direcção ao Cairo.

1250, 12 de Fevereiro. Batalha de Mansurá. A vanguarda do exército é destruída, mas a vitória pertence aos cruzados.

1250, 5 de Abril. O exército cruzado começa a retirar para Damieta.

1250, 7 de Abril. Luís IX e o exército cruzado são feitos prisioneiros pelos Egípcios.

1250, 6 de Maio. Restituição de Damieta aos muçulmanos, por troca com o rei de França, Luís IX, sendo assinada uma trégua de dez anos.

1250 - 1254. O rei de França reorganiza a Palestina e a Síria.

1252. Luís IX estabelece uma aliança com os Mamelucos.

1254, 24 de Abril. Luís IX chega a França.

1258, Fevereiro. Os Mongóis tomam Bagdade. Extinção da dinastia dos Abássidas.

1260. Os Mongóis invadem Alepo, Damasco e Homs.

1260, Setembro. Tomada do poder pelo sultão mameluco Baibars. Governará até 1277.

1260, 3 de Setembro. Vitória dos Mamelucos sobre os Mongóis em Ain Jalud, depois de os Francos autorizarem os muçulmanos a atravessar os seus Estados para se colocarem na frente dos invasores tártaros.

1261, 25 de Julho. O exército grego do Império de Niceia, comandado por Aleixo Stragopulos, reconquista Constantinopla. O Império Latino do Oriente desaparece.

1265, 27 de Fevereiro. Tomada de Cesareia e Arsuf pelos Mamelucos.

1268. Os Francos perdem Jafa, Beaufort e Antioquia.

1269. Cruzada aragonesa dirigida pelos bastardos do rei de Aragão, Fernando Sanchez e Pedro Fernandez.









A Oitava Cruzada
(1270)

1270, Março. Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada.

1270, 2 de Julho. As tropas francesas deixam Aigues-Mortes.

1270,18 de Julho. Desembarque de Luís IX em Tunes, possivelmente por insistência de Carlos de Anjou, rei de Nápoles e da Sicília, irmão mais novo do rei de França. A peste dizima o exército cruzado.

1270, 25 de Agosto. Morte do rei.

1270, começo de Novembro. Afonso de Poitiers e as tropas francesas embarcam com intenção de se dirigirem à Síria.

1270, 15-16 de Novembro. A frota francesa é destruída por uma tempestade. A expedição não pode continuar caminho.



Fontes principais:

AAVV,
As Cruzadas (1096-1270),
Lisboa, Pergaminho, 2001

Tate, George,
L'Orient des Croisades,
Paris, Gallimard («Découvertes»), 1991

Heers, Jacques,
O Mundo Medieval,
Lisboa, Edições Ática, 1976

© Manuel Amaral 2000-2003

A expansão Árabe antes das Cruzadas (622-1089)

622. Maomé (570-632) é obrigado a sair de Meca, retirando-se para Medina (cidade do Profeta). Começo da Hégira (exílio), ponto de partida do calendário muçulmano (16 de Julho de 622).

630, 1 de Janeiro. Maomé regressa a Meca, após ter derrotado as forças de Meca e os seus aliados. A nova doutrina triunfa na Arábia.

632. Morte de Maomé em Medina. Abu Bakr é escolhido por aclamação como primeiro califa. Os falsos profetas são derrotados, e as tribos rebeldes derrotadas.

634 – 644. O califa Omar, o primeiro a usar o título de Amir al-Mu'minin (príncipe dos Fiéis), transforma o Estado nacional árabe num império teocrático internacional e estabelece uma administração militar. O chefe das tropas de ocupação transforma-se em governador civil, chefe religioso e juiz temporal.

634. Teodoro, irmão do imperador bizantino Heráclio, é derrotado em Ajnadayn, entre Gaza e Jerusalém, pelo exército árabe.

636. Derrota do exército bizantino em Yarmuk, ao sul do Lago Tiberíades.

638. O califa Omar apodera-se de Jerusalém. Conquista da Palestina e da Síria.

639-641. Conquista da Mesopotâmia, actual Iraque, pelos exércitos árabes.

642. Conquista do Egipto, negociada pelo patriarca de Alexandria. As condições acordadas garantiam a segurança de pessoas e bens, e a liberdade de culto para os cristãos. Fundação do Cairo (al-Fustât)

649. Conquista de Chipre.

655. Conquista de Cabul.

687. Começo da construção da mesquita de Omar em Jerusalém.

711. Invasão da Península Ibérica. Derrota de Rodrigo, último rei Visigodo de Espanha.

- Conquista da região do Indo (actual Paquistão e Afeganistão).

716 - 717. Cerco de Constantinopla

732. Batalha de Poitiers. Fim da expansão árabe na Europa.

747. Sublevação abássida no Kkorassan.

750. Derrota do último califa Omíada de Damasco na batalha do Grande Zab, na Pérsia revoltada pelos Chiitas.

750 – 1258. Dinastia Abássida (de Abbas, tio de Maomé), sedeada em Bagdade, cidade inteiramente nova construída nas margens do rio Tigre. Fundada por Abu al-Abbas.

755 – 1031. Emirado, e mais tarde Califado (929), Omíada de Córdova, na Península Ibérica. Fundado por Abd al-Rahman, fugido do massacre dos omíadas em Damasco.

c.800. Mercadores muçulmanos em Cantão. Fábrica de papel fundada em Bagdade.

809. Morte do califa Haroun al-Rachid, conhecido pelas Mil e Uma Noites. Apogeu do império árabe.

825. Ocupação da ilha de Creta pelos muçulmanos.

827. O Mu'tazilismo, escola do Islão clássico fortemente influenciada pelo racionalismo, é proclama doutrina oficial.

830. Primeiras peregrinações a Santiago de Compostela. Depois de se ter encontrado o túmulo em 813.

831. Conquista de Palermo, na Sicília, pelos Árabes

842. Conquista de Messina, na Sicília, e de Tarento, na Península Itálica, pelos Árabes

842 – 902. Conquista da Sicília pelos Árabes.

846. Incursão muçulmana em Roma.

857. Morre Muhâsibi, um dos primeiros mísiticos (Çufis).

864. Surge a doutrina do «encerramento das portas do raciocínio individual» em matéria de interpretação da Lei.

868-883. Revolta dos escravos negros (Zandj) no Baixo-Iraque.

869. Conquista árabe da ilha de Malta.

874. Nascimento do teólogo al-Ash'ari: conciliação do racionalismo mu'tazilita com o tradicionalismo sunnita.

875. Massacre dos comerciantes muçulmanos na China.

940 – 1258. O califado dos Abássidas deixa de ter qualquer importância política. Devido ás revoltas chiitas, e à incapacidade do califa, aparecem várias dinastias locais cujos príncipes tomam o título de califa.

960. Conversão ao Islão dos Turcos Qarakhânidas.

961. Reconquista de Creta pelos bizantinos.

962. Fundação da dinastia Ghaznévida, no Afeganistão, primeira dinastia turca no mundo muçulmano. Existirá até 1186.

- Os Bizantinos retomam Alepo.

969. Os Fatimidas, dinastia aparecida no Norte de África por volta de 910, apoderam-se do Egipto.

- Fundação do novo Cairo (al-Aâhira).

- Os Bizantinos voltam a ocupar Antioquia.

993. Nascimento de Ibn Hazm, poeta e teólogo andaluz: apologia da interpretação literal do Corão e da tradição.

996. Massacre de mercadores de Amalfi, porto no sul de Itália, no Cairo.

997. Incursão muçulmana contra S. Tiago de Compostela.

1009. O califa fatimida do Cairo, al-Hakim, manda destruir as igrejas de Jerusalém.

1017. Começo da pregação druza.

1019. Proclamação, pelo califado de Bagdade, de um credo de inspiração hanbalita, uma das quatro escolas do Islão sunnita, que se caracteriza pela sua atenção ao respeito da tradição corânica e profética. Uma 2.ª proclamação dá-se em 1042 e uma 3.ª em 1053.

1031. Fim do Califado de Córdova. As possesões muçulmanas da Península Ibérica são repartidas em principados (tawa'if), conhecidos por Taifas.

1035. Peregrinação a Jerusalém de Roberto, o Diabo (ou o Magnífico), duque da Normandia.

1036. Muçulmanos e Bizantinos concordam em reconstruir as igrejas cristãs de Jerusalém.

1040. Vitória dos Turcos Seljúcidas sobre os Ghaznévidas em Dandanaqan.

1043. Miguel Cerulário torna-se patriarca de Jerusalém.

1054, 25 de Julho. Cisma entre Roma e Constantinopla. Miguel Cerulário, excomungado pelo papa Leão IX, excomunga todos os latinos.

1055. Os Turcos seljúcidas conquistam Bagdade.

1062. O papa Alexandre II concede o perdão dos pecados a quem combater os muçulmanos.

1063. Cruzada de cavaleiros borgonheses à Península Ibérica. O exército cruzado conquista a cidade de Barbastro, em 1064, após 4 meses de cerco.

1064. O arcebispo Gunther de Maiença e os bispos Guilherme de Utrecht e Otto de Ratisbona organizam uma peregrinação de 7.000 pessoas a Jerusalém.

1071, 19 de Agosto. os Bizantinos são derrotados pelos Turcos Seljucidas em Manzikert.

cerca de 1080. Mercadores de Amalfi fundam, perto do Santo Sepulcro, o hospital de São João de Jerusalém, para recolher os peregrinos pobres.

- Fundação da seita muçulmana dos Assassinos.

1081. Aleixo Comneno, imperador do Oriente.

1082. Devido à ajuda prestada contra os Normandos, Veneza obtêm o direito de comerciar em todo o Império Bizantino, sem pagar direitos alfandegários

1084. Antioquia cai nas mãos dos Turcos.

1085. Os Normandos dominam a Sicília.

- Conquista de Toledo por Afonso VI de Castela.

1086. Afonso VI de Castela é vencido na batalha de Sagrajar pelos berberes almorávidas, chamados à Península Ibérica pelos reis muçulmanos das Taifas, devido à conquista de Toledo.

1086 – 1090. Peregrinação à Terra Santa do conde de Flandres, Roberto de Frison.

1087. Cruzada francesa a Espanha, organizada por Urbano II, e dirigida por Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse e Eudes I, duque da Borgonha.

1090. Conquista de Malta pelos Normandos.

- Os «Assassinos» apoderam-se do castelo de Alamute, na Pérsia.

1092. Os «Assassinos» matam o vizir Nizam al-Mulk..

Fontes principais:

AAVV,
As Cruzadas (1096-1270),
Lisboa, Pergaminho, 2001

Tate, George,
L'Orient des Croisades,
Paris, Gallimard («Découvertes»), 1991

Heers, Jacques,
O Mundo Medieval,
Lisboa, Edições Ática, 1976

O Grande Cisma da Igreja

Um Exame da Igreja Ortodoxa em sua Formação e nos Dias de Hoje

Introdução

O tema do nosso artigo é "O Grande Cisma da Igreja". Existem, na realidade dois episódios na história da igreja que disputam este título: O primeiro, que é o alvo do nosso exame, é a divisão ocorrida em 1054, no seio da igreja Cristã, entre a ala oriental e ocidental, que gerou a chamada Igreja Ortodoxa, ou Grega-ortodoxa. O outro cisma, algumas vezes classificado como "o grande", ocorreu séculos depois, em 1378 a 1417, quando a Igreja Católica teve dois papados - um em Roma e o outro na França.

Os acontecimentos na história da Igreja que vamos examinar, parecem apenas fruto de política e dissensão interna. No entanto, não podemos nos esquecer que o Islamismo surgiu exatamente alguns séculos antes do Grande Cisma. A ameaça externa dos seguidores de Maomé teve muito a ver com o desenrolar dos eventos. É, portanto, aconselhável que tenhamos uma boa compreensão histórica do Islamismo, pois desde o seu início ele tem se constituído numa das maiores ameaças ao cristianismo, como está demonstrado sem sombras de dúvidas, em nossos dias.
Queremos também compreender o gradual afastamento da igreja da singeleza doutrinária que marcou os escritos dos apóstolos e a igreja primitiva, nos primeiros séculos da era cristã.

1. O Império Romano que Não era Romano.

Vamos começar nosso estudo no ano 800 - um ano "redondo" mas crucial na história do mundo e da igreja. No Natal deste ano o papa Leão III coroou Carlos Magno como o primeiro imperador do Santo Império Romano. Acontece que esse império não era "romano" pois o poder imperial político de Roma não mais existia. A tentativa era estabelecer uma sucessão ao Império Romano e costurar uma aliança com a igreja, mas o centro do poder, agora, era a região que seria, mais tarde, conhecida como a Alemanha. Carlos Magno era o rei dos Francos - designação de várias tribos de "bárbaros" que habitavam a margem direita do rio Reno.

O papado estabeleceu uma aliança plena com o novo imperador - cada um exerceria o domínio em sua própria esfera e cooperariam com os interesses um do outro. Esse conceito teria reflexos a longo prazo na história da Europa. Durante o próximo milênio vários imperadores desfilaram os seus exércitos no solo europeu, esforçando-se para se estabelecerem como legítimos sucessores dos Césares romanos - até que, em 1806, Napoleão aboliu formalmente o "Santo Império Romano" - que, na época, virtualmente compreendia apenas a Alemanha.

Alguns anos antes em Constantinopla (onde atualmente encontramos a cidade de Istambul, na Turquia), o imperador Leão Isauriano confrontara o perigo dos exércitos islâmicos e fora bem sucedido em evitar uma invasão. O império bizantino foi se consolidando e, carregando consigo a ala oriental da igreja, expandiu sua influência desde a Grécia até a Arábia. Assim, na parte leste, ou oriental, a igreja era liderada por um patriarca, em Constantinopla (conhecida depois como ramo grego ortodoxo); e na parte oeste, ou ocidental, a liderança era exercida pelos papas, em Roma (conhecida depois como ramo católico romano).

2. No meio das conturbações políticas a Igreja se Expande.

Carlos Magno conseguiu controlar o território da França, Alemanha, Suíça e Itália. Seus três filhos não conseguiram manter a regência conjunta e o Império foi repartido e enfraquecido. Eventualmente, a Europa transformou-se em vários principados independentes e antagônicos entre si. Isso contribuiu para que o papado readquirisse alguma força política e geográfica. O período de 800 até o ano de 1073, entretanto, marca uma era de forte aliança entre igreja e estado com a chamada dinastia carolingiana. Nela o papado se desenvolveu e oscilou em poder na medida que os regentes políticos também oscilavam.

O Islamismo começou a mostrar-se também uma ameaça enorme para a igreja ocidental. Durante o papado de João VIII (872-882), por falta de socorro político e militar, ele teve que fazer um tratado humilhante com os maometanos. Para conserva-los longe de Roma, teve de concordar em pagar tributos a eles. Do ano 880 ao ano 1000, a Itália viveu um estado de quase anarquia e o papado refletia essa instabilidade. Já era grande a corrução na igreja e muitos indivíduos desqualificados ocuparam o papado. Por exemplo, no período de apenas 11 anos (882 a 903) existiram 12 papas. Um dos últimos papas desse período, Benedito IX, assumiu o ofício aos doze anos e cometeu muitos desmandos. Surpreendentemente, entretanto, a igreja estendia sua influência territorial atingindo até a Islândia. Nesse período, também, a Boêmia, Hungria e a Polônia se tornaram nações católicas.

Enquanto isso, o ramo oriental da igreja, que tinha a sua sede em Constantinopla, ia se afastando cada vez mais da ala ocidental, enquanto também se expandia, avançando até ao norte. Em 988 o rei Vladimir, da Rússia, foi batizado. Nas duas frentes, a igreja aumentava sua influência política e os dois ramos iam adquirindo características peculiares e diferenciadas entre si.

3. A situação doutrinária e prática das igrejas, no início do segundo milênio.

No início do segundo milênio da Era Cristã, tanto a igreja católica ocidental, liderada por Roma, como a ala oriental, liderada por Constantinopla, já havia incorporado em suas práticas e liturgias vários pontos que seriam questionados de forma incisiva pela Reforma do século XVI. É interessante notarmos, entretanto, que muitas dessas práticas sofreram contestação ao longo de suas introduções e várias deram lugar à separação entre o leste e o oeste, culminando, em 1054, no Grande Cisma.

Desde o ano de 867 circulavam, na igreja oriental, relações de práticas da igreja ocidental romana que eram doutrinariamente contestadas pela ala do leste. Mas a relação mais importante foi escrita pelo patriarca Cerulárius no ano de 1054. Ela era, na realidade, uma reação a uma relação de erros da igreja oriental, que havia sido enviada pelo papa Leão IX, pelo cardeal Humberto. A lista de Cerulárius continha, entre outras coisas: condenava o uso de pão fermentado na eucaristia; condenava a aprovação de qualquer carne para alimentação; condenava a permissão de se barbear; rejeitava as adições sobre o Espírito Santo ao Credo Niceno; condenava o celibato clerical; condenava a permissão de se; etc., etc. No final Cerulárius escreveu: "Portanto, se eles vivem dessa maneira, enfraquecidos por esses costumes; ousando praticar essas coisas que são obviamente fora da lei, proibidas e abomináveis; então poderá qualquer pessoa, em seu juízo são, incluí-los na categoria de ortodoxos? Claro que não".

No final, Humberto, comissionado pelo papa, excomungou Cerulários e Cerulárius excomungou Humberto e o papa, e estava sacramentado o Grande Cisma de 1054.

4. As seis razões principais para o Grande Cisma.
O Cisma, entretanto, não ocorreu em cima de um incidente específico, mas sacramentou uma divisão de doutrina, interesses e estilos que já vinha sendo consolidada ao longo dos últimos séculos. Vejamos seis razões principais para ele ter ocorrido:

A primeira razão foi a controvérsia iconoclástica - que quer dizer uma discordância contra a utilização de imagens. O imperador Leão Iasuriano, no ano 726, emitiu um primeiro decreto contra a utilização de imagens na adoração. Nessa ocasião, isso já era uma prática crescente, trazida do paganismo para o seio da igreja. Ocorre que o Islamismo exerceu intensa pressão, pois acusava a igreja de politeísta. Leão agia por pressão e medo dos maometanos, bem mais do que por convicção. Ele foi apoiado pelo patriarca de Constantinopla, que representava o ramo oriental da igreja, e por muitos da alta hierarquia católica. A maioria dos monges e o povo, em geral, discordavam da proibição e incentivavam a continuidade da utilização de ídolos. O papa Gregório II, em Roma, considerou a proibição uma interferência política (oriunda de Constantinopla) nos assuntos da igreja - especialmente porque ele, distanciado dos maometanos, em Roma, não sentia o problema de perto. O culto às imagens teve livre curso na igreja católica. Criou-se, então, a partir daí uma divisão marcada entre o leste e o oeste. O ponto curioso é que, cerca de 125 depois, a igreja ortodoxa dissociou-se dos que queriam a abolição dos ídolos e adotou uma iconografia pródiga - ou seja, o uso amplo de ilustrações e pinturas na liturgia e na adoração.

A segunda razão foi um conflito com a doutrina da "processão" do Espírito Santo. O Concílio de Nicéia, reafirmando a doutrina do Espírito Santo, havia indicado que Deus Pai havia enviado o Filho e o Espírito Santo. Posteriormente, um sínodo realizado na cidade de Toledo, procurou esclarecer a frase indicando que o Espírito Santo procedia tanto do Pai como do Filho (essa inserção é chamada de cláusula filioque - Latin para "e do filho"). Essa declaração substancia aquilo que entendemos como subordinação econômica, ou seja - enquanto as três pessoas da trindade se constituem em uma só pessoa divina e são iguais em poder, prerrogativas e essência (chamamos isso de trindade ontológica) - no relacionamento com a criação elas se auto-impõem funções diferentes. Nesse sentido, dizemos que existe diferenciação de atividades e eventual subordinação no plano de salvação: o Pai envia; o Filho executa; o Espírito Santo, procedendo tanto do Pai como do Filho, aplica, revela e glorifica ao Filho - não fala de si mesmo (João16.13-14). A ala oriental da igreja, já destacando-se com uma ênfase mística, não aceitava as afirmações sobre o Espírito Santo como uma expressão do trabalho e da pessoa de Cristo, conforme o Credo do Concílio de Nicéia, ampliado em Toledo, veio a ser aceito pela igreja do oeste.

A terceira razão , foi uma falta de predisposição tanto do papa, em Roma, como do Patriarca, em Constantinopla, de se submeterem um ao outro. Até o século nono todos os papas eleitos, em Roma, procuravam confirmação e concordância de suas eleições junto ao Patriarca de Constantinopla - assim procurava manter-se a unidade da ala oriental da igreja, com a ocidental. Gregório III, entretanto, foi o último papa a obter tal confirmação. Em 781 os papas deixaram de mencionar o nome do imperador de Constantinopla em seus documentos.

A quarta razão , é que não existiam limites muito bem estabelecidos, com relação às áreas que deveriam ser regidas por Roma ou por Constantinopla. Os poderes se confundiam, as hierarquias se mesclavam. Isso resultava em constantes fricções relacionadas com a jurisdição de cada ala.

A quinta razão representa as diferenças culturais existentes entre o oriente e o ocidente. Tais diferenças sempre prejudicaram o entendimento e a cooperação entre as duas alas. Pouco a pouco, as diferenças culturais foram se incorporando na liturgia. A igreja oriental foi ficando cada vez mais introspectiva, monástica e mística. A igreja ocidental, mais inovadora e eclética na absorção de práticas pagãs.

A sexta razão é que a igreja oriental se colocava sob o Imperador que regia em Constantinopla, enquanto que a igreja ocidental, naquela ocasião, reivindicava independência da ação do estado e o direito de exercitar regência moral sobre os reis e governantes.

Assim, no ano de 1054 a bula papal de excomunhão do Patriarca foi depositada no altar de Santa Sofia, em Constantinopla. Houve retaliação por parte do patriarca de Constantinopla e o Cisma estava configurado. A partir daí a história se divide e passamos a acompanhar muito mais a história da igreja romana, do que a da igreja Grega Ortodoxa e de suas variações e ramos (Russa Ortodoxa, Maronitas, etc.)

5. A Igreja Ortodoxa Hoje.

A Igreja Ortodoxa é um ajuntamento de igrejas auto-governadas. Elas são administrativamente independentes e possuem vários ramos, embora todas reconheçam a preeminência espiritual do Patriarca de Constantinopla. Elas mantêm comunhão, umas com as outras, embora a vida interna de cada igreja independente seja administrada por seus bispos. Atualmente, existem Igrejas Ortodoxas da Rússia, da Romênia, da Sérvia, da Bulgária, da Geórgia, do Chipre, dos Estados Unidos, etc.
Algumas características doutrinárias e litúrgicas marcam as Igrejas Ortodoxas com mais intensidade:

Tradição : A Igreja Ortodoxa dá enorme importância à tradição. Uma das igrejas, aqui no Brasil, coloca em sua literatura, que "Tradição é a chave para a auto-compreensão". Na compreensão da doutrina da Igreja Ortodoxa, o Espírito Santo inspira não somente a Bíblia, mas também a "tradição viva da igreja".

Misticismo : A Igreja Ortodoxa desenvolveu-se com características bem mais místicas e subjetivas do que o ramo ocidental. Um texto dela diz: " A espiritualidade ortodoxa é, de fato, caracteristicamente monástica, o que significa que todo o cristão ortodoxo tende para a vida monástica".

Ícones : Como já vimos, ironicamente, apesar da ala oriental ter se posicionado contra o culto às imagens, no século oitavo, quando chegou a ocasião do Grande Cisma, ela já havia retornado à prática de veneração e adoração dos ícones. Existem algumas diferenças, com relação à Igreja Romana: Ela só aceita pinturas bidimensionais; imagens tridimensionais são rejeitadas. Essas pinturas devem sempre conter algum elemento místico, como, por exemplo, um halo, ou algo que identifique a divindade; elas não devem simplesmente retratar semelhança humana. Há uma predominância, nas imagens de cenas do nascimento de Cristo, dele com Maria, etc. Tais imagens são beijadas repetidamente pelos fiéis.

Liturgia Rebuscada : A Igreja Ortodoxa se orgulha da "beleza" de sua liturgia. Na realidade, existe um intenso ritualismo e formalismo, na sua adoração. Uma grande aproximação com o formalismo da missa católico romana.

6. Uma Rápida Avaliação da Igreja Ortodoxa.

A importância dada à tradição, não somente diminui a importância da Palavra de Deus, na vida das pessoas e da própria igreja, como chega a subordinar a Bíblia à tradição. Ela afirma que as verdades da salvação são "preservadas na Tradição viva da Igreja" e que as Escrituras são "o coração da tradição". Nesse sentido, consideram também que as suas doutrinas e a "Fé Apostólica" têm sido, no seio da Igreja Ortodoxa, "incólume transmitida aos santos".

Uma publicação da Igreja Ortodoxa diz, textualmente: "As fontes de onde extraímos a nossa Fé Ortodoxa são duas: a Sagrada Escritura e Santa Tradição". Isso contradiz frontalmente a compreensão reformada das Escrituras - Sola Scriptura (somente as Escrituras) foi um dos pilares da Reforma do Século XVI. Nesse sentido, a Igreja Ortodoxa se aproxima muito da Católica Romana.

A Igreja Ortodoxa abriga a idolatria. A alta consideração dada aos ícones, os rituais de beijos e afeição e a sua ampla utilização na vida diária de devoção, demonstram que por mais que se declare uma simples "veneração", não há diferença prática da mera adoração a tais imagens. A rejeição às estátuas não basta para eliminar o câncer da idolatria que persegue a mente carnal, desviando os olhos da intermediação única de Cristo e da simplicidade do culto que deve ser prestado, em espírito e em verdade. Uma publicação da Igreja Ortodoxa diz: "dentro da tradição ortodoxa a palavra ícone assumiu o significado de imagem sagrada". Vemos como a tradição gera a idolatria condenada pela Palavra (Is. 44.9-20)

A visão da Igreja Ortodoxa sobre a pessoa do Espírito Santo, considerando sua obra quase que independente da obra de Cristo, levou ao desenvolvimento de um misticismo que tem a "aparência de piedade", mas que na realidade desvia o foco da pessoa de Cristo Jesus, nosso único mediador entre Deus e os homens. Nesse sentido, ela se aproxima muito de certos segmentos da igreja evangélica contemporânea que têm procurado transformar a fé cristã e a prática litúrgica extraída da Bíblia, em representações místicas da atuação do Espírito, segundo conceitos humanos.

É verdade que a Igreja ortodoxa não aceita a supremacia do papa, e algumas outras práticas da igreja de Roma, mas de uma forma genérica, ela abriga dentro de si muitos dos pontos errados que foram contestados pela Reforma, por terem sido meros frutos do tradicionalismo e não de uma exegese sólida da Palavra de Deus. A Igreja Ortodoxa se orgulha em pregar a unidade, apontando-se a si mesma como a igreja apostólica real, mas a verdadeira unidade se forma ao redor das doutrinas cardeais da fé cristã e não pela tradição.

Leitura adicional sugerida:
Momentos Decisivos na História do Cristianismo; Mark A. Knoll, trad. de Alderi Matos (S.Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998)


Examinando e Expondo a Palavra de Deus aos Nossos Dias:

Isaías 1:18-20 "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse."

Atos 17:2-3 "Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio."

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