sexta-feira, 5 de junho de 2009

CRONOLOGIA DAS CRUZADAS

A Primeira Cruzada e os novos estados da Terra Santa,
(1096 - 1099 - 1143)


Pedro, o Eremita discursa aos cruzados
diante de Jerusalém.

1095, começos. Aleixo I Comneno, imperador bizantino, envia uma embaixada ao papa Urbano II, para lhe pedir ajuda.

1095, Primavera. O papa Urbano II inicia a sua viagem a França.

1095, 18 de Novembro. Abertura do Concílio de Clermont.

1095, 26 de Novembro. Urbano II lança o seu apelo à Cruzada.

1096, Abril. Partida da Cruzada popular dirigida por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans Avoir. Massacres de judeus na Renânia.

1096, 6 de Julho. Concílio de Nimes: Urbano II confia a Raimundo de Saint-Gilles o comando de uma das expedições à Terra Santa.

1096, 1 de Agosto. A Cruzada popular chega a Constantinopla.

1096, Verão. Partida da Cruzada dos barões (Godofredo de Bulhão; Raimundo IV conde de Toulouse; Boemundo de Tarento; Estêvão conde de Blois; Tancredo de Hauteville e Roberto II conde da Flandres). O imperador alemão, Henrique IV, e o rei de França, Filipe I, estando excomungados, não puderam dirigir a Cruzada.

1096, 21 de Outubro. As tropas turcas e búlgaras do sultão de Niceia, Kilij Arslan, aniquilam a Cruzada popular na Anatólia. Pedro, o Eremita escapa ao massacre e foge para Constantinopla.

1096, 23 de Dezembro. Chegada de Godofredo de Bulhão a Constantinopla. O imperador de Bizâncio exige, e obtém, após muitas recusas, a promessa de restituição das terras e das cidades retomadas aos muçulmanos, e a aceitação da sua suserania sobre as novas conquistas.

1097, fim de Abril. O exército dos barões abandona Constantinopla, passando para a Ásia Menor.

1097, Maio. Tiro cai nas mãos dos Fatimidas do Egipto.

1097, Junho. Tomada de Niceia pelos cruzados, restituída a Bizâncio.

1097, 1 de Julho. Vitória franca contra o sultão turco de Iconium (Konya), em Dorileia.

1097, 13 de Setembro. Os cruzados dividem o exército em dois forças em Heracleia.

1097, 20 de Outubro. Chegada dos cruzados a Antioquia, e começo do cerco.

1097, 15 de Novembro. Balduíno de Bolonha abandona o campo dos cruzados e toma a direcção de Edessa, devido ao pedido de apoio do príncipe arménio da cidade.

1098, Fevereiro. Os Bizantinos abandonam o cerco de Antioquia. Balduíno chega a Edessa.

1098, Março. Balduíno de Bolonha proclama-se príncipe de Edessa, após a morte de Thoros, príncipe arménio, que lhe tinha pedido ajuda e o tinha adoptado. Funda assim o primeiro Estado Latino do Oriente.

1098, 3 de Junho. Tomada de Antioquia pelos Cruzados. Boemundo I de Tarento, chefe dos normandos da Itália meridional, recusa devolvê-la aos bizantinos e proclama-se príncipe de Antioquia.

1098, 4 de Junho. Os cruzados são cercados em Antioquia por um exército de socorro, comandado por Kerbogha, enviado pelo Sultanato seljúcida da Pérsia.

1098, 14 de Junho. Pedro Bartolomeu descobre a Santa Lança debaixo das lajes de uma igreja de Antioquia.

1098, 28 de Junho. Os cruzados de Antioquia derrotam as forças sitiantes muçulmanas.

1098, 26 de Agosto. Os Fatimidas ocupam Jerusalém.

1098,12 de Dezembro. Os cruzados apoderam-se de Maarat An Noman, na Siria. A população é massacrada e a cidade destruída.

1099, 13 de Janeiro. Os Francos retomam a sua marcha para Jerusalém.

1099, 2 de Fevereiro. O exército passa por Qal'at-al-Hosn, o futuro Krak dos Cavaleiros.

1099, 7 de Junho. O exército franco chega a Jerusalém.

1099, 13 de Junho. Primeiro assalto à cidade, sem qualquer preparação prévia, que falha.

1099, 10 de Julho. Assalto a Jerusalém. A muralha circundante é atravessada.

1099, 15 de Julho. Conquista de Jerusalém pelos cruzados. Massacre da população muçulmana e judia.

1099, 12 de Agosto. Os Francos derrotam os Egípcios em Ascalon, na costa mediterrânica, a norte de Gaza.

1099, 22 de Julho. Eleito rei de Jerusalém pelos barões, Godofredo de Bulhão só aceita o título de defensor do Santo Sepulcro.

1099, 1 de Agosto. Arnoul Malecorne, patriarca de Jerusalém. É substituído em 31 de Dezembro por Daimbert, bispo de Pisa, legado do papa.

1100. Acordo comercial entre Veneza e o Reino Franco de Jerusalém.

1100, 18 de Julho. Morte de Godofredo de Bulhão. Balduíno de Bolonha, irmão de Godofredo, príncipe de Edessa, é coroado primeiro rei de Jerusalém em Belém, no dia 25 de Dezembro.

1100-1101. Cruzadas de socorro. Cruzada lombarda (1) dirigida pelo arcebispo de Milão, Anselmo du Buis, Raimundo de Saint-Gilles, Estêvão-Henrique, conde de Blois, Estêvão, conde da Borgonha e o primeiro oficial do Santo Sepulcro, Conrado. Cruzadas de Nevers (2) e da Aquitânia (3). Nenhuma delas consegue atravessar a Ásia Menor, sendo sucessivamente vencidas por uma coligação dos diferentes potentados turcos da Anatólia.

1101, Março. Tancredo de Hauteville, um dos chefes da primeira Cruzada, abandona Jerusalém regressando ao Ocidente por Antioquia.

1101, 17 de Maio. Os Francos tomam Cesareia.

1102. Raimundo de Saint-Gilles toma Tortosa.

- Vitória de Balduíno em Ramla.

1103. Início do cerco de Trípoli pelos Francos.

1104, 7 de Maio. Derrota dos Francos em Harran: Balduíno du Bourg é feito prisioneiro. Paragem do avanço da Cruzada na Mesopotâmia, que se dirigia para Mossoul, no rio Tigre.

1104, 26 de Maio. Os cruzados tomam Acre com a ajuda de uma esquadra genovesa.

1105, 28 de Fevereiro. Raimundo de Saint-Gilles morre em Mont-Pèlerin, durante o cerco de Trípoli. É sucedido por Bertrand de Saint-Gilles.

1105-1113. Os «Assassinos» redobram de actividade.

1108. Conflito entre Tancredo e Balduíno du Bourg a propósito da restituição de Antioquia a este último.

1109, Julho. Trípoli cai na mão dos Francos. O conde Bertrand conquista finalmente a cidade de que é titular.

1110. Conquista do Castelo Branco (Safita) e do Krak dos Cavaleiros.

1111. Mawdud, emir ortoqida de Mossul, ataca os Francos, e massacra a população de Edessa quando esta se dirigia para a margem ocidental do rio Eufrates.

1113. Bula do papa Pascoal II reconhecendo oficialmente a ordem do Hospital de São João de Jerusalém.

1115. Conquista pelos francos do castelo de Shawbak (Montréal), a sul do Mar Morto.

1118. Morte do imperador Aleixo Comneno; a sua filha Ana começa a redacção da Alexíada.

1118, Abril. Morte de Balduíno I; sucede-lhe Balduíno du Bourg.

1119. Batalha de «Ager sanguinis» (do campo de sangue). O emir el Ghazi, de Diyarbakir aniquila o exército franco de Antioquia, pertp de Atareb.

1119-1120. Nove cavaleiros ocidentais fundam, em Jerusalém, a Milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo (Futura Ordem do Templo).

1123, 29 de Maio. Os Egípcios são derrotados em Ibelin pelo primeiro oficial do rei, Eustáquio Garnier, regente do reino durante o cativeiro de Balduíno II.

1124, 7 de Julho. Tomada de Tiro pelos cruzados.

1129, Janeiro. Concílio de Troyes: a Ordem do Templo é oficialmente reconhecida pelo papa Honório III.

1129, 18 de Junho. Zinki instala-se em Alepo; faz apelo à Jihad contra os Francos.

1131, 14 de Setembro. Morte de Balduíno II; Foulques V, de Anjou, rei de Jerusalém.

1135. O Hospital de São João de Jerusalém transforma-se em ordem militar.

1142. O Krak dos Cavaleiros é cedido aos Hospitalários de São João.

1143, 25 de Dezembro. Zinki, atabaque de Alepo e de Mossul, toma Edessa.


A Segunda Cruzada e o aparecimento de Saladino,
(1147 - 1149 - 1189)


©Bibliotheque Nationale de France

O rei de França Luís VII e o imperador Conrado III partem para a Segunda Cruzada.

1145, 14 de Dezembro. O Papa Eugénio III proclama a 2.ª Cruzada.

1146, 31 de Março. Sermão de São Bernardo de Claraval na basílica de Vézelay, a pregar a Cruzada.

1146, 15 de Setembro. O atabaque de Alepo, Zinki é assassinado pelos seus pajens. O reino de Edessa é partilhado pelos seus dois filhos, Ghazi e Nur ed-Din.

1146, 27 de Outubro – 3 Novembro. Jocelino II reocupa Edessa.

1146, 25-27 de Dezembro. São Bernardo de Claraval ordena a Conrado III, imperador alemão, que dirija a cruzada.

1147. Partida do rei de França, Luís VII, e de Conrado III para a Palestina.

1147, 4 de Outubro. Luís VII chega a Constantinopla.

1147, 26 de Outubro. Os cruzados alemães, abandonados pelos bizantinos, são esmagados em Dorileia.

1148, Março. Luís VII desembarca em Antioquia.

1148, 23 de Julho. As tropas francesas, os sobreviventes da cruzada alemã e os cavaleiros da Terra Santa põem cerco a Damasco. Abandonam-no cinco dias depois, sem terem conseguido conquistar a cidade.

1149, Primavera. Luís VII e Conrado regressam a França. A Segunda Cruzada falha e o mito da invicibilidade dos Francos é destruído.

1149, 29 de Junho. Nur ed-Din derrota os francos em Ma'arra, e mata Raimundo de Poitiers.

1150. Perante a ameaça muçulmana, Balduíno III abandona Turbessel e outras fortalezas do Norte do reino de Jerusalém.

1153, 19 de Agosto. Os Francos tomam Ascalon, que lhes resistia desde a Primeira Cruzada.

1153, 20 de Agosto. São Bernardo morre no mosteiro cistercense de Claraval, de que era abade desde 1115.

1154. Nur ed-Din entra em Damasco.

1155. Ataque normando contra Alexandria, no Egipto.

1155-1156. Renaud de Châtillon, príncipe de Antioquia, põe Chipre a saque.

1158. Harim é retomada por Balduíno III.

1159. O Príncipe de Antioquia reconhece o Imperador Bizantino como seu suserano.

- Os Francos com a ajuda dos Bizantinos põem cerco a Alepo.

- Os Bizantinos fazem a paz com Nur ed-Din.

1162, 10 de Janeiro. Morte de Balduíno III. O seu sobrinho, Amaury I sobe ao trono de Jerusalém.

1164. Amaury I cerca Pelusa, mas tem que levantar o cerco porque Nur ed-Din retoma Harim.

1167. Amaury I, rei de Jerusalém, ocupa o Cairo.

1168. Expedição de Amaury I ao Egipto, que fracassa

- Nur ed-Din reocupa o Cairo.

1169. Saladino (Salah ed-Din), fundador da dinastia curda dos Ayyubidas, é nomeado vizir do Egipto por Nur ed-Din, califa de Damasco.

1170. Amaury I bate Nur ed-Din no Mar Morto e Saladino em Gaza.

1171. Saladino suprime o califado fatimida do Cairo. A divisão dos muçulmanos entre o califado de Damasco e o califado do Cairo desaparece.

1173. Saladino manda construir uma nhanqab (convento) no Cairo. Adopta o título de malik - rei - e ocupa o Alto Egipto e envia uma expedição ao Iémen.

1174, 15 de Maio. Morte de Nur ed-Din. Saladino apodera-se do poder na Síria.

- Morte de Amaury I. Começo do reinado de Balduíno IV.

1176. Os Turcos seljucidas do Rum aniquilam o exército bizantino do imperador Manuel Comneno em Myriocéfalo.

- Saladino começa a construção da grande cidadela do Cairo.

1177. Cruzada dirigida pelo conde da Flandres, Filipe da Alsácia.

1177, 25-26 de Novembro. Saladino é derrotado em Montgisard por Balduíno IV.

1179. Saladino ataca Tiro.

1180. Saladino e Balduíno IV assinam uma trégua.

1182, Agosto. Saladino ataca Nazaré e Tiberíade e tenta tomar Beirute para dividir em dois os Estados latinos.

- Massacre de Latinos em Constantinopla.

1183. Expedição de Renaud de Châtillon contra Medina. A expedição é aniquilada por Saladino, que se torna o grande vingador do Islão. A trégua de 1180 acaba.

1183-1184. Saladino ataca Alepo e devasta a Samaria e a Galileia.

1184. Advento de Abu Yusuf Ya'qub al-Mançur. Apogeu do império almóada..

1185. Assinatura de uma nova trégua de quatro anos entre Saladino e Balduíno IV.

1187. Guy de Lusignan torna-se rei de Jerusalém, depois do breve reinado de Balduíno V, impedindo a subida ao trono de Raimundo III de Tripoli, que se refugia em Tiberíade.

1187. Renaud de Châtillon ataca uma caravana que se dirigia para Meca, pondo fim à trégua acordada dois anos antes

1187, 4 de Julho. Desastre de Hattin, onde Guy de Lusignan é feito prisioneiro.

- Saladino volta a tomar Acre, Jafa, Cesareia, Sídon, Beirute e Ascalon.

1187, 20 de Setembro – 2 de Outubro. Cerco e tomada de Jerusalém pelos muçulmanos. O Santo Sepulcro é fechado e as mesquitas reabertas


A Terceira Cruzada
(1189 - 1192 - 1197)



1187. O arcebispo de Tiro prega a Cruzada.

1188. Frederico Barba-Roxa, imperador alemão, Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração de Leão, rei de Inglaterra, organizam uma Cruzada a pedido do papa Gregório VIII.

1188, 1 de Janeiro. Saladino abandona o cerco de Tiro, defendido por Conrado de Montferrat, marquês piemontês.

1188. Saladino conquistou todo o território franco, tirando Tripoli, Tiro e Antioquia.

1189. Guy de Lusignan, antigo rei de Jerusalém, preso por Saladino, é liberto e cerca São João de Acre.

1189, Maio. Frederico Barba-Roxa parte para a Terra Santa.

1190. Fundação da Ordem Teutónica.

1190, 18 a 20 de Maio. Frederico conquista Konya, capital do sultanato turco da Ásia Menor.

1190, 10 de Junho. Frederico afoga-se nas águas do Selef na Cilícia.

1190. A Cruzada alemã dirigida por Frederico da Suábia, filho de Barba-Roxa, dirige-se para S. João de Acre.

1190, 4 de Julho. Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão partem de Vézelay para a Palestina, passando pela Sicília, onde se demorarão seis meses.

1191, 20 de Abril. Filipe Augusto desembarca em São João de Acre.

1191, 6 de Maio a 6 de Junho. Ricardo Coração de Leão conquista Chipre aos Bizantinos, e dirige-se em seguida para São João de Acre.

1191, 12 de Julho. São João de Acre é reconquistada.

1191, 2 de Agosto. Filipe Augusto, rei de França, regressa à Europa.

1191, 7 de Setembro. Ricardo derrota Saladino no palmar de Arsouf.

1192. Guy de Lusignan, antigo rei de Jerusalem, recebe de Ricardo Coração de Leão a ilha de Chipre, enquanto feudo.

1192, 28 de Abril. Assassínio de Conrado de Monferrat, senhor de Tiro, rei consorte de Jerusalém, por dois membros da seita dos Assassinos.

1192, Maio. Henrique II de Champagne casa com Isabel, viúva de Conrado de Monferrat, e torna-se rei de Jerusalém.

1192, 1 e 5 de Agosto. Batalha de Jafa: vitória de Ricardo Coração de Leão sobre Saladino.

1192, 2 de Setembro. Paz de Jafa entre Saladino e Ricardo Coração de Leão: trégua de três anos. Os muçulmanos mantêm-se em Jerusalém, mas permitem as peregrinações ao Santo Sepulcro. Os cruzados ocupam uma faixa contínua de território de Tiro a Jafa.

1193, 3 de Março. Morte de Saladino em Damasco.

1194. Amaury de Lusignan sucede a Guy de Lusignan no trono de Chipre.

1197, 10 de Setembro. Henrique II de Champagne, rei de Jerusalem, tendo morrido acidentalmente, Amaury de Lusignan, rei de Chipre, casa com a sua viúva e torna-se rei sob a designação de Amaury ll.

1197, 24 de Outubro. Amaury II reconquista Beirute aos muçulmanos e assina a paz com Melik-al-Adel, sultão do Egipto e irmão de Saladino.



A Quarta Cruzada
(1202 - 1204 - 1212)


1198. O Papa Inocêncio III proclama a 4.ª cruzada, que será pregada por Foulques de Neuilly e dirigida por Bonifácio I de Montferrat e Balduíno IX de Flandres.

1200, Verão. Os barões reunidos em Compiègne nomeiam seis representantes, entre os quais Godofredo de Villehardouin, para negociar com a República de Veneza o transporte dos cruzados até à Terra Santa.

1201, começos. Tratado entre os cruzados e a República de Veneza, para o transporte de 33.500 combatentes até à Palestina, por 85.000 marcos de prata.

1201, 24 de Maio. Thibaud III de Champagne morre. A 4.ª cruzada perde um dos seus principais chefes.

1201, Agosto. Bonifácio, marquês de Monferrat, é escolhido para comandante da expedição.

1202, Verão. Os cruzados chegam a Veneza. Os combatentes e o dinheiro não são suficientes para cumprir o tratado acordado no ano anterior. O doge veneziano Enrico Dándolo propõe a tomada da cidade de Zara, como pagamento do transporte dos cruzados.

1202, Novembro. Conquista e pilhagem de Zara na costa ocidental dos Balcãs, na Dalmácia.

1203, Janeiro. Os cruzados recebem uma embaixada de Aleixo Ange, filho do imperador bizantino destronado Isaac ll. Em nome daquele propõem aos cruzados que reponham o basileus no trono em troca de uma ajuda financeira e material para prosseguir a cruzada.

1203, 17 de Julho. Primeira conquista de Constantinopla. O Imperador Isaac ll é restaurado.

1203, 1 de Agosto. Aleixo Ange é proclamado imperador associado, com o nome de Aleixo IV, e pede aos cruzados que prolonguem a sua estadia por mais um ano, para fortalecer a sua posição.

1203-1204, Inverno. As relações entre Francos e Bizantinos degradam-se sensivelmente, devido à falta de cumprimento do prometido por Aleixo IV.

1204, Fevereiro. Assassínio de Aleixo IV, sendo o pai deste afastado. Aleixo Doukas «Murzuphle», faz-se proclamar imperador, mas também não cumpre as promessas feitas aos cruzados por Aleixo IV.

1204,12 de Abril. Segunda tomada de Constantinopla pelos Francos. Pilhagem da cidade e massacre da população.

1204, 9 de Maio. Balduíno IX da Flandres é eleito imperador do Oriente. Torna-se Balduíno I de Constantinopla, dando origem ao Império Latino do Oriente.

1205, Abril. Morte de Amaury ll, rei de Jerusalém. Maria, filha de Isabel e de Conrado de Montferrat torna-se rainha. Devido a só ter 14 anos, a regência é confiada ao seu tio João de Ibelin, senhor de Beirute.

1210, 14 de Setembro. João de Brienne casa com Maria de Monferrat, rainha de Jerusalém. A 3 de Outubro o casal é consagrado enquanto rei e rainha de Jerusalém na catedral de Tiro.
1212. Cruzada das crianças. Milhares de rapazes e raparigas embarcam em Marselha. Os armadores dirigem-nos para Alexandria onde são vendidos como escravos.

- Uma coligação de forças cristãs vindas de todos os estados hispânicos, derrota os muçulmanos na Batalha de Navas de Tolosa. O reino almóada da Hispânia, existente desde 1145, desaparece.




A Quinta Cruzada
(1217-1221)

1215. Inocêncio III lança um novo apelo à cruzada durante o sermão de abertura do 4.° Concílio de Latrão. Será dirigida por João de Brienne, rei de Jerusalém e André II, rei da Húngria.

1216, Janeiro. Morte de Inocêncio III.

1217, Setembro. André II da Hungria e Leopoldo VI, duque da Áustria, desembarcam em Acre para apoiar as tropas reunidas por João de Brienne.

1217, Dezembro. Os Francos abandonam o cerco da fortaleza do monte Tabor.

1218, 29 de Maio. O exército de João de Brienne desembarca em Damieta.

1219. Primeira incursão dos Mongóis de Gengis-Khan contra territórios muçulmanos.

1219, Março. Os muçulmanos desmantelam as fortificações de Jerusalém.

1219, 5 de Novembro. Tomada de Damieta pelos cruzados. Fuga do sultão al-Kamil.

1220, 29 de Março. João de Brienne entra na Síria.

1221, fim de Junho. Pelágio, legado do Papa, decide conquistar o Cairo.

1221, 30 de Agosto. Derrota dos cristãos em Mansurá. Evacuação de Damieta.



A Sexta Cruzada
(1228-1244)

1225, Novembro. O imperador Frederico II de Hohenstaufen casa com Isabel de Jerusalém. João de Brienne, o sogro, deverá ceder-lhe a coroa.

1227, 28 de Setembro. Gregório IX excomunga Frederico II, que tarda a partir para a cruzada.

1228, 4 de Maio. Morte de Isabel de Jerusalém. Frederico continua a administrar o reino em nome do seu filho e herdeiro, o futuro Conrado IV

1228, Julho. Frederico II desapossa João de Ibelin do reino de Chipre.

1228, 7 de Setembro. Frederico II desembarca em São João de Acre.

1228, Novembro. Início da fortificação de Jafa.

1229, 11 de Fevereiro. Conclusão do tratado de Jafa, entre al-Malik al-Kamil e Frederico II, com recuperação de Jerusalém, Nazaré e Belém.

1229, 18 de Março. O imperador é coroado rei de Jerusalém no Santo Sepulcro.

1229, 1 de Maio. Frederico II é expulso de Acre por uma turba popular.

1232. Ivan (João) Asen II, rei dos búlgaros, cortou com Roma e tornou a igreja búlgara independente.

1235. Aliança de João Asen com o imperador bizantino de Niceia contra os Francos.

1237, Junho. 120 cavaleiros cruzados são massacrados pelos Alepinos.

1238, Março. Morte do sultão al-Kamil.

1239, Julho. Fim da trégua assinada entre Frederico II e al-Kamil.

1239,1 de Setembro. Desembarque em Acre da expedição dirigida por Thibaud IV de Champagne.

1239, 13 de Novembro. Derrota dos cruzados em Gaza. Reconquista de Jerusalém pelos muçulmanos.

1240. Aliança do malik de Damasco com os Francos, com devolução de Beaufort e Safed aos Latinos.

1240, Outubro. Chegada a Acre da cruzada inglesa dirigida por Ricardo da Cornualha.

1241, 23 de Abril. Paz de Áscalon, com devolução da Galileia, Jerusalém e Belém aos Francos.

1244, 23 de Agosto. Tomada definitiva de Jerusalém pelos Turcos Kharezmianos, que pilham o Santo Sepulcro.

1244, 17 de Outubro. Desastre de La Forbie: os Kharezmianos aniquilam o exército franco composto essencialmente por Cavaleiros Templários, Hospitalários e Teutónicos.

1247. Os Turcos reocupam Tiberíades e Áscalon.




A Sétima Cruzada
(1248-1250-1269)

1244, Dezembro. Luís IX de França, São Luís, decide partir em cruzada.

1245, Junho – Julho. Reunião do Concílio de Lyon, onde a nova cruzada é proclamada.

1248, 25 de Agosto. Os Franceses embarcam para a Cruzada. Chegaram a Chipre a 17 de Setembro, passando aí o Inverno.

1249, 5 de Junho. Luís IX desembarcam em Damieta, na costa mediterrânica do Egipto.

1249, 20 de Novembro. O exército cruzado dirige-se para o Sul em direcção ao Cairo.

1250, 12 de Fevereiro. Batalha de Mansurá. A vanguarda do exército é destruída, mas a vitória pertence aos cruzados.

1250, 5 de Abril. O exército cruzado começa a retirar para Damieta.

1250, 7 de Abril. Luís IX e o exército cruzado são feitos prisioneiros pelos Egípcios.

1250, 6 de Maio. Restituição de Damieta aos muçulmanos, por troca com o rei de França, Luís IX, sendo assinada uma trégua de dez anos.

1250 - 1254. O rei de França reorganiza a Palestina e a Síria.

1252. Luís IX estabelece uma aliança com os Mamelucos.

1254, 24 de Abril. Luís IX chega a França.

1258, Fevereiro. Os Mongóis tomam Bagdade. Extinção da dinastia dos Abássidas.

1260. Os Mongóis invadem Alepo, Damasco e Homs.

1260, Setembro. Tomada do poder pelo sultão mameluco Baibars. Governará até 1277.

1260, 3 de Setembro. Vitória dos Mamelucos sobre os Mongóis em Ain Jalud, depois de os Francos autorizarem os muçulmanos a atravessar os seus Estados para se colocarem na frente dos invasores tártaros.

1261, 25 de Julho. O exército grego do Império de Niceia, comandado por Aleixo Stragopulos, reconquista Constantinopla. O Império Latino do Oriente desaparece.

1265, 27 de Fevereiro. Tomada de Cesareia e Arsuf pelos Mamelucos.

1268. Os Francos perdem Jafa, Beaufort e Antioquia.

1269. Cruzada aragonesa dirigida pelos bastardos do rei de Aragão, Fernando Sanchez e Pedro Fernandez.









A Oitava Cruzada
(1270)

1270, Março. Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada.

1270, 2 de Julho. As tropas francesas deixam Aigues-Mortes.

1270,18 de Julho. Desembarque de Luís IX em Tunes, possivelmente por insistência de Carlos de Anjou, rei de Nápoles e da Sicília, irmão mais novo do rei de França. A peste dizima o exército cruzado.

1270, 25 de Agosto. Morte do rei.

1270, começo de Novembro. Afonso de Poitiers e as tropas francesas embarcam com intenção de se dirigirem à Síria.

1270, 15-16 de Novembro. A frota francesa é destruída por uma tempestade. A expedição não pode continuar caminho.



Fontes principais:

AAVV,
As Cruzadas (1096-1270),
Lisboa, Pergaminho, 2001

Tate, George,
L'Orient des Croisades,
Paris, Gallimard («Découvertes»), 1991

Heers, Jacques,
O Mundo Medieval,
Lisboa, Edições Ática, 1976

© Manuel Amaral 2000-2003

A expansão Árabe antes das Cruzadas (622-1089)

622. Maomé (570-632) é obrigado a sair de Meca, retirando-se para Medina (cidade do Profeta). Começo da Hégira (exílio), ponto de partida do calendário muçulmano (16 de Julho de 622).

630, 1 de Janeiro. Maomé regressa a Meca, após ter derrotado as forças de Meca e os seus aliados. A nova doutrina triunfa na Arábia.

632. Morte de Maomé em Medina. Abu Bakr é escolhido por aclamação como primeiro califa. Os falsos profetas são derrotados, e as tribos rebeldes derrotadas.

634 – 644. O califa Omar, o primeiro a usar o título de Amir al-Mu'minin (príncipe dos Fiéis), transforma o Estado nacional árabe num império teocrático internacional e estabelece uma administração militar. O chefe das tropas de ocupação transforma-se em governador civil, chefe religioso e juiz temporal.

634. Teodoro, irmão do imperador bizantino Heráclio, é derrotado em Ajnadayn, entre Gaza e Jerusalém, pelo exército árabe.

636. Derrota do exército bizantino em Yarmuk, ao sul do Lago Tiberíades.

638. O califa Omar apodera-se de Jerusalém. Conquista da Palestina e da Síria.

639-641. Conquista da Mesopotâmia, actual Iraque, pelos exércitos árabes.

642. Conquista do Egipto, negociada pelo patriarca de Alexandria. As condições acordadas garantiam a segurança de pessoas e bens, e a liberdade de culto para os cristãos. Fundação do Cairo (al-Fustât)

649. Conquista de Chipre.

655. Conquista de Cabul.

687. Começo da construção da mesquita de Omar em Jerusalém.

711. Invasão da Península Ibérica. Derrota de Rodrigo, último rei Visigodo de Espanha.

- Conquista da região do Indo (actual Paquistão e Afeganistão).

716 - 717. Cerco de Constantinopla

732. Batalha de Poitiers. Fim da expansão árabe na Europa.

747. Sublevação abássida no Kkorassan.

750. Derrota do último califa Omíada de Damasco na batalha do Grande Zab, na Pérsia revoltada pelos Chiitas.

750 – 1258. Dinastia Abássida (de Abbas, tio de Maomé), sedeada em Bagdade, cidade inteiramente nova construída nas margens do rio Tigre. Fundada por Abu al-Abbas.

755 – 1031. Emirado, e mais tarde Califado (929), Omíada de Córdova, na Península Ibérica. Fundado por Abd al-Rahman, fugido do massacre dos omíadas em Damasco.

c.800. Mercadores muçulmanos em Cantão. Fábrica de papel fundada em Bagdade.

809. Morte do califa Haroun al-Rachid, conhecido pelas Mil e Uma Noites. Apogeu do império árabe.

825. Ocupação da ilha de Creta pelos muçulmanos.

827. O Mu'tazilismo, escola do Islão clássico fortemente influenciada pelo racionalismo, é proclama doutrina oficial.

830. Primeiras peregrinações a Santiago de Compostela. Depois de se ter encontrado o túmulo em 813.

831. Conquista de Palermo, na Sicília, pelos Árabes

842. Conquista de Messina, na Sicília, e de Tarento, na Península Itálica, pelos Árabes

842 – 902. Conquista da Sicília pelos Árabes.

846. Incursão muçulmana em Roma.

857. Morre Muhâsibi, um dos primeiros mísiticos (Çufis).

864. Surge a doutrina do «encerramento das portas do raciocínio individual» em matéria de interpretação da Lei.

868-883. Revolta dos escravos negros (Zandj) no Baixo-Iraque.

869. Conquista árabe da ilha de Malta.

874. Nascimento do teólogo al-Ash'ari: conciliação do racionalismo mu'tazilita com o tradicionalismo sunnita.

875. Massacre dos comerciantes muçulmanos na China.

940 – 1258. O califado dos Abássidas deixa de ter qualquer importância política. Devido ás revoltas chiitas, e à incapacidade do califa, aparecem várias dinastias locais cujos príncipes tomam o título de califa.

960. Conversão ao Islão dos Turcos Qarakhânidas.

961. Reconquista de Creta pelos bizantinos.

962. Fundação da dinastia Ghaznévida, no Afeganistão, primeira dinastia turca no mundo muçulmano. Existirá até 1186.

- Os Bizantinos retomam Alepo.

969. Os Fatimidas, dinastia aparecida no Norte de África por volta de 910, apoderam-se do Egipto.

- Fundação do novo Cairo (al-Aâhira).

- Os Bizantinos voltam a ocupar Antioquia.

993. Nascimento de Ibn Hazm, poeta e teólogo andaluz: apologia da interpretação literal do Corão e da tradição.

996. Massacre de mercadores de Amalfi, porto no sul de Itália, no Cairo.

997. Incursão muçulmana contra S. Tiago de Compostela.

1009. O califa fatimida do Cairo, al-Hakim, manda destruir as igrejas de Jerusalém.

1017. Começo da pregação druza.

1019. Proclamação, pelo califado de Bagdade, de um credo de inspiração hanbalita, uma das quatro escolas do Islão sunnita, que se caracteriza pela sua atenção ao respeito da tradição corânica e profética. Uma 2.ª proclamação dá-se em 1042 e uma 3.ª em 1053.

1031. Fim do Califado de Córdova. As possesões muçulmanas da Península Ibérica são repartidas em principados (tawa'if), conhecidos por Taifas.

1035. Peregrinação a Jerusalém de Roberto, o Diabo (ou o Magnífico), duque da Normandia.

1036. Muçulmanos e Bizantinos concordam em reconstruir as igrejas cristãs de Jerusalém.

1040. Vitória dos Turcos Seljúcidas sobre os Ghaznévidas em Dandanaqan.

1043. Miguel Cerulário torna-se patriarca de Jerusalém.

1054, 25 de Julho. Cisma entre Roma e Constantinopla. Miguel Cerulário, excomungado pelo papa Leão IX, excomunga todos os latinos.

1055. Os Turcos seljúcidas conquistam Bagdade.

1062. O papa Alexandre II concede o perdão dos pecados a quem combater os muçulmanos.

1063. Cruzada de cavaleiros borgonheses à Península Ibérica. O exército cruzado conquista a cidade de Barbastro, em 1064, após 4 meses de cerco.

1064. O arcebispo Gunther de Maiença e os bispos Guilherme de Utrecht e Otto de Ratisbona organizam uma peregrinação de 7.000 pessoas a Jerusalém.

1071, 19 de Agosto. os Bizantinos são derrotados pelos Turcos Seljucidas em Manzikert.

cerca de 1080. Mercadores de Amalfi fundam, perto do Santo Sepulcro, o hospital de São João de Jerusalém, para recolher os peregrinos pobres.

- Fundação da seita muçulmana dos Assassinos.

1081. Aleixo Comneno, imperador do Oriente.

1082. Devido à ajuda prestada contra os Normandos, Veneza obtêm o direito de comerciar em todo o Império Bizantino, sem pagar direitos alfandegários

1084. Antioquia cai nas mãos dos Turcos.

1085. Os Normandos dominam a Sicília.

- Conquista de Toledo por Afonso VI de Castela.

1086. Afonso VI de Castela é vencido na batalha de Sagrajar pelos berberes almorávidas, chamados à Península Ibérica pelos reis muçulmanos das Taifas, devido à conquista de Toledo.

1086 – 1090. Peregrinação à Terra Santa do conde de Flandres, Roberto de Frison.

1087. Cruzada francesa a Espanha, organizada por Urbano II, e dirigida por Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse e Eudes I, duque da Borgonha.

1090. Conquista de Malta pelos Normandos.

- Os «Assassinos» apoderam-se do castelo de Alamute, na Pérsia.

1092. Os «Assassinos» matam o vizir Nizam al-Mulk..

Fontes principais:

AAVV,
As Cruzadas (1096-1270),
Lisboa, Pergaminho, 2001

Tate, George,
L'Orient des Croisades,
Paris, Gallimard («Découvertes»), 1991

Heers, Jacques,
O Mundo Medieval,
Lisboa, Edições Ática, 1976

O Grande Cisma da Igreja

Um Exame da Igreja Ortodoxa em sua Formação e nos Dias de Hoje

Introdução

O tema do nosso artigo é "O Grande Cisma da Igreja". Existem, na realidade dois episódios na história da igreja que disputam este título: O primeiro, que é o alvo do nosso exame, é a divisão ocorrida em 1054, no seio da igreja Cristã, entre a ala oriental e ocidental, que gerou a chamada Igreja Ortodoxa, ou Grega-ortodoxa. O outro cisma, algumas vezes classificado como "o grande", ocorreu séculos depois, em 1378 a 1417, quando a Igreja Católica teve dois papados - um em Roma e o outro na França.

Os acontecimentos na história da Igreja que vamos examinar, parecem apenas fruto de política e dissensão interna. No entanto, não podemos nos esquecer que o Islamismo surgiu exatamente alguns séculos antes do Grande Cisma. A ameaça externa dos seguidores de Maomé teve muito a ver com o desenrolar dos eventos. É, portanto, aconselhável que tenhamos uma boa compreensão histórica do Islamismo, pois desde o seu início ele tem se constituído numa das maiores ameaças ao cristianismo, como está demonstrado sem sombras de dúvidas, em nossos dias.
Queremos também compreender o gradual afastamento da igreja da singeleza doutrinária que marcou os escritos dos apóstolos e a igreja primitiva, nos primeiros séculos da era cristã.

1. O Império Romano que Não era Romano.

Vamos começar nosso estudo no ano 800 - um ano "redondo" mas crucial na história do mundo e da igreja. No Natal deste ano o papa Leão III coroou Carlos Magno como o primeiro imperador do Santo Império Romano. Acontece que esse império não era "romano" pois o poder imperial político de Roma não mais existia. A tentativa era estabelecer uma sucessão ao Império Romano e costurar uma aliança com a igreja, mas o centro do poder, agora, era a região que seria, mais tarde, conhecida como a Alemanha. Carlos Magno era o rei dos Francos - designação de várias tribos de "bárbaros" que habitavam a margem direita do rio Reno.

O papado estabeleceu uma aliança plena com o novo imperador - cada um exerceria o domínio em sua própria esfera e cooperariam com os interesses um do outro. Esse conceito teria reflexos a longo prazo na história da Europa. Durante o próximo milênio vários imperadores desfilaram os seus exércitos no solo europeu, esforçando-se para se estabelecerem como legítimos sucessores dos Césares romanos - até que, em 1806, Napoleão aboliu formalmente o "Santo Império Romano" - que, na época, virtualmente compreendia apenas a Alemanha.

Alguns anos antes em Constantinopla (onde atualmente encontramos a cidade de Istambul, na Turquia), o imperador Leão Isauriano confrontara o perigo dos exércitos islâmicos e fora bem sucedido em evitar uma invasão. O império bizantino foi se consolidando e, carregando consigo a ala oriental da igreja, expandiu sua influência desde a Grécia até a Arábia. Assim, na parte leste, ou oriental, a igreja era liderada por um patriarca, em Constantinopla (conhecida depois como ramo grego ortodoxo); e na parte oeste, ou ocidental, a liderança era exercida pelos papas, em Roma (conhecida depois como ramo católico romano).

2. No meio das conturbações políticas a Igreja se Expande.

Carlos Magno conseguiu controlar o território da França, Alemanha, Suíça e Itália. Seus três filhos não conseguiram manter a regência conjunta e o Império foi repartido e enfraquecido. Eventualmente, a Europa transformou-se em vários principados independentes e antagônicos entre si. Isso contribuiu para que o papado readquirisse alguma força política e geográfica. O período de 800 até o ano de 1073, entretanto, marca uma era de forte aliança entre igreja e estado com a chamada dinastia carolingiana. Nela o papado se desenvolveu e oscilou em poder na medida que os regentes políticos também oscilavam.

O Islamismo começou a mostrar-se também uma ameaça enorme para a igreja ocidental. Durante o papado de João VIII (872-882), por falta de socorro político e militar, ele teve que fazer um tratado humilhante com os maometanos. Para conserva-los longe de Roma, teve de concordar em pagar tributos a eles. Do ano 880 ao ano 1000, a Itália viveu um estado de quase anarquia e o papado refletia essa instabilidade. Já era grande a corrução na igreja e muitos indivíduos desqualificados ocuparam o papado. Por exemplo, no período de apenas 11 anos (882 a 903) existiram 12 papas. Um dos últimos papas desse período, Benedito IX, assumiu o ofício aos doze anos e cometeu muitos desmandos. Surpreendentemente, entretanto, a igreja estendia sua influência territorial atingindo até a Islândia. Nesse período, também, a Boêmia, Hungria e a Polônia se tornaram nações católicas.

Enquanto isso, o ramo oriental da igreja, que tinha a sua sede em Constantinopla, ia se afastando cada vez mais da ala ocidental, enquanto também se expandia, avançando até ao norte. Em 988 o rei Vladimir, da Rússia, foi batizado. Nas duas frentes, a igreja aumentava sua influência política e os dois ramos iam adquirindo características peculiares e diferenciadas entre si.

3. A situação doutrinária e prática das igrejas, no início do segundo milênio.

No início do segundo milênio da Era Cristã, tanto a igreja católica ocidental, liderada por Roma, como a ala oriental, liderada por Constantinopla, já havia incorporado em suas práticas e liturgias vários pontos que seriam questionados de forma incisiva pela Reforma do século XVI. É interessante notarmos, entretanto, que muitas dessas práticas sofreram contestação ao longo de suas introduções e várias deram lugar à separação entre o leste e o oeste, culminando, em 1054, no Grande Cisma.

Desde o ano de 867 circulavam, na igreja oriental, relações de práticas da igreja ocidental romana que eram doutrinariamente contestadas pela ala do leste. Mas a relação mais importante foi escrita pelo patriarca Cerulárius no ano de 1054. Ela era, na realidade, uma reação a uma relação de erros da igreja oriental, que havia sido enviada pelo papa Leão IX, pelo cardeal Humberto. A lista de Cerulárius continha, entre outras coisas: condenava o uso de pão fermentado na eucaristia; condenava a aprovação de qualquer carne para alimentação; condenava a permissão de se barbear; rejeitava as adições sobre o Espírito Santo ao Credo Niceno; condenava o celibato clerical; condenava a permissão de se; etc., etc. No final Cerulárius escreveu: "Portanto, se eles vivem dessa maneira, enfraquecidos por esses costumes; ousando praticar essas coisas que são obviamente fora da lei, proibidas e abomináveis; então poderá qualquer pessoa, em seu juízo são, incluí-los na categoria de ortodoxos? Claro que não".

No final, Humberto, comissionado pelo papa, excomungou Cerulários e Cerulárius excomungou Humberto e o papa, e estava sacramentado o Grande Cisma de 1054.

4. As seis razões principais para o Grande Cisma.
O Cisma, entretanto, não ocorreu em cima de um incidente específico, mas sacramentou uma divisão de doutrina, interesses e estilos que já vinha sendo consolidada ao longo dos últimos séculos. Vejamos seis razões principais para ele ter ocorrido:

A primeira razão foi a controvérsia iconoclástica - que quer dizer uma discordância contra a utilização de imagens. O imperador Leão Iasuriano, no ano 726, emitiu um primeiro decreto contra a utilização de imagens na adoração. Nessa ocasião, isso já era uma prática crescente, trazida do paganismo para o seio da igreja. Ocorre que o Islamismo exerceu intensa pressão, pois acusava a igreja de politeísta. Leão agia por pressão e medo dos maometanos, bem mais do que por convicção. Ele foi apoiado pelo patriarca de Constantinopla, que representava o ramo oriental da igreja, e por muitos da alta hierarquia católica. A maioria dos monges e o povo, em geral, discordavam da proibição e incentivavam a continuidade da utilização de ídolos. O papa Gregório II, em Roma, considerou a proibição uma interferência política (oriunda de Constantinopla) nos assuntos da igreja - especialmente porque ele, distanciado dos maometanos, em Roma, não sentia o problema de perto. O culto às imagens teve livre curso na igreja católica. Criou-se, então, a partir daí uma divisão marcada entre o leste e o oeste. O ponto curioso é que, cerca de 125 depois, a igreja ortodoxa dissociou-se dos que queriam a abolição dos ídolos e adotou uma iconografia pródiga - ou seja, o uso amplo de ilustrações e pinturas na liturgia e na adoração.

A segunda razão foi um conflito com a doutrina da "processão" do Espírito Santo. O Concílio de Nicéia, reafirmando a doutrina do Espírito Santo, havia indicado que Deus Pai havia enviado o Filho e o Espírito Santo. Posteriormente, um sínodo realizado na cidade de Toledo, procurou esclarecer a frase indicando que o Espírito Santo procedia tanto do Pai como do Filho (essa inserção é chamada de cláusula filioque - Latin para "e do filho"). Essa declaração substancia aquilo que entendemos como subordinação econômica, ou seja - enquanto as três pessoas da trindade se constituem em uma só pessoa divina e são iguais em poder, prerrogativas e essência (chamamos isso de trindade ontológica) - no relacionamento com a criação elas se auto-impõem funções diferentes. Nesse sentido, dizemos que existe diferenciação de atividades e eventual subordinação no plano de salvação: o Pai envia; o Filho executa; o Espírito Santo, procedendo tanto do Pai como do Filho, aplica, revela e glorifica ao Filho - não fala de si mesmo (João16.13-14). A ala oriental da igreja, já destacando-se com uma ênfase mística, não aceitava as afirmações sobre o Espírito Santo como uma expressão do trabalho e da pessoa de Cristo, conforme o Credo do Concílio de Nicéia, ampliado em Toledo, veio a ser aceito pela igreja do oeste.

A terceira razão , foi uma falta de predisposição tanto do papa, em Roma, como do Patriarca, em Constantinopla, de se submeterem um ao outro. Até o século nono todos os papas eleitos, em Roma, procuravam confirmação e concordância de suas eleições junto ao Patriarca de Constantinopla - assim procurava manter-se a unidade da ala oriental da igreja, com a ocidental. Gregório III, entretanto, foi o último papa a obter tal confirmação. Em 781 os papas deixaram de mencionar o nome do imperador de Constantinopla em seus documentos.

A quarta razão , é que não existiam limites muito bem estabelecidos, com relação às áreas que deveriam ser regidas por Roma ou por Constantinopla. Os poderes se confundiam, as hierarquias se mesclavam. Isso resultava em constantes fricções relacionadas com a jurisdição de cada ala.

A quinta razão representa as diferenças culturais existentes entre o oriente e o ocidente. Tais diferenças sempre prejudicaram o entendimento e a cooperação entre as duas alas. Pouco a pouco, as diferenças culturais foram se incorporando na liturgia. A igreja oriental foi ficando cada vez mais introspectiva, monástica e mística. A igreja ocidental, mais inovadora e eclética na absorção de práticas pagãs.

A sexta razão é que a igreja oriental se colocava sob o Imperador que regia em Constantinopla, enquanto que a igreja ocidental, naquela ocasião, reivindicava independência da ação do estado e o direito de exercitar regência moral sobre os reis e governantes.

Assim, no ano de 1054 a bula papal de excomunhão do Patriarca foi depositada no altar de Santa Sofia, em Constantinopla. Houve retaliação por parte do patriarca de Constantinopla e o Cisma estava configurado. A partir daí a história se divide e passamos a acompanhar muito mais a história da igreja romana, do que a da igreja Grega Ortodoxa e de suas variações e ramos (Russa Ortodoxa, Maronitas, etc.)

5. A Igreja Ortodoxa Hoje.

A Igreja Ortodoxa é um ajuntamento de igrejas auto-governadas. Elas são administrativamente independentes e possuem vários ramos, embora todas reconheçam a preeminência espiritual do Patriarca de Constantinopla. Elas mantêm comunhão, umas com as outras, embora a vida interna de cada igreja independente seja administrada por seus bispos. Atualmente, existem Igrejas Ortodoxas da Rússia, da Romênia, da Sérvia, da Bulgária, da Geórgia, do Chipre, dos Estados Unidos, etc.
Algumas características doutrinárias e litúrgicas marcam as Igrejas Ortodoxas com mais intensidade:

Tradição : A Igreja Ortodoxa dá enorme importância à tradição. Uma das igrejas, aqui no Brasil, coloca em sua literatura, que "Tradição é a chave para a auto-compreensão". Na compreensão da doutrina da Igreja Ortodoxa, o Espírito Santo inspira não somente a Bíblia, mas também a "tradição viva da igreja".

Misticismo : A Igreja Ortodoxa desenvolveu-se com características bem mais místicas e subjetivas do que o ramo ocidental. Um texto dela diz: " A espiritualidade ortodoxa é, de fato, caracteristicamente monástica, o que significa que todo o cristão ortodoxo tende para a vida monástica".

Ícones : Como já vimos, ironicamente, apesar da ala oriental ter se posicionado contra o culto às imagens, no século oitavo, quando chegou a ocasião do Grande Cisma, ela já havia retornado à prática de veneração e adoração dos ícones. Existem algumas diferenças, com relação à Igreja Romana: Ela só aceita pinturas bidimensionais; imagens tridimensionais são rejeitadas. Essas pinturas devem sempre conter algum elemento místico, como, por exemplo, um halo, ou algo que identifique a divindade; elas não devem simplesmente retratar semelhança humana. Há uma predominância, nas imagens de cenas do nascimento de Cristo, dele com Maria, etc. Tais imagens são beijadas repetidamente pelos fiéis.

Liturgia Rebuscada : A Igreja Ortodoxa se orgulha da "beleza" de sua liturgia. Na realidade, existe um intenso ritualismo e formalismo, na sua adoração. Uma grande aproximação com o formalismo da missa católico romana.

6. Uma Rápida Avaliação da Igreja Ortodoxa.

A importância dada à tradição, não somente diminui a importância da Palavra de Deus, na vida das pessoas e da própria igreja, como chega a subordinar a Bíblia à tradição. Ela afirma que as verdades da salvação são "preservadas na Tradição viva da Igreja" e que as Escrituras são "o coração da tradição". Nesse sentido, consideram também que as suas doutrinas e a "Fé Apostólica" têm sido, no seio da Igreja Ortodoxa, "incólume transmitida aos santos".

Uma publicação da Igreja Ortodoxa diz, textualmente: "As fontes de onde extraímos a nossa Fé Ortodoxa são duas: a Sagrada Escritura e Santa Tradição". Isso contradiz frontalmente a compreensão reformada das Escrituras - Sola Scriptura (somente as Escrituras) foi um dos pilares da Reforma do Século XVI. Nesse sentido, a Igreja Ortodoxa se aproxima muito da Católica Romana.

A Igreja Ortodoxa abriga a idolatria. A alta consideração dada aos ícones, os rituais de beijos e afeição e a sua ampla utilização na vida diária de devoção, demonstram que por mais que se declare uma simples "veneração", não há diferença prática da mera adoração a tais imagens. A rejeição às estátuas não basta para eliminar o câncer da idolatria que persegue a mente carnal, desviando os olhos da intermediação única de Cristo e da simplicidade do culto que deve ser prestado, em espírito e em verdade. Uma publicação da Igreja Ortodoxa diz: "dentro da tradição ortodoxa a palavra ícone assumiu o significado de imagem sagrada". Vemos como a tradição gera a idolatria condenada pela Palavra (Is. 44.9-20)

A visão da Igreja Ortodoxa sobre a pessoa do Espírito Santo, considerando sua obra quase que independente da obra de Cristo, levou ao desenvolvimento de um misticismo que tem a "aparência de piedade", mas que na realidade desvia o foco da pessoa de Cristo Jesus, nosso único mediador entre Deus e os homens. Nesse sentido, ela se aproxima muito de certos segmentos da igreja evangélica contemporânea que têm procurado transformar a fé cristã e a prática litúrgica extraída da Bíblia, em representações místicas da atuação do Espírito, segundo conceitos humanos.

É verdade que a Igreja ortodoxa não aceita a supremacia do papa, e algumas outras práticas da igreja de Roma, mas de uma forma genérica, ela abriga dentro de si muitos dos pontos errados que foram contestados pela Reforma, por terem sido meros frutos do tradicionalismo e não de uma exegese sólida da Palavra de Deus. A Igreja Ortodoxa se orgulha em pregar a unidade, apontando-se a si mesma como a igreja apostólica real, mas a verdadeira unidade se forma ao redor das doutrinas cardeais da fé cristã e não pela tradição.

Leitura adicional sugerida:
Momentos Decisivos na História do Cristianismo; Mark A. Knoll, trad. de Alderi Matos (S.Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998)


Examinando e Expondo a Palavra de Deus aos Nossos Dias:

Isaías 1:18-20 "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse."

Atos 17:2-3 "Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio."

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