sexta-feira, 5 de junho de 2009

CRONOLOGIA DAS CRUZADAS

A Primeira Cruzada e os novos estados da Terra Santa,
(1096 - 1099 - 1143)


Pedro, o Eremita discursa aos cruzados
diante de Jerusalém.

1095, começos. Aleixo I Comneno, imperador bizantino, envia uma embaixada ao papa Urbano II, para lhe pedir ajuda.

1095, Primavera. O papa Urbano II inicia a sua viagem a França.

1095, 18 de Novembro. Abertura do Concílio de Clermont.

1095, 26 de Novembro. Urbano II lança o seu apelo à Cruzada.

1096, Abril. Partida da Cruzada popular dirigida por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans Avoir. Massacres de judeus na Renânia.

1096, 6 de Julho. Concílio de Nimes: Urbano II confia a Raimundo de Saint-Gilles o comando de uma das expedições à Terra Santa.

1096, 1 de Agosto. A Cruzada popular chega a Constantinopla.

1096, Verão. Partida da Cruzada dos barões (Godofredo de Bulhão; Raimundo IV conde de Toulouse; Boemundo de Tarento; Estêvão conde de Blois; Tancredo de Hauteville e Roberto II conde da Flandres). O imperador alemão, Henrique IV, e o rei de França, Filipe I, estando excomungados, não puderam dirigir a Cruzada.

1096, 21 de Outubro. As tropas turcas e búlgaras do sultão de Niceia, Kilij Arslan, aniquilam a Cruzada popular na Anatólia. Pedro, o Eremita escapa ao massacre e foge para Constantinopla.

1096, 23 de Dezembro. Chegada de Godofredo de Bulhão a Constantinopla. O imperador de Bizâncio exige, e obtém, após muitas recusas, a promessa de restituição das terras e das cidades retomadas aos muçulmanos, e a aceitação da sua suserania sobre as novas conquistas.

1097, fim de Abril. O exército dos barões abandona Constantinopla, passando para a Ásia Menor.

1097, Maio. Tiro cai nas mãos dos Fatimidas do Egipto.

1097, Junho. Tomada de Niceia pelos cruzados, restituída a Bizâncio.

1097, 1 de Julho. Vitória franca contra o sultão turco de Iconium (Konya), em Dorileia.

1097, 13 de Setembro. Os cruzados dividem o exército em dois forças em Heracleia.

1097, 20 de Outubro. Chegada dos cruzados a Antioquia, e começo do cerco.

1097, 15 de Novembro. Balduíno de Bolonha abandona o campo dos cruzados e toma a direcção de Edessa, devido ao pedido de apoio do príncipe arménio da cidade.

1098, Fevereiro. Os Bizantinos abandonam o cerco de Antioquia. Balduíno chega a Edessa.

1098, Março. Balduíno de Bolonha proclama-se príncipe de Edessa, após a morte de Thoros, príncipe arménio, que lhe tinha pedido ajuda e o tinha adoptado. Funda assim o primeiro Estado Latino do Oriente.

1098, 3 de Junho. Tomada de Antioquia pelos Cruzados. Boemundo I de Tarento, chefe dos normandos da Itália meridional, recusa devolvê-la aos bizantinos e proclama-se príncipe de Antioquia.

1098, 4 de Junho. Os cruzados são cercados em Antioquia por um exército de socorro, comandado por Kerbogha, enviado pelo Sultanato seljúcida da Pérsia.

1098, 14 de Junho. Pedro Bartolomeu descobre a Santa Lança debaixo das lajes de uma igreja de Antioquia.

1098, 28 de Junho. Os cruzados de Antioquia derrotam as forças sitiantes muçulmanas.

1098, 26 de Agosto. Os Fatimidas ocupam Jerusalém.

1098,12 de Dezembro. Os cruzados apoderam-se de Maarat An Noman, na Siria. A população é massacrada e a cidade destruída.

1099, 13 de Janeiro. Os Francos retomam a sua marcha para Jerusalém.

1099, 2 de Fevereiro. O exército passa por Qal'at-al-Hosn, o futuro Krak dos Cavaleiros.

1099, 7 de Junho. O exército franco chega a Jerusalém.

1099, 13 de Junho. Primeiro assalto à cidade, sem qualquer preparação prévia, que falha.

1099, 10 de Julho. Assalto a Jerusalém. A muralha circundante é atravessada.

1099, 15 de Julho. Conquista de Jerusalém pelos cruzados. Massacre da população muçulmana e judia.

1099, 12 de Agosto. Os Francos derrotam os Egípcios em Ascalon, na costa mediterrânica, a norte de Gaza.

1099, 22 de Julho. Eleito rei de Jerusalém pelos barões, Godofredo de Bulhão só aceita o título de defensor do Santo Sepulcro.

1099, 1 de Agosto. Arnoul Malecorne, patriarca de Jerusalém. É substituído em 31 de Dezembro por Daimbert, bispo de Pisa, legado do papa.

1100. Acordo comercial entre Veneza e o Reino Franco de Jerusalém.

1100, 18 de Julho. Morte de Godofredo de Bulhão. Balduíno de Bolonha, irmão de Godofredo, príncipe de Edessa, é coroado primeiro rei de Jerusalém em Belém, no dia 25 de Dezembro.

1100-1101. Cruzadas de socorro. Cruzada lombarda (1) dirigida pelo arcebispo de Milão, Anselmo du Buis, Raimundo de Saint-Gilles, Estêvão-Henrique, conde de Blois, Estêvão, conde da Borgonha e o primeiro oficial do Santo Sepulcro, Conrado. Cruzadas de Nevers (2) e da Aquitânia (3). Nenhuma delas consegue atravessar a Ásia Menor, sendo sucessivamente vencidas por uma coligação dos diferentes potentados turcos da Anatólia.

1101, Março. Tancredo de Hauteville, um dos chefes da primeira Cruzada, abandona Jerusalém regressando ao Ocidente por Antioquia.

1101, 17 de Maio. Os Francos tomam Cesareia.

1102. Raimundo de Saint-Gilles toma Tortosa.

- Vitória de Balduíno em Ramla.

1103. Início do cerco de Trípoli pelos Francos.

1104, 7 de Maio. Derrota dos Francos em Harran: Balduíno du Bourg é feito prisioneiro. Paragem do avanço da Cruzada na Mesopotâmia, que se dirigia para Mossoul, no rio Tigre.

1104, 26 de Maio. Os cruzados tomam Acre com a ajuda de uma esquadra genovesa.

1105, 28 de Fevereiro. Raimundo de Saint-Gilles morre em Mont-Pèlerin, durante o cerco de Trípoli. É sucedido por Bertrand de Saint-Gilles.

1105-1113. Os «Assassinos» redobram de actividade.

1108. Conflito entre Tancredo e Balduíno du Bourg a propósito da restituição de Antioquia a este último.

1109, Julho. Trípoli cai na mão dos Francos. O conde Bertrand conquista finalmente a cidade de que é titular.

1110. Conquista do Castelo Branco (Safita) e do Krak dos Cavaleiros.

1111. Mawdud, emir ortoqida de Mossul, ataca os Francos, e massacra a população de Edessa quando esta se dirigia para a margem ocidental do rio Eufrates.

1113. Bula do papa Pascoal II reconhecendo oficialmente a ordem do Hospital de São João de Jerusalém.

1115. Conquista pelos francos do castelo de Shawbak (Montréal), a sul do Mar Morto.

1118. Morte do imperador Aleixo Comneno; a sua filha Ana começa a redacção da Alexíada.

1118, Abril. Morte de Balduíno I; sucede-lhe Balduíno du Bourg.

1119. Batalha de «Ager sanguinis» (do campo de sangue). O emir el Ghazi, de Diyarbakir aniquila o exército franco de Antioquia, pertp de Atareb.

1119-1120. Nove cavaleiros ocidentais fundam, em Jerusalém, a Milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo (Futura Ordem do Templo).

1123, 29 de Maio. Os Egípcios são derrotados em Ibelin pelo primeiro oficial do rei, Eustáquio Garnier, regente do reino durante o cativeiro de Balduíno II.

1124, 7 de Julho. Tomada de Tiro pelos cruzados.

1129, Janeiro. Concílio de Troyes: a Ordem do Templo é oficialmente reconhecida pelo papa Honório III.

1129, 18 de Junho. Zinki instala-se em Alepo; faz apelo à Jihad contra os Francos.

1131, 14 de Setembro. Morte de Balduíno II; Foulques V, de Anjou, rei de Jerusalém.

1135. O Hospital de São João de Jerusalém transforma-se em ordem militar.

1142. O Krak dos Cavaleiros é cedido aos Hospitalários de São João.

1143, 25 de Dezembro. Zinki, atabaque de Alepo e de Mossul, toma Edessa.


A Segunda Cruzada e o aparecimento de Saladino,
(1147 - 1149 - 1189)


©Bibliotheque Nationale de France

O rei de França Luís VII e o imperador Conrado III partem para a Segunda Cruzada.

1145, 14 de Dezembro. O Papa Eugénio III proclama a 2.ª Cruzada.

1146, 31 de Março. Sermão de São Bernardo de Claraval na basílica de Vézelay, a pregar a Cruzada.

1146, 15 de Setembro. O atabaque de Alepo, Zinki é assassinado pelos seus pajens. O reino de Edessa é partilhado pelos seus dois filhos, Ghazi e Nur ed-Din.

1146, 27 de Outubro – 3 Novembro. Jocelino II reocupa Edessa.

1146, 25-27 de Dezembro. São Bernardo de Claraval ordena a Conrado III, imperador alemão, que dirija a cruzada.

1147. Partida do rei de França, Luís VII, e de Conrado III para a Palestina.

1147, 4 de Outubro. Luís VII chega a Constantinopla.

1147, 26 de Outubro. Os cruzados alemães, abandonados pelos bizantinos, são esmagados em Dorileia.

1148, Março. Luís VII desembarca em Antioquia.

1148, 23 de Julho. As tropas francesas, os sobreviventes da cruzada alemã e os cavaleiros da Terra Santa põem cerco a Damasco. Abandonam-no cinco dias depois, sem terem conseguido conquistar a cidade.

1149, Primavera. Luís VII e Conrado regressam a França. A Segunda Cruzada falha e o mito da invicibilidade dos Francos é destruído.

1149, 29 de Junho. Nur ed-Din derrota os francos em Ma'arra, e mata Raimundo de Poitiers.

1150. Perante a ameaça muçulmana, Balduíno III abandona Turbessel e outras fortalezas do Norte do reino de Jerusalém.

1153, 19 de Agosto. Os Francos tomam Ascalon, que lhes resistia desde a Primeira Cruzada.

1153, 20 de Agosto. São Bernardo morre no mosteiro cistercense de Claraval, de que era abade desde 1115.

1154. Nur ed-Din entra em Damasco.

1155. Ataque normando contra Alexandria, no Egipto.

1155-1156. Renaud de Châtillon, príncipe de Antioquia, põe Chipre a saque.

1158. Harim é retomada por Balduíno III.

1159. O Príncipe de Antioquia reconhece o Imperador Bizantino como seu suserano.

- Os Francos com a ajuda dos Bizantinos põem cerco a Alepo.

- Os Bizantinos fazem a paz com Nur ed-Din.

1162, 10 de Janeiro. Morte de Balduíno III. O seu sobrinho, Amaury I sobe ao trono de Jerusalém.

1164. Amaury I cerca Pelusa, mas tem que levantar o cerco porque Nur ed-Din retoma Harim.

1167. Amaury I, rei de Jerusalém, ocupa o Cairo.

1168. Expedição de Amaury I ao Egipto, que fracassa

- Nur ed-Din reocupa o Cairo.

1169. Saladino (Salah ed-Din), fundador da dinastia curda dos Ayyubidas, é nomeado vizir do Egipto por Nur ed-Din, califa de Damasco.

1170. Amaury I bate Nur ed-Din no Mar Morto e Saladino em Gaza.

1171. Saladino suprime o califado fatimida do Cairo. A divisão dos muçulmanos entre o califado de Damasco e o califado do Cairo desaparece.

1173. Saladino manda construir uma nhanqab (convento) no Cairo. Adopta o título de malik - rei - e ocupa o Alto Egipto e envia uma expedição ao Iémen.

1174, 15 de Maio. Morte de Nur ed-Din. Saladino apodera-se do poder na Síria.

- Morte de Amaury I. Começo do reinado de Balduíno IV.

1176. Os Turcos seljucidas do Rum aniquilam o exército bizantino do imperador Manuel Comneno em Myriocéfalo.

- Saladino começa a construção da grande cidadela do Cairo.

1177. Cruzada dirigida pelo conde da Flandres, Filipe da Alsácia.

1177, 25-26 de Novembro. Saladino é derrotado em Montgisard por Balduíno IV.

1179. Saladino ataca Tiro.

1180. Saladino e Balduíno IV assinam uma trégua.

1182, Agosto. Saladino ataca Nazaré e Tiberíade e tenta tomar Beirute para dividir em dois os Estados latinos.

- Massacre de Latinos em Constantinopla.

1183. Expedição de Renaud de Châtillon contra Medina. A expedição é aniquilada por Saladino, que se torna o grande vingador do Islão. A trégua de 1180 acaba.

1183-1184. Saladino ataca Alepo e devasta a Samaria e a Galileia.

1184. Advento de Abu Yusuf Ya'qub al-Mançur. Apogeu do império almóada..

1185. Assinatura de uma nova trégua de quatro anos entre Saladino e Balduíno IV.

1187. Guy de Lusignan torna-se rei de Jerusalém, depois do breve reinado de Balduíno V, impedindo a subida ao trono de Raimundo III de Tripoli, que se refugia em Tiberíade.

1187. Renaud de Châtillon ataca uma caravana que se dirigia para Meca, pondo fim à trégua acordada dois anos antes

1187, 4 de Julho. Desastre de Hattin, onde Guy de Lusignan é feito prisioneiro.

- Saladino volta a tomar Acre, Jafa, Cesareia, Sídon, Beirute e Ascalon.

1187, 20 de Setembro – 2 de Outubro. Cerco e tomada de Jerusalém pelos muçulmanos. O Santo Sepulcro é fechado e as mesquitas reabertas


A Terceira Cruzada
(1189 - 1192 - 1197)



1187. O arcebispo de Tiro prega a Cruzada.

1188. Frederico Barba-Roxa, imperador alemão, Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração de Leão, rei de Inglaterra, organizam uma Cruzada a pedido do papa Gregório VIII.

1188, 1 de Janeiro. Saladino abandona o cerco de Tiro, defendido por Conrado de Montferrat, marquês piemontês.

1188. Saladino conquistou todo o território franco, tirando Tripoli, Tiro e Antioquia.

1189. Guy de Lusignan, antigo rei de Jerusalém, preso por Saladino, é liberto e cerca São João de Acre.

1189, Maio. Frederico Barba-Roxa parte para a Terra Santa.

1190. Fundação da Ordem Teutónica.

1190, 18 a 20 de Maio. Frederico conquista Konya, capital do sultanato turco da Ásia Menor.

1190, 10 de Junho. Frederico afoga-se nas águas do Selef na Cilícia.

1190. A Cruzada alemã dirigida por Frederico da Suábia, filho de Barba-Roxa, dirige-se para S. João de Acre.

1190, 4 de Julho. Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão partem de Vézelay para a Palestina, passando pela Sicília, onde se demorarão seis meses.

1191, 20 de Abril. Filipe Augusto desembarca em São João de Acre.

1191, 6 de Maio a 6 de Junho. Ricardo Coração de Leão conquista Chipre aos Bizantinos, e dirige-se em seguida para São João de Acre.

1191, 12 de Julho. São João de Acre é reconquistada.

1191, 2 de Agosto. Filipe Augusto, rei de França, regressa à Europa.

1191, 7 de Setembro. Ricardo derrota Saladino no palmar de Arsouf.

1192. Guy de Lusignan, antigo rei de Jerusalem, recebe de Ricardo Coração de Leão a ilha de Chipre, enquanto feudo.

1192, 28 de Abril. Assassínio de Conrado de Monferrat, senhor de Tiro, rei consorte de Jerusalém, por dois membros da seita dos Assassinos.

1192, Maio. Henrique II de Champagne casa com Isabel, viúva de Conrado de Monferrat, e torna-se rei de Jerusalém.

1192, 1 e 5 de Agosto. Batalha de Jafa: vitória de Ricardo Coração de Leão sobre Saladino.

1192, 2 de Setembro. Paz de Jafa entre Saladino e Ricardo Coração de Leão: trégua de três anos. Os muçulmanos mantêm-se em Jerusalém, mas permitem as peregrinações ao Santo Sepulcro. Os cruzados ocupam uma faixa contínua de território de Tiro a Jafa.

1193, 3 de Março. Morte de Saladino em Damasco.

1194. Amaury de Lusignan sucede a Guy de Lusignan no trono de Chipre.

1197, 10 de Setembro. Henrique II de Champagne, rei de Jerusalem, tendo morrido acidentalmente, Amaury de Lusignan, rei de Chipre, casa com a sua viúva e torna-se rei sob a designação de Amaury ll.

1197, 24 de Outubro. Amaury II reconquista Beirute aos muçulmanos e assina a paz com Melik-al-Adel, sultão do Egipto e irmão de Saladino.



A Quarta Cruzada
(1202 - 1204 - 1212)


1198. O Papa Inocêncio III proclama a 4.ª cruzada, que será pregada por Foulques de Neuilly e dirigida por Bonifácio I de Montferrat e Balduíno IX de Flandres.

1200, Verão. Os barões reunidos em Compiègne nomeiam seis representantes, entre os quais Godofredo de Villehardouin, para negociar com a República de Veneza o transporte dos cruzados até à Terra Santa.

1201, começos. Tratado entre os cruzados e a República de Veneza, para o transporte de 33.500 combatentes até à Palestina, por 85.000 marcos de prata.

1201, 24 de Maio. Thibaud III de Champagne morre. A 4.ª cruzada perde um dos seus principais chefes.

1201, Agosto. Bonifácio, marquês de Monferrat, é escolhido para comandante da expedição.

1202, Verão. Os cruzados chegam a Veneza. Os combatentes e o dinheiro não são suficientes para cumprir o tratado acordado no ano anterior. O doge veneziano Enrico Dándolo propõe a tomada da cidade de Zara, como pagamento do transporte dos cruzados.

1202, Novembro. Conquista e pilhagem de Zara na costa ocidental dos Balcãs, na Dalmácia.

1203, Janeiro. Os cruzados recebem uma embaixada de Aleixo Ange, filho do imperador bizantino destronado Isaac ll. Em nome daquele propõem aos cruzados que reponham o basileus no trono em troca de uma ajuda financeira e material para prosseguir a cruzada.

1203, 17 de Julho. Primeira conquista de Constantinopla. O Imperador Isaac ll é restaurado.

1203, 1 de Agosto. Aleixo Ange é proclamado imperador associado, com o nome de Aleixo IV, e pede aos cruzados que prolonguem a sua estadia por mais um ano, para fortalecer a sua posição.

1203-1204, Inverno. As relações entre Francos e Bizantinos degradam-se sensivelmente, devido à falta de cumprimento do prometido por Aleixo IV.

1204, Fevereiro. Assassínio de Aleixo IV, sendo o pai deste afastado. Aleixo Doukas «Murzuphle», faz-se proclamar imperador, mas também não cumpre as promessas feitas aos cruzados por Aleixo IV.

1204,12 de Abril. Segunda tomada de Constantinopla pelos Francos. Pilhagem da cidade e massacre da população.

1204, 9 de Maio. Balduíno IX da Flandres é eleito imperador do Oriente. Torna-se Balduíno I de Constantinopla, dando origem ao Império Latino do Oriente.

1205, Abril. Morte de Amaury ll, rei de Jerusalém. Maria, filha de Isabel e de Conrado de Montferrat torna-se rainha. Devido a só ter 14 anos, a regência é confiada ao seu tio João de Ibelin, senhor de Beirute.

1210, 14 de Setembro. João de Brienne casa com Maria de Monferrat, rainha de Jerusalém. A 3 de Outubro o casal é consagrado enquanto rei e rainha de Jerusalém na catedral de Tiro.
1212. Cruzada das crianças. Milhares de rapazes e raparigas embarcam em Marselha. Os armadores dirigem-nos para Alexandria onde são vendidos como escravos.

- Uma coligação de forças cristãs vindas de todos os estados hispânicos, derrota os muçulmanos na Batalha de Navas de Tolosa. O reino almóada da Hispânia, existente desde 1145, desaparece.




A Quinta Cruzada
(1217-1221)

1215. Inocêncio III lança um novo apelo à cruzada durante o sermão de abertura do 4.° Concílio de Latrão. Será dirigida por João de Brienne, rei de Jerusalém e André II, rei da Húngria.

1216, Janeiro. Morte de Inocêncio III.

1217, Setembro. André II da Hungria e Leopoldo VI, duque da Áustria, desembarcam em Acre para apoiar as tropas reunidas por João de Brienne.

1217, Dezembro. Os Francos abandonam o cerco da fortaleza do monte Tabor.

1218, 29 de Maio. O exército de João de Brienne desembarca em Damieta.

1219. Primeira incursão dos Mongóis de Gengis-Khan contra territórios muçulmanos.

1219, Março. Os muçulmanos desmantelam as fortificações de Jerusalém.

1219, 5 de Novembro. Tomada de Damieta pelos cruzados. Fuga do sultão al-Kamil.

1220, 29 de Março. João de Brienne entra na Síria.

1221, fim de Junho. Pelágio, legado do Papa, decide conquistar o Cairo.

1221, 30 de Agosto. Derrota dos cristãos em Mansurá. Evacuação de Damieta.



A Sexta Cruzada
(1228-1244)

1225, Novembro. O imperador Frederico II de Hohenstaufen casa com Isabel de Jerusalém. João de Brienne, o sogro, deverá ceder-lhe a coroa.

1227, 28 de Setembro. Gregório IX excomunga Frederico II, que tarda a partir para a cruzada.

1228, 4 de Maio. Morte de Isabel de Jerusalém. Frederico continua a administrar o reino em nome do seu filho e herdeiro, o futuro Conrado IV

1228, Julho. Frederico II desapossa João de Ibelin do reino de Chipre.

1228, 7 de Setembro. Frederico II desembarca em São João de Acre.

1228, Novembro. Início da fortificação de Jafa.

1229, 11 de Fevereiro. Conclusão do tratado de Jafa, entre al-Malik al-Kamil e Frederico II, com recuperação de Jerusalém, Nazaré e Belém.

1229, 18 de Março. O imperador é coroado rei de Jerusalém no Santo Sepulcro.

1229, 1 de Maio. Frederico II é expulso de Acre por uma turba popular.

1232. Ivan (João) Asen II, rei dos búlgaros, cortou com Roma e tornou a igreja búlgara independente.

1235. Aliança de João Asen com o imperador bizantino de Niceia contra os Francos.

1237, Junho. 120 cavaleiros cruzados são massacrados pelos Alepinos.

1238, Março. Morte do sultão al-Kamil.

1239, Julho. Fim da trégua assinada entre Frederico II e al-Kamil.

1239,1 de Setembro. Desembarque em Acre da expedição dirigida por Thibaud IV de Champagne.

1239, 13 de Novembro. Derrota dos cruzados em Gaza. Reconquista de Jerusalém pelos muçulmanos.

1240. Aliança do malik de Damasco com os Francos, com devolução de Beaufort e Safed aos Latinos.

1240, Outubro. Chegada a Acre da cruzada inglesa dirigida por Ricardo da Cornualha.

1241, 23 de Abril. Paz de Áscalon, com devolução da Galileia, Jerusalém e Belém aos Francos.

1244, 23 de Agosto. Tomada definitiva de Jerusalém pelos Turcos Kharezmianos, que pilham o Santo Sepulcro.

1244, 17 de Outubro. Desastre de La Forbie: os Kharezmianos aniquilam o exército franco composto essencialmente por Cavaleiros Templários, Hospitalários e Teutónicos.

1247. Os Turcos reocupam Tiberíades e Áscalon.




A Sétima Cruzada
(1248-1250-1269)

1244, Dezembro. Luís IX de França, São Luís, decide partir em cruzada.

1245, Junho – Julho. Reunião do Concílio de Lyon, onde a nova cruzada é proclamada.

1248, 25 de Agosto. Os Franceses embarcam para a Cruzada. Chegaram a Chipre a 17 de Setembro, passando aí o Inverno.

1249, 5 de Junho. Luís IX desembarcam em Damieta, na costa mediterrânica do Egipto.

1249, 20 de Novembro. O exército cruzado dirige-se para o Sul em direcção ao Cairo.

1250, 12 de Fevereiro. Batalha de Mansurá. A vanguarda do exército é destruída, mas a vitória pertence aos cruzados.

1250, 5 de Abril. O exército cruzado começa a retirar para Damieta.

1250, 7 de Abril. Luís IX e o exército cruzado são feitos prisioneiros pelos Egípcios.

1250, 6 de Maio. Restituição de Damieta aos muçulmanos, por troca com o rei de França, Luís IX, sendo assinada uma trégua de dez anos.

1250 - 1254. O rei de França reorganiza a Palestina e a Síria.

1252. Luís IX estabelece uma aliança com os Mamelucos.

1254, 24 de Abril. Luís IX chega a França.

1258, Fevereiro. Os Mongóis tomam Bagdade. Extinção da dinastia dos Abássidas.

1260. Os Mongóis invadem Alepo, Damasco e Homs.

1260, Setembro. Tomada do poder pelo sultão mameluco Baibars. Governará até 1277.

1260, 3 de Setembro. Vitória dos Mamelucos sobre os Mongóis em Ain Jalud, depois de os Francos autorizarem os muçulmanos a atravessar os seus Estados para se colocarem na frente dos invasores tártaros.

1261, 25 de Julho. O exército grego do Império de Niceia, comandado por Aleixo Stragopulos, reconquista Constantinopla. O Império Latino do Oriente desaparece.

1265, 27 de Fevereiro. Tomada de Cesareia e Arsuf pelos Mamelucos.

1268. Os Francos perdem Jafa, Beaufort e Antioquia.

1269. Cruzada aragonesa dirigida pelos bastardos do rei de Aragão, Fernando Sanchez e Pedro Fernandez.









A Oitava Cruzada
(1270)

1270, Março. Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada.

1270, 2 de Julho. As tropas francesas deixam Aigues-Mortes.

1270,18 de Julho. Desembarque de Luís IX em Tunes, possivelmente por insistência de Carlos de Anjou, rei de Nápoles e da Sicília, irmão mais novo do rei de França. A peste dizima o exército cruzado.

1270, 25 de Agosto. Morte do rei.

1270, começo de Novembro. Afonso de Poitiers e as tropas francesas embarcam com intenção de se dirigirem à Síria.

1270, 15-16 de Novembro. A frota francesa é destruída por uma tempestade. A expedição não pode continuar caminho.



Fontes principais:

AAVV,
As Cruzadas (1096-1270),
Lisboa, Pergaminho, 2001

Tate, George,
L'Orient des Croisades,
Paris, Gallimard («Découvertes»), 1991

Heers, Jacques,
O Mundo Medieval,
Lisboa, Edições Ática, 1976

© Manuel Amaral 2000-2003

A expansão Árabe antes das Cruzadas (622-1089)

622. Maomé (570-632) é obrigado a sair de Meca, retirando-se para Medina (cidade do Profeta). Começo da Hégira (exílio), ponto de partida do calendário muçulmano (16 de Julho de 622).

630, 1 de Janeiro. Maomé regressa a Meca, após ter derrotado as forças de Meca e os seus aliados. A nova doutrina triunfa na Arábia.

632. Morte de Maomé em Medina. Abu Bakr é escolhido por aclamação como primeiro califa. Os falsos profetas são derrotados, e as tribos rebeldes derrotadas.

634 – 644. O califa Omar, o primeiro a usar o título de Amir al-Mu'minin (príncipe dos Fiéis), transforma o Estado nacional árabe num império teocrático internacional e estabelece uma administração militar. O chefe das tropas de ocupação transforma-se em governador civil, chefe religioso e juiz temporal.

634. Teodoro, irmão do imperador bizantino Heráclio, é derrotado em Ajnadayn, entre Gaza e Jerusalém, pelo exército árabe.

636. Derrota do exército bizantino em Yarmuk, ao sul do Lago Tiberíades.

638. O califa Omar apodera-se de Jerusalém. Conquista da Palestina e da Síria.

639-641. Conquista da Mesopotâmia, actual Iraque, pelos exércitos árabes.

642. Conquista do Egipto, negociada pelo patriarca de Alexandria. As condições acordadas garantiam a segurança de pessoas e bens, e a liberdade de culto para os cristãos. Fundação do Cairo (al-Fustât)

649. Conquista de Chipre.

655. Conquista de Cabul.

687. Começo da construção da mesquita de Omar em Jerusalém.

711. Invasão da Península Ibérica. Derrota de Rodrigo, último rei Visigodo de Espanha.

- Conquista da região do Indo (actual Paquistão e Afeganistão).

716 - 717. Cerco de Constantinopla

732. Batalha de Poitiers. Fim da expansão árabe na Europa.

747. Sublevação abássida no Kkorassan.

750. Derrota do último califa Omíada de Damasco na batalha do Grande Zab, na Pérsia revoltada pelos Chiitas.

750 – 1258. Dinastia Abássida (de Abbas, tio de Maomé), sedeada em Bagdade, cidade inteiramente nova construída nas margens do rio Tigre. Fundada por Abu al-Abbas.

755 – 1031. Emirado, e mais tarde Califado (929), Omíada de Córdova, na Península Ibérica. Fundado por Abd al-Rahman, fugido do massacre dos omíadas em Damasco.

c.800. Mercadores muçulmanos em Cantão. Fábrica de papel fundada em Bagdade.

809. Morte do califa Haroun al-Rachid, conhecido pelas Mil e Uma Noites. Apogeu do império árabe.

825. Ocupação da ilha de Creta pelos muçulmanos.

827. O Mu'tazilismo, escola do Islão clássico fortemente influenciada pelo racionalismo, é proclama doutrina oficial.

830. Primeiras peregrinações a Santiago de Compostela. Depois de se ter encontrado o túmulo em 813.

831. Conquista de Palermo, na Sicília, pelos Árabes

842. Conquista de Messina, na Sicília, e de Tarento, na Península Itálica, pelos Árabes

842 – 902. Conquista da Sicília pelos Árabes.

846. Incursão muçulmana em Roma.

857. Morre Muhâsibi, um dos primeiros mísiticos (Çufis).

864. Surge a doutrina do «encerramento das portas do raciocínio individual» em matéria de interpretação da Lei.

868-883. Revolta dos escravos negros (Zandj) no Baixo-Iraque.

869. Conquista árabe da ilha de Malta.

874. Nascimento do teólogo al-Ash'ari: conciliação do racionalismo mu'tazilita com o tradicionalismo sunnita.

875. Massacre dos comerciantes muçulmanos na China.

940 – 1258. O califado dos Abássidas deixa de ter qualquer importância política. Devido ás revoltas chiitas, e à incapacidade do califa, aparecem várias dinastias locais cujos príncipes tomam o título de califa.

960. Conversão ao Islão dos Turcos Qarakhânidas.

961. Reconquista de Creta pelos bizantinos.

962. Fundação da dinastia Ghaznévida, no Afeganistão, primeira dinastia turca no mundo muçulmano. Existirá até 1186.

- Os Bizantinos retomam Alepo.

969. Os Fatimidas, dinastia aparecida no Norte de África por volta de 910, apoderam-se do Egipto.

- Fundação do novo Cairo (al-Aâhira).

- Os Bizantinos voltam a ocupar Antioquia.

993. Nascimento de Ibn Hazm, poeta e teólogo andaluz: apologia da interpretação literal do Corão e da tradição.

996. Massacre de mercadores de Amalfi, porto no sul de Itália, no Cairo.

997. Incursão muçulmana contra S. Tiago de Compostela.

1009. O califa fatimida do Cairo, al-Hakim, manda destruir as igrejas de Jerusalém.

1017. Começo da pregação druza.

1019. Proclamação, pelo califado de Bagdade, de um credo de inspiração hanbalita, uma das quatro escolas do Islão sunnita, que se caracteriza pela sua atenção ao respeito da tradição corânica e profética. Uma 2.ª proclamação dá-se em 1042 e uma 3.ª em 1053.

1031. Fim do Califado de Córdova. As possesões muçulmanas da Península Ibérica são repartidas em principados (tawa'if), conhecidos por Taifas.

1035. Peregrinação a Jerusalém de Roberto, o Diabo (ou o Magnífico), duque da Normandia.

1036. Muçulmanos e Bizantinos concordam em reconstruir as igrejas cristãs de Jerusalém.

1040. Vitória dos Turcos Seljúcidas sobre os Ghaznévidas em Dandanaqan.

1043. Miguel Cerulário torna-se patriarca de Jerusalém.

1054, 25 de Julho. Cisma entre Roma e Constantinopla. Miguel Cerulário, excomungado pelo papa Leão IX, excomunga todos os latinos.

1055. Os Turcos seljúcidas conquistam Bagdade.

1062. O papa Alexandre II concede o perdão dos pecados a quem combater os muçulmanos.

1063. Cruzada de cavaleiros borgonheses à Península Ibérica. O exército cruzado conquista a cidade de Barbastro, em 1064, após 4 meses de cerco.

1064. O arcebispo Gunther de Maiença e os bispos Guilherme de Utrecht e Otto de Ratisbona organizam uma peregrinação de 7.000 pessoas a Jerusalém.

1071, 19 de Agosto. os Bizantinos são derrotados pelos Turcos Seljucidas em Manzikert.

cerca de 1080. Mercadores de Amalfi fundam, perto do Santo Sepulcro, o hospital de São João de Jerusalém, para recolher os peregrinos pobres.

- Fundação da seita muçulmana dos Assassinos.

1081. Aleixo Comneno, imperador do Oriente.

1082. Devido à ajuda prestada contra os Normandos, Veneza obtêm o direito de comerciar em todo o Império Bizantino, sem pagar direitos alfandegários

1084. Antioquia cai nas mãos dos Turcos.

1085. Os Normandos dominam a Sicília.

- Conquista de Toledo por Afonso VI de Castela.

1086. Afonso VI de Castela é vencido na batalha de Sagrajar pelos berberes almorávidas, chamados à Península Ibérica pelos reis muçulmanos das Taifas, devido à conquista de Toledo.

1086 – 1090. Peregrinação à Terra Santa do conde de Flandres, Roberto de Frison.

1087. Cruzada francesa a Espanha, organizada por Urbano II, e dirigida por Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse e Eudes I, duque da Borgonha.

1090. Conquista de Malta pelos Normandos.

- Os «Assassinos» apoderam-se do castelo de Alamute, na Pérsia.

1092. Os «Assassinos» matam o vizir Nizam al-Mulk..

Fontes principais:

AAVV,
As Cruzadas (1096-1270),
Lisboa, Pergaminho, 2001

Tate, George,
L'Orient des Croisades,
Paris, Gallimard («Découvertes»), 1991

Heers, Jacques,
O Mundo Medieval,
Lisboa, Edições Ática, 1976

O Grande Cisma da Igreja

Um Exame da Igreja Ortodoxa em sua Formação e nos Dias de Hoje

Introdução

O tema do nosso artigo é "O Grande Cisma da Igreja". Existem, na realidade dois episódios na história da igreja que disputam este título: O primeiro, que é o alvo do nosso exame, é a divisão ocorrida em 1054, no seio da igreja Cristã, entre a ala oriental e ocidental, que gerou a chamada Igreja Ortodoxa, ou Grega-ortodoxa. O outro cisma, algumas vezes classificado como "o grande", ocorreu séculos depois, em 1378 a 1417, quando a Igreja Católica teve dois papados - um em Roma e o outro na França.

Os acontecimentos na história da Igreja que vamos examinar, parecem apenas fruto de política e dissensão interna. No entanto, não podemos nos esquecer que o Islamismo surgiu exatamente alguns séculos antes do Grande Cisma. A ameaça externa dos seguidores de Maomé teve muito a ver com o desenrolar dos eventos. É, portanto, aconselhável que tenhamos uma boa compreensão histórica do Islamismo, pois desde o seu início ele tem se constituído numa das maiores ameaças ao cristianismo, como está demonstrado sem sombras de dúvidas, em nossos dias.
Queremos também compreender o gradual afastamento da igreja da singeleza doutrinária que marcou os escritos dos apóstolos e a igreja primitiva, nos primeiros séculos da era cristã.

1. O Império Romano que Não era Romano.

Vamos começar nosso estudo no ano 800 - um ano "redondo" mas crucial na história do mundo e da igreja. No Natal deste ano o papa Leão III coroou Carlos Magno como o primeiro imperador do Santo Império Romano. Acontece que esse império não era "romano" pois o poder imperial político de Roma não mais existia. A tentativa era estabelecer uma sucessão ao Império Romano e costurar uma aliança com a igreja, mas o centro do poder, agora, era a região que seria, mais tarde, conhecida como a Alemanha. Carlos Magno era o rei dos Francos - designação de várias tribos de "bárbaros" que habitavam a margem direita do rio Reno.

O papado estabeleceu uma aliança plena com o novo imperador - cada um exerceria o domínio em sua própria esfera e cooperariam com os interesses um do outro. Esse conceito teria reflexos a longo prazo na história da Europa. Durante o próximo milênio vários imperadores desfilaram os seus exércitos no solo europeu, esforçando-se para se estabelecerem como legítimos sucessores dos Césares romanos - até que, em 1806, Napoleão aboliu formalmente o "Santo Império Romano" - que, na época, virtualmente compreendia apenas a Alemanha.

Alguns anos antes em Constantinopla (onde atualmente encontramos a cidade de Istambul, na Turquia), o imperador Leão Isauriano confrontara o perigo dos exércitos islâmicos e fora bem sucedido em evitar uma invasão. O império bizantino foi se consolidando e, carregando consigo a ala oriental da igreja, expandiu sua influência desde a Grécia até a Arábia. Assim, na parte leste, ou oriental, a igreja era liderada por um patriarca, em Constantinopla (conhecida depois como ramo grego ortodoxo); e na parte oeste, ou ocidental, a liderança era exercida pelos papas, em Roma (conhecida depois como ramo católico romano).

2. No meio das conturbações políticas a Igreja se Expande.

Carlos Magno conseguiu controlar o território da França, Alemanha, Suíça e Itália. Seus três filhos não conseguiram manter a regência conjunta e o Império foi repartido e enfraquecido. Eventualmente, a Europa transformou-se em vários principados independentes e antagônicos entre si. Isso contribuiu para que o papado readquirisse alguma força política e geográfica. O período de 800 até o ano de 1073, entretanto, marca uma era de forte aliança entre igreja e estado com a chamada dinastia carolingiana. Nela o papado se desenvolveu e oscilou em poder na medida que os regentes políticos também oscilavam.

O Islamismo começou a mostrar-se também uma ameaça enorme para a igreja ocidental. Durante o papado de João VIII (872-882), por falta de socorro político e militar, ele teve que fazer um tratado humilhante com os maometanos. Para conserva-los longe de Roma, teve de concordar em pagar tributos a eles. Do ano 880 ao ano 1000, a Itália viveu um estado de quase anarquia e o papado refletia essa instabilidade. Já era grande a corrução na igreja e muitos indivíduos desqualificados ocuparam o papado. Por exemplo, no período de apenas 11 anos (882 a 903) existiram 12 papas. Um dos últimos papas desse período, Benedito IX, assumiu o ofício aos doze anos e cometeu muitos desmandos. Surpreendentemente, entretanto, a igreja estendia sua influência territorial atingindo até a Islândia. Nesse período, também, a Boêmia, Hungria e a Polônia se tornaram nações católicas.

Enquanto isso, o ramo oriental da igreja, que tinha a sua sede em Constantinopla, ia se afastando cada vez mais da ala ocidental, enquanto também se expandia, avançando até ao norte. Em 988 o rei Vladimir, da Rússia, foi batizado. Nas duas frentes, a igreja aumentava sua influência política e os dois ramos iam adquirindo características peculiares e diferenciadas entre si.

3. A situação doutrinária e prática das igrejas, no início do segundo milênio.

No início do segundo milênio da Era Cristã, tanto a igreja católica ocidental, liderada por Roma, como a ala oriental, liderada por Constantinopla, já havia incorporado em suas práticas e liturgias vários pontos que seriam questionados de forma incisiva pela Reforma do século XVI. É interessante notarmos, entretanto, que muitas dessas práticas sofreram contestação ao longo de suas introduções e várias deram lugar à separação entre o leste e o oeste, culminando, em 1054, no Grande Cisma.

Desde o ano de 867 circulavam, na igreja oriental, relações de práticas da igreja ocidental romana que eram doutrinariamente contestadas pela ala do leste. Mas a relação mais importante foi escrita pelo patriarca Cerulárius no ano de 1054. Ela era, na realidade, uma reação a uma relação de erros da igreja oriental, que havia sido enviada pelo papa Leão IX, pelo cardeal Humberto. A lista de Cerulárius continha, entre outras coisas: condenava o uso de pão fermentado na eucaristia; condenava a aprovação de qualquer carne para alimentação; condenava a permissão de se barbear; rejeitava as adições sobre o Espírito Santo ao Credo Niceno; condenava o celibato clerical; condenava a permissão de se; etc., etc. No final Cerulárius escreveu: "Portanto, se eles vivem dessa maneira, enfraquecidos por esses costumes; ousando praticar essas coisas que são obviamente fora da lei, proibidas e abomináveis; então poderá qualquer pessoa, em seu juízo são, incluí-los na categoria de ortodoxos? Claro que não".

No final, Humberto, comissionado pelo papa, excomungou Cerulários e Cerulárius excomungou Humberto e o papa, e estava sacramentado o Grande Cisma de 1054.

4. As seis razões principais para o Grande Cisma.
O Cisma, entretanto, não ocorreu em cima de um incidente específico, mas sacramentou uma divisão de doutrina, interesses e estilos que já vinha sendo consolidada ao longo dos últimos séculos. Vejamos seis razões principais para ele ter ocorrido:

A primeira razão foi a controvérsia iconoclástica - que quer dizer uma discordância contra a utilização de imagens. O imperador Leão Iasuriano, no ano 726, emitiu um primeiro decreto contra a utilização de imagens na adoração. Nessa ocasião, isso já era uma prática crescente, trazida do paganismo para o seio da igreja. Ocorre que o Islamismo exerceu intensa pressão, pois acusava a igreja de politeísta. Leão agia por pressão e medo dos maometanos, bem mais do que por convicção. Ele foi apoiado pelo patriarca de Constantinopla, que representava o ramo oriental da igreja, e por muitos da alta hierarquia católica. A maioria dos monges e o povo, em geral, discordavam da proibição e incentivavam a continuidade da utilização de ídolos. O papa Gregório II, em Roma, considerou a proibição uma interferência política (oriunda de Constantinopla) nos assuntos da igreja - especialmente porque ele, distanciado dos maometanos, em Roma, não sentia o problema de perto. O culto às imagens teve livre curso na igreja católica. Criou-se, então, a partir daí uma divisão marcada entre o leste e o oeste. O ponto curioso é que, cerca de 125 depois, a igreja ortodoxa dissociou-se dos que queriam a abolição dos ídolos e adotou uma iconografia pródiga - ou seja, o uso amplo de ilustrações e pinturas na liturgia e na adoração.

A segunda razão foi um conflito com a doutrina da "processão" do Espírito Santo. O Concílio de Nicéia, reafirmando a doutrina do Espírito Santo, havia indicado que Deus Pai havia enviado o Filho e o Espírito Santo. Posteriormente, um sínodo realizado na cidade de Toledo, procurou esclarecer a frase indicando que o Espírito Santo procedia tanto do Pai como do Filho (essa inserção é chamada de cláusula filioque - Latin para "e do filho"). Essa declaração substancia aquilo que entendemos como subordinação econômica, ou seja - enquanto as três pessoas da trindade se constituem em uma só pessoa divina e são iguais em poder, prerrogativas e essência (chamamos isso de trindade ontológica) - no relacionamento com a criação elas se auto-impõem funções diferentes. Nesse sentido, dizemos que existe diferenciação de atividades e eventual subordinação no plano de salvação: o Pai envia; o Filho executa; o Espírito Santo, procedendo tanto do Pai como do Filho, aplica, revela e glorifica ao Filho - não fala de si mesmo (João16.13-14). A ala oriental da igreja, já destacando-se com uma ênfase mística, não aceitava as afirmações sobre o Espírito Santo como uma expressão do trabalho e da pessoa de Cristo, conforme o Credo do Concílio de Nicéia, ampliado em Toledo, veio a ser aceito pela igreja do oeste.

A terceira razão , foi uma falta de predisposição tanto do papa, em Roma, como do Patriarca, em Constantinopla, de se submeterem um ao outro. Até o século nono todos os papas eleitos, em Roma, procuravam confirmação e concordância de suas eleições junto ao Patriarca de Constantinopla - assim procurava manter-se a unidade da ala oriental da igreja, com a ocidental. Gregório III, entretanto, foi o último papa a obter tal confirmação. Em 781 os papas deixaram de mencionar o nome do imperador de Constantinopla em seus documentos.

A quarta razão , é que não existiam limites muito bem estabelecidos, com relação às áreas que deveriam ser regidas por Roma ou por Constantinopla. Os poderes se confundiam, as hierarquias se mesclavam. Isso resultava em constantes fricções relacionadas com a jurisdição de cada ala.

A quinta razão representa as diferenças culturais existentes entre o oriente e o ocidente. Tais diferenças sempre prejudicaram o entendimento e a cooperação entre as duas alas. Pouco a pouco, as diferenças culturais foram se incorporando na liturgia. A igreja oriental foi ficando cada vez mais introspectiva, monástica e mística. A igreja ocidental, mais inovadora e eclética na absorção de práticas pagãs.

A sexta razão é que a igreja oriental se colocava sob o Imperador que regia em Constantinopla, enquanto que a igreja ocidental, naquela ocasião, reivindicava independência da ação do estado e o direito de exercitar regência moral sobre os reis e governantes.

Assim, no ano de 1054 a bula papal de excomunhão do Patriarca foi depositada no altar de Santa Sofia, em Constantinopla. Houve retaliação por parte do patriarca de Constantinopla e o Cisma estava configurado. A partir daí a história se divide e passamos a acompanhar muito mais a história da igreja romana, do que a da igreja Grega Ortodoxa e de suas variações e ramos (Russa Ortodoxa, Maronitas, etc.)

5. A Igreja Ortodoxa Hoje.

A Igreja Ortodoxa é um ajuntamento de igrejas auto-governadas. Elas são administrativamente independentes e possuem vários ramos, embora todas reconheçam a preeminência espiritual do Patriarca de Constantinopla. Elas mantêm comunhão, umas com as outras, embora a vida interna de cada igreja independente seja administrada por seus bispos. Atualmente, existem Igrejas Ortodoxas da Rússia, da Romênia, da Sérvia, da Bulgária, da Geórgia, do Chipre, dos Estados Unidos, etc.
Algumas características doutrinárias e litúrgicas marcam as Igrejas Ortodoxas com mais intensidade:

Tradição : A Igreja Ortodoxa dá enorme importância à tradição. Uma das igrejas, aqui no Brasil, coloca em sua literatura, que "Tradição é a chave para a auto-compreensão". Na compreensão da doutrina da Igreja Ortodoxa, o Espírito Santo inspira não somente a Bíblia, mas também a "tradição viva da igreja".

Misticismo : A Igreja Ortodoxa desenvolveu-se com características bem mais místicas e subjetivas do que o ramo ocidental. Um texto dela diz: " A espiritualidade ortodoxa é, de fato, caracteristicamente monástica, o que significa que todo o cristão ortodoxo tende para a vida monástica".

Ícones : Como já vimos, ironicamente, apesar da ala oriental ter se posicionado contra o culto às imagens, no século oitavo, quando chegou a ocasião do Grande Cisma, ela já havia retornado à prática de veneração e adoração dos ícones. Existem algumas diferenças, com relação à Igreja Romana: Ela só aceita pinturas bidimensionais; imagens tridimensionais são rejeitadas. Essas pinturas devem sempre conter algum elemento místico, como, por exemplo, um halo, ou algo que identifique a divindade; elas não devem simplesmente retratar semelhança humana. Há uma predominância, nas imagens de cenas do nascimento de Cristo, dele com Maria, etc. Tais imagens são beijadas repetidamente pelos fiéis.

Liturgia Rebuscada : A Igreja Ortodoxa se orgulha da "beleza" de sua liturgia. Na realidade, existe um intenso ritualismo e formalismo, na sua adoração. Uma grande aproximação com o formalismo da missa católico romana.

6. Uma Rápida Avaliação da Igreja Ortodoxa.

A importância dada à tradição, não somente diminui a importância da Palavra de Deus, na vida das pessoas e da própria igreja, como chega a subordinar a Bíblia à tradição. Ela afirma que as verdades da salvação são "preservadas na Tradição viva da Igreja" e que as Escrituras são "o coração da tradição". Nesse sentido, consideram também que as suas doutrinas e a "Fé Apostólica" têm sido, no seio da Igreja Ortodoxa, "incólume transmitida aos santos".

Uma publicação da Igreja Ortodoxa diz, textualmente: "As fontes de onde extraímos a nossa Fé Ortodoxa são duas: a Sagrada Escritura e Santa Tradição". Isso contradiz frontalmente a compreensão reformada das Escrituras - Sola Scriptura (somente as Escrituras) foi um dos pilares da Reforma do Século XVI. Nesse sentido, a Igreja Ortodoxa se aproxima muito da Católica Romana.

A Igreja Ortodoxa abriga a idolatria. A alta consideração dada aos ícones, os rituais de beijos e afeição e a sua ampla utilização na vida diária de devoção, demonstram que por mais que se declare uma simples "veneração", não há diferença prática da mera adoração a tais imagens. A rejeição às estátuas não basta para eliminar o câncer da idolatria que persegue a mente carnal, desviando os olhos da intermediação única de Cristo e da simplicidade do culto que deve ser prestado, em espírito e em verdade. Uma publicação da Igreja Ortodoxa diz: "dentro da tradição ortodoxa a palavra ícone assumiu o significado de imagem sagrada". Vemos como a tradição gera a idolatria condenada pela Palavra (Is. 44.9-20)

A visão da Igreja Ortodoxa sobre a pessoa do Espírito Santo, considerando sua obra quase que independente da obra de Cristo, levou ao desenvolvimento de um misticismo que tem a "aparência de piedade", mas que na realidade desvia o foco da pessoa de Cristo Jesus, nosso único mediador entre Deus e os homens. Nesse sentido, ela se aproxima muito de certos segmentos da igreja evangélica contemporânea que têm procurado transformar a fé cristã e a prática litúrgica extraída da Bíblia, em representações místicas da atuação do Espírito, segundo conceitos humanos.

É verdade que a Igreja ortodoxa não aceita a supremacia do papa, e algumas outras práticas da igreja de Roma, mas de uma forma genérica, ela abriga dentro de si muitos dos pontos errados que foram contestados pela Reforma, por terem sido meros frutos do tradicionalismo e não de uma exegese sólida da Palavra de Deus. A Igreja Ortodoxa se orgulha em pregar a unidade, apontando-se a si mesma como a igreja apostólica real, mas a verdadeira unidade se forma ao redor das doutrinas cardeais da fé cristã e não pela tradição.

Leitura adicional sugerida:
Momentos Decisivos na História do Cristianismo; Mark A. Knoll, trad. de Alderi Matos (S.Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998)


Examinando e Expondo a Palavra de Deus aos Nossos Dias:

Isaías 1:18-20 "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse."

Atos 17:2-3 "Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio."

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sexta-feira, 29 de maio de 2009

MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE OS PAIS DA IGREJA

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1. Santidade e Sabedoria nos Pais da Igreja
2. Os Santos Padres da Igreja
3. Máximas Bíblicas e dos Pais da Igreja
4. A Santíssima Trindade Nos Escritos dos Santos Padres dos Primeiros Séculos
5. Testemunhos Patrísticos sobre a Santíssima Trindade
6. Louvores dos Santos Padres à Maria
7. Los Padres de La Iglesia
8. El Estudio de los Padres de la Iglesia
9. DIDAQUÉ: A Doutrina dos Apóstolos
10. 1º Concílio Ecumênico de Nicéia: Os Cânones dos 318 Bispos reunidos em Nicéia da Bítinia (325 dC)
11. Definição de fé: Concílio da Calcedônia
12. Santo Atanásio de Alexandria (português)
13. Santo Atanásio de Alexandria (espanhol)
14. Santo Atanásio: Sobre a divindade do Espírito Santo (Carta de Santo Atanásio a Serapião)
15. Santo Atanásio: «Sobre a Encarnação do Verbo»
16. Santo Atanásio: A Criação e a Queda
17. Santo Atanásio de Alexandria: Antologia
18. São Jerônimo: A Virgindade Perpétua de Maria - Tratado contra Helvídio
19. São Cirilo de Jerusalém: Catequeses Mistagógicas
20. Melitão de Sardes
21. O Pastor de Hermas
22. Santo Ambrósio de Milão
23. São João Crisóstomo - Vida e Obras
24. San Juan Crisóstomo - HOMILÍA IX
25. São João Crisóstomo - Antologia
26. Diversão Mundana e Cristã Segundo São João Crisóstomo
27. São Gregório de Nissa: Sobre a Vida de Moisés
28. Orígens: Antologia
29. São Basílio, o Grande: «Um Monge no Mundo do Helenismo»
30. São Basílio, o Grande: Antologia de Textos Homiléticos
31. São Cipriano de Cartago
32. São Cipriano de Cartago: «A Oração do Senhor»
33. São Cipriano de Cartago: «Antologia» (português)
34. São Cipriano de Cartago: «Antologia» (espanhol)
35. São Cipriano de Cartago: «Cartas» (espanhol)
36. São Cipriano de Cartago: «Sobre A Unidade da Igreja»
37. São Cipriano de Cartago: «Da Inutilidade dos Ídolos»
38. São Cirilo de Alexandria: «Diálogo sobre a Encarnação»
39. São Cirilo de Alexandria: Discurso de pronunciado no Concílio de Éfeso sobre Maria
40. São Cirilo de Alexandria: Antologia
41. Tradición y Eucaristía
42. Tradição Apostólica de Hipólito de Roma
43. São Gregório Palamas e a Tradição dos Padres
44. São Gregório Palamas: Antologia
45. São Clemente de Alexandria: Antologia.
46. Ideais de fé, conduta e salvação São Clemente de Alexandria
47. Santo Agostinho de Hipona: «Na Vigília da Páscoa»
48. Santo Agostinho de Hipona: «Sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos»
49. Santo EFRÉN, o Sírio: Vida
50. Santo EFRÉN, o Sírio: Obras (fragmentos)
51. Santo Epifanio: «Os Últimos Dias da Virgem Maria»
52. Santo Epifânio de Salamina: 1ª homilia para a Festa dos Ramos
53. São Germano de Constantinopla
54. São Gregório Magno: Antologia
55. São Leão Magno: Sermão n° 23: «Natal do Senhor»
56. São Leão Magno: Antologia
57. São Leão Magno: «Sermão Sobre Pentecostes»
58. Olivier Clèment: «São Gregório Nazianzeno»
59. São Gregório Nazianzeno: «Poema sobre a Natureza Humana»
60. São Gregório de Nazianzo: Antologia
61. Olivier Clèment: São Gregório de Nissa
62. São Gregório de Nissa: Antologia
63. Santo Hilário de Poitiers: «Sobre a Santíssima Trindade»
64. Santo Hilário de Poitiers: «Antologia»
65. San Ireneo: Vida y obras (espanhol)
66. Santo Irineu de Lião: Antologia de Textos Homiléticos
67. São João Damasceno: «Homilia Sobre a Natividade de Maria»
68. São João Damasceno: «Homilia Sobre aDormição da Santíssima Mãe de Deus»
69. São João Damasceno: Antologia de Textos Homiléticos
70. San Juan Damasceno: El jardín de la Sagrada Escritura - (Exposición de la fe ortodoxa, 1V 17)

71. San Juan Damasceno: La fuerza de la Cruz - (Exposición de la fe ortodoxa, I14 11)
72. San Juan Damasceno: El coro de los ángeles - (Exposición sobre la fe ortodoxa, 11, 3)

73. San Juan Damasceno: Madre de la gloria - (Homilía 2 en la dormición de la Virgen Maria, 2 y 14)

74. Santo Agostinho de Hipona: "Sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos"
75. São Máximo, o Confessor: Vida e Obras
76. São Pedro Crisólogo: «Sermão de Natal»
77. São Pedro Crisólogo: «Antologia de Textos Homiléticos»
78. San Policarpo, Obispo de Esmirna
79. São Policarpo de Esmirna: Antologia de Textos Homiléticos
80. São Simeão, o Novo Teólogo: Antologia de Textos Homiléticos
81. «Patrologia» e «Patrística»: Âmbito e definições

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ISLAMISMO

O Islamismo


O islamismo é a doutrina do profeta Maomé sobre o único e verdadeiro Deus, Alah. Sua pregação ganhou terreno entre as tribos beduínas da península arábica, no início do século VII, e expandiu-se rapidamente com uma força irresistível, ao longo do Mediterrâneo.

O islamismo, a mais jovem das religões universais, é hoje a segunda quanto ao número de adeptos.
Islã significa "submissão", palavra que dá a chave da mensagem de Maomé: a absoluta submissão dos crentes à vontade de Alah. O islamismo é estritamente monoteísta. Tem muitos aspectos em comum com o judaísmo e com o cristianismo; entre outros, o reconhecimento dos profetas do Antigo Testamento. Maomé definiu-se como o último e o maior dos profetas, entre os quais se contavam Abraão, Moisés e Jesus.
Via nas imagens do Deus do Judaísmo e do Cristianismo o caminho para o verdadeiro Deus, Alah. Como Medina e Meca, Jerusalém é uma das cidades santas do Islã. Maomé recebeu o chamado de Alah e rompeu com a idolatria de seus companheiros de tribo. A mensagem era clara e simples. Por meio de parábolas descritivas ameaçava os infiéis com o dia do juízo e o fogo do inferno, enquanto prometia aos crentes um paraíso com alegrias terrenas.
O islamismo não tem sacerdócio nem sacramentos. O Corão é a sua única norma. O crente muçulmano responde por sua vida, perante Alah, sem intermediários. Os seguidores de Maomé estavam imbuídos do maior entusiasmo e conseguiram impor sua doutrina em um campo de batalha político-religioso sem igual: o da Guerra Santa do Islã.
A oração
Voltado para Meca, no seu tapete de oração, o muçulmano reza em qualquer lugar onde se encontre, quando chega a hora da prece. A oração realiza-se com complicados movimentos rituais, genuflexões e repetidas flexões com a fronte tocando o solo.
A mesquita
É o local do serviço divino do islamismo, onde o povo recolhe-se à oração e ao estudo do Corão. A sala de oração ocupa uma ala de um jardim, aberto e circundado de pórticos. No centro do jardim encontra-se o poço da purificação, para as abluções antes da oração. Os minaretes, e por vezes um mausoléu, acham-se contíguos à mesquita. No muro que dá para Meca há um nicho, o mihrab, que indica a direção na qual se deve rezar. Essa direção também está indicada nos tapetes de oração.
Alcorão (A leitura)
É o livro sagrado dos muçulmanos que acreditam que o mesmo tenha sido revelado por Alah a Maomé. Desde o século IX, elaboram-se numerosos manuscritos ricamente decorados. O Corão instrui, espiritual e materialmente o muçulmano. Interpreta a fé, explica a história e inclui um código penal e regras de conduta.
As cinco colunas da fé
Os mais importantes mandamentos do islamismo são chamados "as cinco colunas".
- Recitação da profissão de fé.
- As esmolas (1/4 dos lucros).
- O jejum no mês de Ramadã.
- A peregrinação a Meca, ao menos uma vez na vida.
Islamismo - O caminho a Deus por meio da Submissão
"Em nome de Alá, Clemente, Misericordioso." Esta frase traduz o texto árabe acima, do Qur'ãn (Alcorão). E continua: "Louvado seja Deus, Senhor do Universo, Clemente, Misericordioso. Soberano do Dia do Juízo. Só a Ti adoramos e só a Ti imploramos ajuda! Guia-nos à senda reta, À senda dos que agraciaste, não à dos abominados nem à dos extraviados." - Qur'ãn, surata 1:1-7. Qur'ãn é a grafia preferida por escritores muçulmanos.
Tais palavras formam a Alfátiha (A Abertura), o primeiro capítulo, ou surata, do livro sagrado dos muçulmanos, o Sagrado Qur'ãn, Corão ou Alcorão. Visto que mais de uma de cada seis pessoas no mundo é muçulmana, e considerando que os muçulmanos devotos repetem esses versículos pelo menos cinco vezes em suas orações diárias, estas devem estar entre as palavras mais recitadas na terra.
Há mais de 900 milhões de muçulmanos no mundo, o que faz com que, numericamente, o islamismo seja menor apenas do que a Igreja Católica Romana. Dentre as religiões principais é talvez a que aumenta mais rapidamente no mundo, com movimento muçulmano em expansão na África e no mundo ocidental.
O nome islã (ou islame) é expressivo para o muçulmano, pois significa "submissão", "rendição" ou "entrega" a Alá, e, expressa a mais íntima atitude dos que abraçaram a pregação de Maomé. Muçulmano significa aquele que faz ou pratica o islã.
Os muçulmanos crêem que a sua fé é a culminação das revelações dadas aos fiéis hebreus e cristãos do passado. Contudo, seus ensinamentos divergem da Bíblia em alguns pontos, embora citem tanto das Escrituras Hebraicas como das Gregas no Qur'ãn. Os muçulmanos crêem que a Bíblia contém revelações de Deus, mas que algumas foram posteriormente falsificadas.
A chamada de Maomé
Maomé nasceu em Meca (em árabe, Makkah), Árabia Saudita, por volta de 570 EC. Seu pai, Abdalá, morreu antes de Maomé nascer. Sua mãe, Amina, morreu quando ele tinha cerca de seis anos. Naquele tempo, os árabes praticavam uma forma de adoração de Alá centralizada no vale de Meca, no local sagrado da Caaba, um edifício simples em forma de cubo, onde se reverenciava um meteorito negro. Segundo a tradição islâmica, a "a Caaba foi originalmente construída por Adão segundo um protótipo celestial e depois do Dilúvio reconstruída por Abraão e Ismael". (História dos Árabes, de Philip K. Hitti, em inglês) Tornou-se santuário de 360 ídolos, um para cada dia do ano lunar.
À medida que crescia, Maomé passou a questionar as práticas religiosas de seus dias. John Noss, em seu livro Mans's Religions (As Religiões do Homem), declarava: "Maomé incomodava-se com as incessantes rixas por causa de confessos interesses de religião e honra entre os chefes coraixitas (Maomé era dessa tribo). Mais forte ainda era o seu descontentamento com os grotescos remanescentes na religião árabe, o politeísmo e o animismo idólatras, a imoralidade nas assembléias e quermesses religiosas, a bebedeira, a jogatina e as danças que estavam na moda, e o sepultamento em vida de bebês do sexo feminino indesejados, praticado não apenas em Meca mas em toda a Árabia." - Surata 6:137
A chamada de Maomé para ser profeta ocorreu quando ele beirava os 40 anos de idade. Ele costumava ir sozinho a uma caverna próxima, chamada Gar Hira, para meditar, e afirmou que foi numa dessas ocasiões que recebeu a chamada para ser profeta. Diz a tradição muçulmana que, estando lá, um anjo, mais tarde identificado como Gabriel, ordenou-lhe que recitasse em nome de Alá. Maomé não obedeceu, de modo que o anjo agarrou-o e cumprimiu-o tanto que Maomé não pôde suportar. Daí o anjo repetiu a ordem. Novamente, Maomé não reagiu, de modo que o anjo sufocou-o novamente. Isto ocorreu três vezes, depois do que Maomé começou a recitar o que veio a ser encarado como primeira duma série de revelações que constituem o Qur'ãn. Segundo outra tradição, a inspiração divina foi revelada a Maomé em forma do soar duma campainha.
Revelação do Qur'ãn
Qual foi, supostamente a primeira revelação que Maomé recebeu? Os versados no islamismo em geral concordam que foram os primeiros cinco versículos da surata 96, intitulada Al'Alac, "O Coágulo (de sangue)",que reza:
"Em nome de Alá, Clemente, Misericordioso.
Lê em nome de teu Senhor que tudo criou;
Criou o homem de um coágulo.
Lê que teu Senhor é generoso,
Que ensinou o uso do cálamo
Ensinou ao homem o que este não sabia."
Segundo a fonte árabe O Livro de Revelação, Maomé respondeu: "Eu não sei ler." Assim, ele teve de memorizar as revelações, de modo que pudesse repeti-las e recitá-las. Os árabes eram peritos no uso da memória, e Maomé não era exceção. Crê-se geralmente que as revelações ocorreram num período de 20 a 23 anos, aproximadamente por volta de 610 EC até a sua morte, em 632 EC.
Fontes muçulmanas explicam que, assim que recebia cada revelação, Maomé a recitava para quem quer que estivesse por perto. Estes, por sua vez memorizavam a revelação e, por recitação, mantinham-na viva. Visto que os árabes desconheciam a arte de fabricar papel, Maomé fez com que escribas anotassem as revelações em primitivos materiais então disponíveis, como omoplatas de camelo, folhas de palmeira, madeira e pergaminho. Mas, foi só depois da morte do profeta que o Qur'ãn assumiu a sua forma atual, sob a direção dos sucessores e companheiros de Maomé. Isto foi durante o domínio dos primeiros três califas, ou líderes muçulmanos.
O tradutor Muhammad Pickthall escreve: "Todas as suratas do Qur'ãn haviam sido registradas por escrito antes da morte do Profeta, e muitos muçulmanos haviam decorado o inteiro Qur'ãn. Mas, as suratas escritas ficaram dispersas entre o povo; e quando numa batalha...um grande número dos que sabiam o inteiro Qur'ãn de cor foram mortos, foi feita uma coletânea do inteiro Qur'ãn e assentada por escrito."
A vida islâmica é governada por três autoridades: o Qur'ãn, a Hadith e a Xariah. O Hadith, ou Sunna, "os atos, as declarações e a aprovação tácita (taqrir) do Profeta...fixados durante o segundo século na forma de hadiths escritos. Um hadith é um registro de uma ação ou de dizeres do Profeta". Pode também ser aplicado às ações ou aos dizeres de qualquer dos companheiros de Maomé e sucessores destes. Num hadith apenas o sentido é encarado como inspirado. - História dos árabes.
A Xariah, ou lei canônica, baseada em princípios do Qur'ãn, regula toda a vida do muçulmano, em sentido religioso, político e social. "Todos os atos do homem são classificados em cinco categorias legais:
1ª - O que é considerado dever absoluto (fard) envolvendo recompensa por agir ou punição por deixar de agir.
2ª - Ações elogiáveis ou louváveis (mustahabb), envolvendo recompensa, mas não punição por omissão.
3ª - Ações permissíveis (jaiz, mubah), que são legalmente indiferentes.
4ª - Ações repreensíveis (makrub), que são desaprovadas, mas não puníveis.
5ª - Ações proibidas (haram), cuja prática exige punição." - História dos Árabes
Os muçulmanos creêm que o Qur'ãn em árabe seja a mais pura forma de revelação, pois, como dizem, foi a língua usada por Deus ao falar por meio de Gabriel. A surata 43:3 diz: "Que vos temos ditado um Alcorão arábico, afim de que o compreendais." Assim, qualquer tradução é encarada como apenas uma diluição que envolve perda de pureza. De fato, alguns versados em islamismo recusam-se a traduzir o Qur'ãn. Acham que "traduzir sempre é trair" e, por conseguinte, os "muçulmanos sempre reprovaram, e às vezes proibiram, qualquer tentativa de traduzi-lo para outra língua", diz o dr. J. A Williams, preletor de história islâmica.
Expansão Islâmica
Maomé fundou a sua nova fé enfrentando grandes dificuldades. O povo de Meca, até mesmo de sua própria tribo, rejeitou-o. Depois de 13 anos de preseguição e ódio, ele transferiu seu centro de atividades para o norte, em Iatrib, que então passou a ser conhecido como al-Madinah (Medina), a cidade do profeta. Essa emigração, ou hégira, me 622 EC, foi um marco importante na história islâmica, e essa data foi mais tarde adotada como ponto de partida do calendário islâmico. Assim, o ano muçulmano é dado com AH (latim, Anno Hegirae, ano da fuga) em vez de AD (Anno Domini, ano do Senhor) ou EC (Era Comum).
Por fim, Maomé obteve o domínio quando Meca capitulou diante dele, em janeiro de 630 EC (8 AH), e ele passou a governá-la. Com as rédeas do controle secular e religioso nas mãos, ele conseguiu varrer as imagens idólatras da Caaba e estabelecê-la como ponto principal de peregrinação a Meca, que persiste até hoje.
Poucas décadas depois da morte de Maomé, em 632 EC, o islamismo já se havia difundido até o Afeganistão, e até mesmo à Tunísia, na África do Norte. Perto do início do oitavo século, a fé do Qur'ãn penetrara na Espanha e chegara à fronteira francesa. Como disse o professor Ninian Smart em seu livro Background to the Long Search (Origem da Longa Busca): "Encarada dum ponto de vista humano, a consecução de um profeta árabe que viveu no sexto e no sétimo séculos depois de Cristo é assombrosa. Humanamente, foi dele que fluiu uma nova civilização. Mas, naturalmente, para os muçulmanos a obra era divina, e a consecução, de Alá."
A Morte de Maomé causa divisão
A morte do profeta provocou uma crise. Ele morreu sem deixar descendente masculino e sem sucessor claramente designado. Como diz Philip Hitti: "O califado (cargo de califa) é, pois, o mais antigo problema que o islamismo teve de enfrentar. Ainda é uma questão acesa...Como disse o historiador muçulmano al-Shahrastani: "Nunca houve uma questão islâmica que causasse mais derramemento de sangue do que o califado (imamah)." Como se resolveu o problema lá em 632 EC? "Abu-Bekr...foi nomeado (8 de junho de 632) sucessor de Maomé por meio de um tipo de eleição em que participaram os líderes presentes na capital, al-Madinhah." - História dos Árabes.
O sucessor do profeta seria um governante, um khalifah, ou califa. Contudo, a questão concernente a quem eram os verdadeiros sucessores de Maomé virou motivo de divisões nas fileiras do islamismo. Os muçulmanos sunitas aceitavam o princípio de cargo eletivo, em vez de a descendência sanguínea do profeta. Assim eles crêem que os três primeiros califas, Abu-Bekr (sogro de Maomé), Omar (conselheiro do profeta) e Otmã (genro do profeta), eram os sucessos legítimos de Maomé.
Essa afirmação é contestada pelos muçulmanos xiitas, que dizem que a verdadeira liderança vem da linhagem sanguínea do profeta e por meio de seu primo e genro, Ali ibn Abi Talib, o primeiro imane (líder e sucessor), que se casou com a filha predileta de Maomé, Fátima. Seu casamento produziu os netos de Maomé, Hasã e Husain. Os xiitas afirmam também "que desde o início Alá e Seu Profeta haviam claramente nomeado Ali como único legítimo sucessor, mas que os três primeiros califas usurparam seu cargo de direito". (História dos Árabes) Naturalmente, o conceito dos muçulmanos sunitas é outro.
O que aconteceu com Ali? Durante seu domínio como quarto califa (656-661), surgiu uma rixa a respeito de liderança entre ele e o governador da Síria, Moávia. Envolveram-se entre ele e o governador da Síria, Moávia. Envolveram-se em batalha, mas, daí, para evitar mais derramamento de sangue muçulmano, eles submeteram a sua disputa ao arbítrio. Ter Ali aceitado o arbítrio enfraqueceu a sua causa e alienou muitos de seus seguidores, incluindo os Caridjitas (dissidentes), que se tornaram seus inimigos mortais. No ano 661, Ali foi assassinado por um caridjita fanático, com um sabre envenenado. Os doisgrupos (sunitas e xiitas) estavam em forte desacordo. Daí, o ramo sunita do islamismo escolheu um líder dentre os omíadas, ricos chefes de Meca, que não eram da família do profeta.
Para os xiitas, o primogênito de Ali, Hasã, neto do profeta, era o verdadeiro sucessor. Contudo, ele renunciou e foi assassinado. Seu irmão Husain tornou-se o novo imane, mas também foi morto, por tropas omíadas, em 10 de outtubro de 680. A sua morte, ou martírio, como os xiitas a encaram, teve um significativo efeito sobre o Shiat Ali, o partido de Ali, efeito que perdura até os dias de hoje. Eles crêem que Ali era o verdadeiro sucessor de Maomé e o primeiro "imane (líder) divinamente protegido contra o erro e o pecado." O maior segmento dos xiitas crê que houve apenas 12 verdadeiros imanes, e que o último destes, Maomé al-Muntazar, desapareceu (em 878) "na gruta da grande mesquita de Samarra, sem deixar descendência". Assim, "ele se tornou o imane oculto (mustatir) ou esperado (muntazar) ...No devido tempo ele aparecerá como o Madi (o divinamente guiado) para restaurar o verdadeiroislamismo, conquistar o mundo inteiro e introduzir um breve milênio antes do fim de todas as coisas". - História dos Árabes.
Anualmente, os xiitas comemoram o martírio do Imame Husain. Fazem procissões em que alguns se cortam com facas e espadas e de outras formas se autoflagelam. Em tempos mais recentes, os muçulmanos xiitas têm estado frequentemente nas notícias devido ao seu zelo pelas causas islâmicas. Contudo, eles representam apenas uns 20 por cento dos muçumanos do mundo, a maioria dos quais são muçulmanos sunitas. Agora, consideremos alguns dos ensinamentos do islamismo e vejamos como a fé islâmica afeta a conduta diária dos muçulmanos.
O supremo é Deus, não Jesus
As três maiores religiões monoteístas do mundo são o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Mas, na época em que Maomé apareceu, perto do começo do sétimo século, as duas primeiras religiões, a seu ver, haviam-se desviado do caminho da verdade. De fato, segundo certos comentaristas islâmicos, o Qur'ãn implica a rejeição de judeus e de cristãos, dizendo: "À senda (caminho estreito) dos que agraciaste, não à dos abominados nem à dos extraviados." (Surata 1:7)
Diz certo comentário alcorânico: "O povo do Livro desencaminhou-se: Os judeus por violarem o seu Pacto, e difamarem Maria e Jesus... e os cristãos por enaltecerem Jesus, o Apóstolo, à igualdade com Deus", por meio da doutrina da Trindade. - Surata 4:153-176
O principal ensinamento do islamismo, simplificando ao máximo, é o que se conhece por chahada, ou confissão de fé, que todo muçulmano conhece de cor: "La ilah illa Allah; Muhammad rasul Allah" (Não há deus senão Alá; Maomé é o mensageiro de Alá). Isto se harmoniza com a expressão alcorânica: "Vosso Deus é um só. Não há mais deus que ele, Clemente, Misericordiosíssimo." (Surata 2:163) A respeito da unicidade de Deus, o Qur'ãn reza: "Crede, pois, em Deus e em Seus apóstolos, e não digais: Trindade! Abstende-vos disso que será melhor para vós; sabei que o cristianismo verdadeiro não ensina a Trindade. Trata-se de uma doutrina de origem pagã introduzida por apóstatas da cristandade após a morte de Cristo e dos apóstolos.
Alma, ressureição, paraíso e inferno de fogo
O islamismo ensina que o homem tem uma alma que sobrevive para uma vida futura. O Qur'ãn diz: "Deus (Alá) recolhe as almas no momento da morte e, os que não morrem, ainda, (recolhe) durante o sono. Ele retém aqueles cuja morte tem decretada." (Surata 39:42) Ao mesmo tempo, a surata 75 é inteiramente devotada à Alquiáma ou Ressureição" ou "Levantamento dos Mortos". Ela diz em parte: "Pelo dia da ressureição...por ventura, crê o homem que jamais reuniremos seus ossos?...Perguntam: Quando acontecerá o dia da ressureição? Não será Alá capaz de ressuscitar os mortos? - Surata 75:1,3,6,40.
Segundo o Qur'ãn, a alma pode Ter diferentes destinos, que pode ser um jardim celestial paradisíaco ou a punição num inferno ardente. Como diz o Qur'ãn: "Perguntam: Quando chegará o Dia do Juízo Final? Será o dia em que forem torturados no fogo! Ser-lhe-á dito: Sofrei a vossa tortura! Eis aqui o que pretendestes urgir!" (Surata 51:12-14) "Sofrerão [os pecadores] um castigo na vida terrena; porém, o do outro mundo será mais severo ainda e não terão defensor algum ante Deus [Alá]. (Surata 13:34) Pergunta-se: "E que é que te fará entender isso? É o fogo ardente!" (Surata 101:10, 11) Esse pavoroso destino é o descrito em detalhes: "Quanto àqueles que negam Nossos versículos, introduzi-los-emos no fogo infernal. Cada vez que sua pele se tiver queimado, trocá-la-emos por outro, para que experimentem mais e mais o suplício. Sabei que Deus [Alá] é Poderoso, Prudentíssimo. '' (Surata 4:56) Outra descrição declara: "Em verdade, o inferno será uma emboscada...onde permanecerão séculos, até milênios, em que não provarão do frescor nem de (qualquer) bebida, a não ser água fervente e uma paralisante beveragem.'' - Surata 78:21, 23-25.
Os muçulmanos crêem que a alma dos falecidos vai para o Barzakh, ou "Barreira'', "o lugar ou estado em que as pessoas estarão após a morte e antes do Julgamento''. (Surata 23:99, 100, AYA, nota) A alma está cônsciaa ali, sofrendo o que se chama de "Punição do Túmulo" se a pessoa foi má, ou desfrutando a felicidade, se foi fiel. Mas, os fiéis também têm de sofrer algum tormento por causa de seus poucos pecados enquanto estavam vivos. No dia de juízo, cada qual encara seu destino eterno, que finda aquele estado intermediário.
Em contraste, aos justos se promete jardins celestiais paradísicos: "Quanto aos crentes que praticam o bem, introduzi-los-emos em jardins abaixo dos quais correm rios, em que morarão eternamente." (Surata 4:57) "Naquele dia os moradores do Paraíso em nada pensarão a não ser na sua felicidade. Junto com suas esposas, reclinar-se-ão sob arvoredos sombreados em sofás macios." (Surata 36:55, 56, NJD) "Antes disso Nós escrevemos nos Salmos, depois da Mensagem (dada a Moisés): 'Meus servos, os justos, herdarão a terra.' " A nota sobre essa surata remete o leitor para o Salmo 25:13 e 37:11, 29 e às palavras de Jesus em Mateus 5:5. (Surata 21:105, AYA) A menção de esposas leva-nos agora à outra pergunta.
Monogamia ou poligamia?
É a poligamia a regra entre os muçulmanos? Embora o Qur'ãn permita a poligamia, muitos muçulmanos têm apenas uma esposa. Devido à numerosas viúvas resultantes de custosas batalhas, o Qur'ãn fez concessão para poligamia: "Se temerdes ser injustos para com as órfãs, podereis desposar duas, três, ou quatro das que vos aprouver entre outras mulheres. Mas, se termerdes não poder ser equitativos para com estas, casai, então, com uma só, ou conformai-vos com o que está ao alcance de vossas mãos." (Surata 4:3) Uma biografia de Maomé, feita por Ibn-Hi-sham, diz que Maomé casou-se com uma viúva rica, Cadidja, 15 anos mais velha do que ele. Depois que ela morreu, Maomé casou-se com muitas mulheres. Ao morrer, deixou nove viúvas.
Outra forma de casamento no islamismo é chamada de mutah. É definido como "contrato especial celebrado entre um homem e uma mulher através da oferta e aceitação de casamento por um período limitado e com dote especificado, semelhante ao contrato para casamento permanente". (Islamuna, de Mustafá al-Rafafii, em inglês) Os suniras chamam-no de casamento por prazer, e os xiitas, um casamento a ser encerrado num período específico. Diz a mesma fonte: "Os filhos [de tais casamentos] são legítimos e têm os mesmos direitos que os filhos de um casamento permanente." Parece que essa forma de casamento permanente." Parece que essa forma de casamento temporário era praticada nos dias de Maomé, e ele permitiu que continuasse. Os sunitas insistem que foi proibida mais tarde, ao passo que os imamis, o maior grupo xiita, crê que ainda vigora. Muitos, efetivamente, o praticam, em especial quando um homem se ausenta de sua esposa por um longo período.
O islamismo e a vida diária
O islamismo envolve cinco principais obrigações e cinco crenças básicas. Uma das obrigações é que os muçulmanos devotos orem (salat) cinco vezes por dia, voltados para Meca. No Sábado muçulmano (Sexta-feira), os homens afluem à mesquita para oração ao ouvirem o chamado do muezim, do alto do minarete da mesquita. Hoje em dia, muitas mesquitas tocam uma gravação, em vez de fazerem uma chamada de viva voz.
Mesquita (masjid, em árabe) é o local de adoração dos muçulmanos, chamado pelo Rei Fahd Bin Abdul Aziz, da Arábia Saudita, de "pedra fundamental para invocar a Deus". Definiu a mesquita como "local de oração, estudo, atividades legais e judiciais, consultas, pregação, orientação, educação e preparação... A mesquita é o coração da sociedade muçulmana". Esses locais de adoração se encontram agora em todo o mundo. Um dos mais famosos na história é a Mezquita (Mesquita) de Córdoba, Espanha, que por séculos era a maior do mundo. A sua parte central é agora ocupada por uma catedral católica.
Conflitos com a Cristandade e no seio desta
A partir do sétimo século, o islamismo expandiu-se para o oeste, à África do Norte, para o leste, ao Paquistão, à Índia, ao Bangladesh, e até a Indonésia. Ao assim fazer, entrou em conflito com a militante Igreja Católica, que organizou Cruzadas para recuperar dos muçulmanos a Terra Santa. Em 1492, a raínha Isabel e o rei Fernando, da Espanha. Os muçulmanos e os judeus tinham de converter-se, sob pena de serem expulsos da Espanha. A tolerância mútua que existira sob o domínio muçulmano na Espanha mais tarde se evaporou sob a influência da Inquisição católica. Contudo, o islamismo sobreviveu e, no século 20, tem experimentado um ressurgimento e grande crescimento.
Enquanto o islamismo se expandia, a Igreja Católica enfrentava sua própria inquietação, tentando manter a união em suas fileiras. Mas, duas poderosas influências estavam para irromper em cena, e elas destroçariam ainda mais a imagem monolítica dessa igreja. Tratava-se da imprensa e da Bíblia na língua do povo.



Fundamentação Doutrinária

Dogmas

O foco principal do Islam é o Monoteísmo (a concepção do Deus único) e a revelação d´Ele ao profeta Maomé (Mohammad).

“Não há deus senão Alá ( Deus) , e Maomé é seu Profeta.”

Os muçulmanos seguem um conjunto de cinco obrigações religiosas, chamado de “Os cinco Pilares”: credo, oração,zacat(caridade, jejum e a peregrinação à Caaba que fica na cidade de Meca (Makkah).

Livros Sagrados

o Corão (Alcorão) – livro sagrado dos muçulmanos que reúne as revelações para o profeta Maomé (Mohammad). O primeiro Corão foi compilado por volta de 650 EC (Era Comum). Este livro maravilhoso do ponto de vista dos ensinamentos e do seu estilo literário, é um conjunto de 114 capítulos (suras), que se organizam da seguinte forma: os textos mais longos vêm primeiro, seguidos pelos mais curtos. Exceção à regra, é a sura 1, que inicia o Corão. Denominado “Al Fatiha” (a abertura), este capítulo inicial louva Alá e pede Sua orientação. Para os muçulmanos, o Corão contém as palavras exatas de Deus, que conforme eram reveladas a Maomé, este as recitava e seus seguidores as escreviam. Algumas histórias são de profetas do Velho e do Novo Testamento da Bíblia.

As leis do Corão dividem as ações humanas em vários grupos:

Fard – o que deve ser feito.

Mandub – ações encorajadas e recompensadas por Deus.

Mubah – ações nem punidas, nem recompensadas, pois o Corão nada fala sobre elas.

Makruh – atos desencorajados, mas não punidos.

Haram – ações ilegítimas e puníveis por lei.

Sunna – Palavra que significa “caminho”ou "lei". São as palavras e atos do profeta. É a explicação prática do conteúdo do Corão através dos ditos, atos e afirmações do profeta Maomé.

Hadith – Dizeres e relatos das ações do profeta, que foram compilados, para servir de exemplo para a geração futura. Duas das mais confiáveis coleções são a do imã Bukhari e a do imã Muslim.

Templos

Mesquitas - São os templos muçulmanos. A maioria possui planta retangular. Um arco na parede, denominado “mihrab”, indica a direção de Kaaba. À sua direita, geralmente com três degraus, está o “mimbar”, de onde o imã fala. Em grandes mesquitas do Oriente Médio, oficiais ficam sobre uma plataforma denominada “dakka”; ao lado há o “kursi”, estante sobre a qual é apoiado o Corão.

Kaaba – É o centro físico da fé islâmica. Todas as orações são feitas em sua direção. Primeiro santuário construído por Ibrahim para adorar o Deus Único, a Kaaba está localizada na cidade de Meca (Makkah). Estrutura oca em forma de cubo, com a pedra negra encravada no lado oriental, constitui o início e o fim do Hajj – peregrinação à cidade de Meca (Makkah).


O link deste texto acima foi mudado e não consegui atualizar.

Mais informações em http://www.mundoislamico.com/ e também em http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/islamismo/index.html

BÁRBAROS - MONASTICISMO OCIDENTAL E GREGÓRIO MAGNO

GREGÓRIO MAGNO
O PRIMEIRO PAPA MEDIEVAL



A sua consagração como o bispo de Roma divide o período antigo história da Igreja do período medieval. A Igreja Católica vê o período entre 500 e 1000 como a era de outro da história humana. Ele foi o intérprete de Agostinho para a idade média, com ênfase eclesiástica e sacramental. Puçá originalidade, expôs o sistema teológico do ocidente em harmonia com o cristianismo popular.

Gregório tornou-se o símbolo do novo mundo medieval em que a cultura foi institucionalizada dentro da Igreja dominada pelo bispo de Roma.

Gregório (540 – 604), geralmente chamado O Grande, nasceu nos turbulentos tempos em que o Império oriental sob Justiniano buscava reconquistar a metade ocidental do Impe’rio que fora perdida para as tribos teutãs. Pilhagens, doenças e fome estavam na ordem do dia.

De família tradicional, nobre e rica em Roma, recebeu uma educação jurídica para se preparar para a vida pública, estudou latim, familiarizado com Ambrósio, Jerônimo e Agostinho, conheceu pouco da literatura clássica ou filosófica de Roma. Foi escolhido prefeito de Roma em 573, uma posição importante. Logo depois disto, abandonou a fortuna que herdara do pai – a mãe Silvia, entrara para um convento após a morte do esposo – usou os lucros para construir sete mosteiros na Itália, dos quais o mais importante erigido no palácio do pai, tornou-se então monge ali. De 579 a 585, sem falar grego foi embaixador do bispo de Roma em Constantinopla, Depois de sua volta a Roma, foi escolhido abade do mosteiro de Santo André, que ele fundara após a morte do pai.

Tornou-se monge porque entendia que o ascetismo era uma forma de glorifica a Deus. Quando o papa Pelágio morreu, atacado por uma epidemia, em 590, Gregório foi escolhido para substituí-lo.

Seu epitáfio foi Cônsul de Deus, foi um dos gigantes da Igreja Romana, por ter renunciado a grande riqueza impressiona a sua geração, humilde, via-se como o servo dos servos de Deus. Missionário zeloso foi responsável pela conquista dos ingleses para o cristianismo, Sua formação fez dele um administrador dos mais competentes da igreja, mas era infelizmente supersticioso e crédulo. Ampliou o poder de bispo romano, embora não reivindicasse o título de papa, exerceu todos os poderes e prerrogativas dos papas posteriores. Mesmo quando contestou o título de bispo universal de João, o Jejuador, patriarca de Constantinopla, e para isto se aliou a Focas, usurpador do trono, não aceitou de ser chamado de papa universal mas sim de “servo dos servos de Deus”, por outro lado não permitiu que outro ostentasse este título. Como interessado na obra missionário, enviou a Agostinho, não o de Hipona, para a Inglaterra e lá trouxe os ingleses ao cristianismo e subordinou esta igreja a Roma.

Além disto tornou o episcopado de Roma um dos mais ricos da Igreja de sua época, por ser excelente administrador. Com este dinheiro foi capaz de juntar tropas e forçar o governante Lombardo a aceitar a paz e ganhou-o do arianismo.

Foi, mas há falta de documentação contemporânea, o organizador do canto gregoriano. Foi um grande pregador, apresentado uma mensagem de desafio para o tempo de crise em que viveu. Seus sermões eram práticos e salientavam a humildade e a piedade, embora grandemente prejudicados por um uso excessivo de alegoria, um erro comum na época.

Além dos sermões escreveu um comentário sobre o Livro de Jó, ele propõe uma interpretação moral e recorre à alegoria , pinta Jó como um tipo de Cristo, sua esposa como um tipo de natureza carnal, os 7 filhos como tipos de clero e as 3 filhas como tipos dos leigos fiéis. Era ta respeito como professor na Igreja Ocidental que é representado sempre com uma pomba, símbolo do Espírito, pousada em seu ombro e comunicando-lhe a verdade divina nos ouvidos.

Foi um teólogo destacado. Colocou os fundamentos da teologia romana até Aquino, Cria que o homem era um pecador por nascimento e escolha, mas discordava da doutrina agostiniana ao afirma que o homem não herdava a culpa de Adão mas apenas o pecado, como uma doença a que todos estão sujeitos, Sustentava que a vontade era livre e que apenas sua bondade fora perdida. Aceitava a predestinação limitando-a porém aos eleitos, não via a graça como irresistível.

Defendia a idéia das boas obras e aceitava a do purgatório como um lugar onde as almas seriam purificadas antes de sua entrada nos céus. Sustentava a inspiração verbal da Bíblia mas estranhamente dava a tradição o mesmo papel da Bíblia. Gregório ensinou as boas obras e a invocação dos santos para conseguir sua ajuda.

A sua teologia é agostiniana, mas com ênfase diferente, expande todas as tendências eclesiásticas de Agostinho e o material colhido do cristianismo popular. Milagres, anjos e o diabo ocupam no sistema de Gregório um lugar de muito maior destaque do que lhes coube no de Agostinho. Sistematizou a doutrina e fez a Igreja uma potência na área política

MONAQUISMO - DOS PRIMÓRDIOS AO SÉC. VII - INÍCIO
Por Maria Ester Vargas
INTRODUÇÃO
O objeto do presente estudo é o monaquismo, que constitui o grande alicerce para a expansão do Cristianismo à escala mundial. Não é nosso propósito desenvolver este tema relativamente ao período do seu grande apogeu - Idade Média -, mas sim referir-nos às suas origens e seus antecedentes, de modo a podermos compreender melhor como se chegou a um período tão áureo na vida monacal medieval. Debruçar-nos-emos, pois, sobre o tempo em que o Monaquismo nasceu, à margem da Igreja oficial, que tinha dificuldade em reconhecer o valor e a utilidade que os mosteiros poderiam ter na expansão e afirmação do ideal Cristão, 1 por suspeitar que eles espalhavam doutrinas duvidosas, para depois ir ganhando terreno no seu seio, transformando-se num meio imprescindível na afirmação da doutrina de Cristo.
Focaremos, igualmente, a evolução e o percurso do monaquismo, primeiro no Médio Oriente, seguindo-se o Norte de África e, finalmente, a Europa Central e Ocidental. Tentaremos demonstrar a importância e o contributo das principais Regras que ajudaram a fornecer bases bem precisas para "uma vida monástica mais consistente"2.
Em capítulo detalhado, desenvolveremos com maior pormenor a questão do monaquismo nas Ilhas Britânicas, com especial relevo para o monaquismo celta, que teve características próprias e bem definidas.
Tentaremos demonstrar que a Cristianização das Ilhas Britânicas não foi um processo pacífico, e que a uma determinada altura estabeleceu o caos e a confusão, devido à coexistência de várias correntes da vida monástica: a Celta e a de Roma.
Deter-nos-emos no Sínodo da Whitby (673), do qual resultou "a unificação religiosa da Inglaterra sob a orientação de Roma"3, embora tenham persistido ainda alguns redutos do Monaquismo Celta, sobretudo na Irlanda.
Escolhemos este fato por considerarmos que ele culmina um período bem demarcado do Monaquismo Ocidental - o seu nascimento e implantação, que será fundamental para o período de grande apogeu da vida dos mosteiros que se lhe seguiu e que, inclusivamente, originou a criação e a difusão de novas ordens monásticas.
Quanto à metodologia de trabalho utilizada, a mesma teve por base bibliografia variada e que é indicada em secção própria, de modo a possibilitar o confronto de ideais e a superação de lacunas que uma visão unilateral obrigatoriamente teria.
Esperamos que o nosso estudo ajude a uma reflexão e a uma sistematização sobre a maneira que os homens encontraram de chegar a Deus, tentando atingir a perfeição, meditando, alheando-se das coisas terrenas através da oração, humildade e obediência. A esse modo de vida religiosa se chamou MONAQUISMO
CONCEITO DE MONAQUISMO
Ao depararmos com o temo Monaquismo, de imediato nos surge a idéia de isolamento e de alheamento do mundo. Com efeito, o Monaquismo é um sistema de vida de consagração à causa divina, que tenta chegar a Deus passando pelo recolhimento e uma vida de dedicação e interiorização.
A esta palavra associa-se uma outra - monge -, que deriva do grego monos, (único, só). Etimologicamente, designa aquele que vive solitário, dedicando a sua vida ao serviço de Deus, dedicação essa assumida livremente e que pressupõe o cumprimento das normas estabelecidas numa Regra, baseando-se sempre nos conceitos de castidade, pobreza e obediência.
Embora tenha assumido formas diferentes, como iremos verificar, o que é certo é que o Monaquismo tem sido uma constante na vida de várias religiões, à partida completamente díspares (ex: Monaquismo Budista versus Monaquismo Cristão), revelando-se acima de tudo como "algo universal e inerente à condição dos fiéis que pretendem desenvolver a sua vida espiritual no sentido da perfeição"4.
ORIGENS DO MONAQUISMO CRISTÃO
Desde os primórdios da Cristandade que os ideais livremente assumidos de virgindade e castidade em louvor do Reino de Deus foram motivo de admiração. Essa escolha era feita "por fiéis de ambos os sexos que abraçaram uma vida de plena imitação de Cristo e que, para além dos votos referidos, praticavam a oração e a mortificação paralelamente com obras de misericórdia"5.
Como causas deste procedimento, poderemos referir a "repugnância pela imoralidade reinante"6 e, sobretudo para as mulheres, o facto de esse tipo de vida lhes proporcionar uma certa emancipação, tendo em conta a servidão social que o matrimônio assumia na época.
É curioso realçar o facto de, na maior parte dos casos, estes votos serem feitos sem quaisquer solenidades públicas, permanecendo as pessoas no seio das suas famílias, não tendo vestuário que os distinguisse das outras pessoas.
A partir do século IV começou a ser habitual a realização de um ritual de consagração das virgens, - o velario -7 que costumava ter lugar nas grandes festas litúrgicas e na presença de fiéis.
Este tipo de consagração a Deus foi-se generalizando cada vez mais, tornando-se quase numa moda, sobretudo nos meios aristocráticos. A ilustrar esta afirmação, poderemos citar o exemplo de Paulino de Nola e Terásia, casal da nobreza imperial romano-cristã, que "se desfizeram de patrimônios imensos e assumiram uma existência de fiéis discípulos de Cristo, segundo os ensinamentos do Evangelho"8. Importante se torna referir aqui a figura de São Jerônimo, que dirigiu espiritualmente os círculos ascéticos de nobres senhoras romanas, primeiro em Roma e depois na Palestina9.
As "virgens consagradas" terão sido, na nossa opinião, o embrião da vida monástica, uma vez que a sua práxis tinha a ver com a renúncia do mundo pelo ideal de Cristo, para além do fato de já possuírem uma forma de vida consagrada, ainda que muito incipiente.
MONAQUISMO ORIENTAL
Mas onde, e quando, terá sido a origem do fenômeno normalmente designado por Monaquismo, ou Monacato, se utilizarmos a terminologia de Fortunado de Almeida10?
Ao certo, não se sabe. É comum designar-se monge aquele que segue uma Regra antiga, mas o que é certo é que, muito antes de se terem estabelecido Regras, já havia formas de vida monástica baseadas na segregação do mundo - o contemptus saeculi -, como condição prévia para a purificação interior, abrindo o caminho da contemplação divina11.
João Cassiano, que depois de passar muitos anos entre os monges da Palestina, Egito e Constantinopla se estabeleceu na Provença e fundou dois mosteiros em Marselha, onde permaneceu o resto da sua vida, considerava que o Monaquismo já vinha do tempo dos Apóstolos12. Outros apontam para a época de Jesus. J. Allegro, no seu livro O Mito Cristão e os Manuscritos do Mar Morto aponta para o estudo dos documentos encontrados já neste século nas margens do Mar Morto e que dão testemunho da vida monástica (essénios e terapeutas) na época de Jesus Cristo, e que teriam influenciado os primeiros Cristãos. Estas comunidades espalharam-se até à Tebaida e parece ter sido nessa região - fronteira entre a Ásia e a África -, que a tradição diz ter nascido o Monaquismo Cristão13.
Com a promulgação da liberdade de culto e religião decretada pelo Édito de Milão de Constantino, ser Cristão passou a não comportar os riscos de outrora,
Alguns, desejando levar uma vida mais fervorosa, menos enredada nas preocupações do mundo, partiram para o deserto praticando aí uma vida de pobreza e humildade de acordo com os preceitos do Evangelho, tendo sido designados por Padres do Deserto.
A maior parte vivia isolada, por vezes com alguns discípulos à volta de um mestre, só voltando a encontrar-se com a comunidade para a celebração da liturgia. Muito pouco se sabe sobre a sua vida, que apenas veio até nós através dos Apotegmas - textos que nos relatam os seus atos através das suas palavras e que nos apresentam homens submetidos à tentação que se dedicam a viver o ideal de perfeição ensinado por Jesus14.
Como expoente e símbolo deste tipo de vida monástica apelidada de anacoreta ou eremita, temos Santo António do Egito, também conhecido por Santo Antão, que influenciou diretamente através do seu próprio exemplo, e indiretamente através do espírito, um grande número de aderentes ao anacoretismo, o qual se revestia de duas formas: absoluto, (solidão total) e temperado (sob a direção de um "pai" espiritual)15.
Graças à sua ação, esta forma de Monaquismo espalhou-se pelo alto Egito, Palestina, indo até à Síria e à Mesopotâmia.
Mas o anacoretismo não foi a única forma de vida consagrada existente nesta época.
São Pacómio, coevo de Santo António do Egito, trouxe ao Monaquismo novos elementos de grande importância - a vida em comum e a obediência a um superior religioso: cenobitismo16.
Ainda uma referência muito especial para o Cristianismo Copta que, de certa forma, foi uma conseqüência do Monaquismo Egípcio19. Graças à sua ação, O Cristianismo penetrou amplamente nas populações de camponeses de língua copta, principalmente porque os monges eram na sua maioria gente de condição humilde. Desde os tempos de São Atanásio, eram apoiantes acérrimos dos Patriarcas de Alexandria, a quem apelidavam de chefes religiosos e nacionais. Após o Concílio de Calcedônia (451), os monges, desconhecedores das disputas teológicas, seguiram incondicionalmente os seus patriarcas e caíram na heresia monofisista, surgindo assim outra corrente Cristã desvinculada de Roma e de Constantinopla que se foi isolando cada vez mais, sobretudo desde a conquista islâmica do século VII, passando a ser conhecida por Cristianismo Copta20.
MONAQUISMO OCIDENTAL
Herdeiro das tradições orientais, o Monaquismo Ocidental teve um papel de extrema importância na consolidação do ideal cristão.
Na Grécia, foi São Basílio, bispo de Cesareia, quem desenvolveu e organizou a vida dos ascetas, tendo escrito algumas "Regras", que ainda hoje são observadas no mundo ortodoxo.
Aliás, a fundação de mosteiros no Ocidente está sempre ligada à elaboração de um conjunto de normas orientadoras na organização dos Institutos de Vida Consagrada, utilizando a terminologia do atual Código do Direito Canônico.
Santo Agostinho de Hipona foi outro nome deste período, escrevendo, igualmente, uma Regra que viria a obter grande sucesso na Idade Média. São Martinho de Tours notabilizou-se também, através da fundação de mosteiros, entre os quais se salientam os de Ligugé e Marmoutier. Referência ainda para os nomes de Columba e Patrício, grandes impulsionadores do monaquismo celta.
Primordial se torna falar de São Bento de Núrsia - "last but not least" -, cuja Regra iria reger durante vários séculos quase todos os mosteiros do Ocidente, tornando-se numa grande personagem, senão maior, entre aqueles que fundaram mosteiros e escreveram Regras, sendo justamente chamado "Pai dos Monges do Ocidente"21 e designado Patrono da Europa.
Para além de se basear nas suas próprias experiências recolhidas nos mosteiros que fundou e onde viveu (Subiaco e Montecassino), a sua Regra, estabelecida em meados do sec. VI, inspirou-se nas que então se praticavam: as de Pacómio, Agostinho e Cassiano.
Contudo, segundo Souther, R.W., no seu livro A Igreja Medieval, "parece hoje indiscutível que São Bento copiou quase literalmente grande parte da sua Regra, incluindo algumas das passagens mais famosas acerca do ensino espiritual, da Regra de um autor anterior conhecido como Mestre"22. De acordo com a fonte citada, as duas Regras apresentam no entanto algumas diferenças, entre as quais se salientam:
REGRA DO MESTRE REGRA DE SÃO BENTO
- muitas generalidades, com pouca prática; longas descrições da vida no Paraíso e de natureza monástica.
- aspectos demasiado particularizados para serem significativos:
Regulamentação acerca do tossir, cuspir e respirar pelo nariz por forma a não ofender os anjos.
- revela espírito impetuoso e investigador do Mestre.
- o Abade parecia preocupar-se mais com os que se fingiam doentes.
- a obediência absoluta era uma virtude apenas alcançável por uns quantos monges perfeitos. - omitiu-se tudo isto, conservando apenas o que tinha interesse prático, resumindo tudo o mais possível e conferindo-lhe claridade.
- deu grande ênfase à rotina exacta dos ofícios diários.
- prova-se a humildade que exigia aos próprios monges.
- o abade destinava-se acima de tudo a cuidar dos doentes.
- a obediência absoluta era uma virtude alcançável por todos os bem-aventurados.

Mas como e porque é que esta Regra se tornou o expoente máximo do Monaquismo Ocidental?
Em nosso entender, isso ficou a dever-se ao fato de a Regra fornecer bases concretas e precisas para uma vida monástica, conservando, todavia, uma certa flexibilidade, pretendendo indicar um caminho para uma nova ordem e incluindo pormenores de vida diária, indicações sobre os salmos a recitar, quais os livros a ler e sobre as pessoas responsáveis pelas várias atividades, entre outros aspectos da vida dos monges. Sendo abrangente, a Regra de São Bento tem como princípio base da sua doutrina o ideal de obediência de corpo e alma:
- aos princípios espirituais contidos nos Evangelhos;
- à Regra;
- ao abade;
"Aqueles que cumprem, devem, pelo trabalho de obediência, regressar a Deus, que abandonaram devido ao pecado da desobediência"23.
A figura do abade tem grande peso na ordem beneditina, considerado o vigário de Cristo na Comunidade. Logo, a sua palavra tem que ser ouvida como se fosse a do próprio Deus. O abade vai ter na Regra beneditina um papel de consolador e encorajador, sobretudo relativamente aos que incorrem na pena de excomunhão por cauda da desobediência24. Aliás, esta ternura tão pouco habitual em regras anteriores, vai ser uma das principais características da Ordem, conferindo-lhe um sentido universal, destinada a todos os homens da Terra, misturando severidade e rigor com ternura, apoio e compreensão.
A Regra de São Bento ajudou a diluir a idéia defendida no início do séc. VI, e suportada por Santo Agostinho, segundo a qual era difícil que um bom monge se tornasse um bom clérigo. "No one can both perform ecclesiastical (clerical) duties and remain by due order under monastic rule"25.
Com efeito, a Regra possibilitou a evolução e preparação dos monges, que inicialmente eram analfabetos na sua maioria, não tendo formação adequada para exercerem funções de presbíteros. A insistência numa vida em comunidade fechada - a estabilidade era um dos princípios bases da Regra-, produzia um tipo de monge mais civilizado que podia ser aproveitado para o clero secular após uma preparação adequada.
Quando São Bento faleceu, apenas três mosteiros abservavam as suas prescrições e trinta anos mais tarde o próprio mosteiro de Montecassino era destruído pelos Lombardos.
Ao ser eleito Papa, Gregório Grande, antigo monge beneditino, encarregou-se de propagar a Regra da sua Ordem tendo em mente dois objetivos bem definidos26:

1. favorecer o monaquismo, na medida em que era melhor para a expansão do Cristianismo;
2. desenvolver uma legislação unificada sobre a qual poderia exercer maior controle.

No final do seu pontificado já uma grande rede de mosteiros beneditinos cobria a Europa, entre os quais se salientaram as abadias de Jarrow, Malmesbury e Westminster, na Inglaterra, bem como as fundações antigas reconvertidas de Lérins e Marmoutier.
Gradualmente, e com o grande incremento dado por Gregório o Grande, o ideal beneditino foi-se espalhando e alicerçando tendo absorvido até a Regra de Columba, na Irlanda.
A Península Ibérica foi também influenciada pela corrente monástica que então se vivia na Europa.
De imediato ressaltam dois nomes: São Martinho de Dume, que na segunda metade do séc. VI trouxe à Galécia a doutrina do Monaquismo Oriental; de São Frutuoso de Braga, monge visigodo propulsor de um movimento ascético que sobreviveu à invasão islâmica, tendo composto uma Regra para monges e que mais tarde originou uma Regra comum.27.
No reino visigodo cristão vários Padres Hispânicos elaboraram Regras. Entre eles, salientaram-se São Leandro, com uma Regra para Virgens, dedicada a sua irmã Florentina, e Santo Isidoro, cuja Regra se destinou ao mosteiro Honorianense, na Bética.
A vida monástica na Hispânia estava subordinada aos prelados diocesanos-bispos, que tinham o direito não só de escolher o abade dos mosteiros mas também o de corrigir os excessos cometidos contra a Regra.
Este fato demarcou o monaquismo da Espanha goda do ideal beneditino, que impunha que o abade fosse eleito pela Congregação tendo a partir desse momento papel soberano sobre toda a comunidade.
No que se refere à província da Lusitânia, um dos seus mosteiros mais antigos foi o do Lorvão, segundo Fortunato de Almeida28, sendo provável que a sua fundação date de meados do séc. VI e que, a par dos mosteiros de Dume e de São Martinho de Tibães, constitui um marco importante da vida monástica em território que posteriormente viria a ser Portugal29.

VARGAS, Maria Ester. Apostolado Veritatis Splendor: O MONAQUISMO - DOS PRIMÓRDIOS AO SÉC. VII - INÍCIO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/1123. Desde 12/05/2003.

BÁRBAROS CRISTÃOS, DENTRO E FORA DO IMPÉRIO ROMANO

Os bárbaros - isto é, por definição, os povos que não falavam nem latim nem grego - sempre tinham cercado e ameaçado o Império Romano, que se protegia deles graças a uma fronteira militarizada contínua, o limes, o limite. No entanto, desde finais do século III, a crise que corroía o mundo romano tornou os custos desta defesa difíceis de assegurar. A barreira tornou-se cada vez mais permeável, mas o cristianismo ganhou com isso novas ocasiões para se difundir entre os povos vizinhos.
É verdade que, havia muito tempo, Roma fazia uma política de sedução junto dos bárbaros mais próximos. Oferecendo-lhes algum dinheiro, os imperadores uniam estas nações belicosas mas economicamente vulneráveis, que se fixavam junto das fronteiras, de modo a criar uma barreira protectora. Estas populações, mais ou menos sedentarizadas, abriam-se às influências culturais dos seus poderosos protectores. Ocasionalmente, o cristianismo aproveitava estas aberturas. Assim, no Norte da Arábia, uma tribo de sarracenos aliada de Roma converteu-se desde os anos 370.
Esta instalação dos povos clientes romanos nas fronteiras não bastou para travar a crise profunda que o Império vivia e cuja causa principal era provavelmente a queda da demografia. Por isso, para repovoar o mundo romano, os dirigentes dos séculos IV e V permitiram que bárbaros entrassem no seu território. Bastantes deles foram contratados para um exército que não conseguia encontrar recrutas entre os cidadãos. Alguns deles tiveram belas carreiras: a maior parte dos grandes generais do Império Tardio, como Estílico ou Estilicão [em latim, Flavius Stilicho], Bauto ou Arbogasto foram bárbaros. Embora, em geral, estes homens tenham permanecido pagãos, os seus filhos converteram-se ao cristianismo e casaram-se com membros das maiores famílias romanas.
Outro bárbaros, em grupos inteiros, foram instalados nas províncias despovoadas para as fortalecer. Assim aconteceu com diversos povos chamados "germânicos" que habitavam a leste do Reno e a norte do Danúbio
e foram arrastados para o Império pelos fluxos migratórios oriundos da Ásia central. Muitas vezes, era a fome que os levava a entrar no Império, não para pilhá-lo, mas para procurar a sua protecção. Quando, então, descobriam o cristianismo, as suas reacções à nova religião dependiam bastante das relações complexas que mantinham com os imperadores.
Nesta perspectiva, basta o destino dos visigodos para resumir o processo de evangelização dos bárbaros. Em meados do século IV, este antigo povo germânico vivia no baixo vale do Danúbio, quando recebeu a visita de Úlfila, um bispo capadócio, que lhe pregou o cristianismo e lhe traduziu a Bíblia em língua gótica. Ora, este Úlfila tinha participado em 360 no Concílio de Constantinopla, em que triunfara a profissão de fé proposta pelo imperador Constâncio II. Estabelecido no seu terreno de missão, Úlfila ensinou aos visigodos o único modelo trinitário que conhecia: a doutrina homoiana, que apresentava o Filho como ligeiramente subordinado ao Pai e que os seus opositores qualificavam como arianismo disfarçado. E assim, por mero acaso, acabava de nascer o "arianismo germânico".
Apesar do ardor de Úlfila, o sucesso do cristianismo não foi imediato. Entre 369 e 372, um dos chefes visigodos, Atanarico, lançou uma perseguição, provavelmente porque a nova religião ameaçava as antigas crenças tribais em torno das quais se fundava a identidade gótica. Tudo mudou quando o poder dos visigodos decaiu e o seu território foi invadido pelos Hunos. Em 376, o chefe Fritigerno foi obrigado a negociar a entrada do seu povo no território romano. Em sinal de boa vontade, converteu-se ao cristianismo homoiano, que, então, era a religião oficial do Império Romano do Oriente.
No entanto, o imperador Valente não teve consideração alguma pelos refugiados. Humilhou os chefes godos e provocou a fome entre os seus povos. Num movimento de desespero, os bárbaros revoltaram-se. Desastradamente, Valente tentou esmagá-los, subestimando a sua força. Assim fazendo, arrastou o exército romano para um dos piores desastres da sua história, a batalha de Andrinopla (378), em que ele próprio encontrou a morte. O traumatismo causado pela derrota selou o destino da doutrina homoiana no Império, onde se considerava que a morte do imperador tinha sido um castigo divino punindo a sua heresia. Em 380, o novo imperador, Teodósio I, pôde sem dificuldade impor o regresso ao catolicismo, doutrina do Concílio de Niceia (325).
Por seu lado, os visigodos continuaram a vaguear através do Império, ora como aliados, ora como inimigos. Mantendo-se fiéis à doutrina pregada por Úlfila, foram descobrindo pouco a pouco que os romanos já não professavam o mesmo modelo trinitário. E, em vez de se converterem ao catolicismo, preferiram continuar "arianos". De facto, embora sofressem uma forte romanização no seu modo de vida, a diferença religiosa permitia-lhes proteger a sua identidade étnica. Por isso, enquanto a língua gótica ia sendo cada vez menos usada no dia-a-dia em proveito do latim, continuava a ser a língua litúrgica da Igreja ariana.

Embora o cristianismo dos visigodos tenha sido fruto do seu oportunismo político, nem por isso era menos sincero. Quando, em 410, fizeram o saque de Roma, respeitaram o direito de asilo das basílicas. Foi preciso esperar por 418 para que, finalmente, o Império lhes confiasse uma tarefa digna e remunerada segundo as suas expectativas. Com efeito, receberam a missão de defender as províncias do Sul da Gália de todos os outros bárbaros. Continuando senhores deste imenso território aquando do desaparecimento do último imperador do Ocidente, os visigodos fizeram dele o seu reino.
Nas regiões que controlavam, os visigodos implantaram um clero ariano e construíram basílicas heréticas. Mas também difundiram a sua fé entre outros povos germânicos. Os ostrogodos, que lhes eram aparentados, tinham sido convertidos desde a época da sua instalação comum nas margens do Danúbio. Os seus reis conservaram esta fé depois de terem conquistado a Itália em 493. Do mesmo modo, os vândalos aceitaram a doutrina ariana, em circunstâncias mal precisas, mas em data muito precoce; o seu reino de África tornou-se uma terra de heresia. Em 466, a diplomacia conquistadora dos soberanos visigodos alcança também a conversão ao arianismo dos suevos instalados no Noroeste das Hispânias. Quanto aos burgúndios, fixados no Reno médio, tinham decidido converter-se ao catolicismo durante os anos 430, pensando que, assim, beneficiariam do apoio de Roma contra os hunos que ameaçavam as suas fronteiras. Mas ficaram cruelmente decepcionados. Por isso, quando, nos anos 470, voltaram a formar um reino independente ao redor de Lião, preferiram converter-se à religião dos seus poderosos aliados visigodos.
Em resumo, por volta do ano 500, no conjunto do Ocidente, o arianismo germânico tornara-se a "lei dos godos", símbolo da sua supremacia. Contudo e paradoxalmente,'as Igrejas arianas abstinham-se de todo o proselitismo em relação às populações locais. Na verdade, a única razão de ser da heresia - baseada numa subtileza teológica, cuja compreensão escapava a muitos - era manter nos novos reinos uma distinção entre "romanos" e "bárbaros". Para que esta estratégia de distinção funcionasse, ainda faltava que os romanos não se sentissem tentados a converter-se ao arianismo. Isso explica que os reis arianos, com a notável excepção dos vândalos, fossem extremamente tolerantes com os seus súbditos católicos.
Esta especificidade do arianismo germânico explica igualmente o seu fracasso entre os povos bárbaros que tinham escolhido aproximar-se das populações romanas. Foi o caso dos francos, que se converteram em massa ao catolicismo depois do baptismo do seu rei Clóvis, por volta do ano 500. Então, jogaram com a sua ortodoxia para se aliarem estreitamente às elites galo-romanas, nomeadamente com o episcopado. Estes apoios permitiram-lhes derrubar os visigodos da Aquitânia, em 507 (batalha de Vouillé).
Desde então, o arianismo começou a recuar em toda a parte. Em 516, os burgúndios proclamaram a igualdade das três pessoas divinas na Trindade,
a pedido do seu rei Segismundo. Em meados do século VI, foi a vez de os reinos vândalo e ostrogodo desaparecerem, vencidos pelos exércitos bizantinos. Então, o imperador Justiniano impôs a doutrina de Niceia no Norte de África e na Itália reconquistados. Os visigodos, voltando-se para as Hispânias, continuaram a ser durante muito tempo um dos últimos bastiões do arianismo. Contudo, em 589, o seu rei Recaredo ordenou a conversão do conjunto do seu povo à fé católica. Tendo compreendido que as tensões confessionais minavam o seu reino, preferira sacrificar a religião identitária dos godos.
Quando Gregório Magno se tornou papa em 590, o catolicismo já triunfava na maior parte dos povos bárbaros instalados nas antigas províncias do Império. Só os lombardos, senhores do Norte de Itália desde 568, se mantiveram fiéis, ainda por alguns decénios (até ao início do século VII) a um arianismo germânico cada vez mais anacrónico.
Bruno Dumézil


HISTÓRIA DO CRISTIANISMO. ALAIN CORBIN. EDITORIAL PRESENÇA, 119-121