sexta-feira, 29 de maio de 2009

MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE OS PAIS DA IGREJA

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1. Santidade e Sabedoria nos Pais da Igreja
2. Os Santos Padres da Igreja
3. Máximas Bíblicas e dos Pais da Igreja
4. A Santíssima Trindade Nos Escritos dos Santos Padres dos Primeiros Séculos
5. Testemunhos Patrísticos sobre a Santíssima Trindade
6. Louvores dos Santos Padres à Maria
7. Los Padres de La Iglesia
8. El Estudio de los Padres de la Iglesia
9. DIDAQUÉ: A Doutrina dos Apóstolos
10. 1º Concílio Ecumênico de Nicéia: Os Cânones dos 318 Bispos reunidos em Nicéia da Bítinia (325 dC)
11. Definição de fé: Concílio da Calcedônia
12. Santo Atanásio de Alexandria (português)
13. Santo Atanásio de Alexandria (espanhol)
14. Santo Atanásio: Sobre a divindade do Espírito Santo (Carta de Santo Atanásio a Serapião)
15. Santo Atanásio: «Sobre a Encarnação do Verbo»
16. Santo Atanásio: A Criação e a Queda
17. Santo Atanásio de Alexandria: Antologia
18. São Jerônimo: A Virgindade Perpétua de Maria - Tratado contra Helvídio
19. São Cirilo de Jerusalém: Catequeses Mistagógicas
20. Melitão de Sardes
21. O Pastor de Hermas
22. Santo Ambrósio de Milão
23. São João Crisóstomo - Vida e Obras
24. San Juan Crisóstomo - HOMILÍA IX
25. São João Crisóstomo - Antologia
26. Diversão Mundana e Cristã Segundo São João Crisóstomo
27. São Gregório de Nissa: Sobre a Vida de Moisés
28. Orígens: Antologia
29. São Basílio, o Grande: «Um Monge no Mundo do Helenismo»
30. São Basílio, o Grande: Antologia de Textos Homiléticos
31. São Cipriano de Cartago
32. São Cipriano de Cartago: «A Oração do Senhor»
33. São Cipriano de Cartago: «Antologia» (português)
34. São Cipriano de Cartago: «Antologia» (espanhol)
35. São Cipriano de Cartago: «Cartas» (espanhol)
36. São Cipriano de Cartago: «Sobre A Unidade da Igreja»
37. São Cipriano de Cartago: «Da Inutilidade dos Ídolos»
38. São Cirilo de Alexandria: «Diálogo sobre a Encarnação»
39. São Cirilo de Alexandria: Discurso de pronunciado no Concílio de Éfeso sobre Maria
40. São Cirilo de Alexandria: Antologia
41. Tradición y Eucaristía
42. Tradição Apostólica de Hipólito de Roma
43. São Gregório Palamas e a Tradição dos Padres
44. São Gregório Palamas: Antologia
45. São Clemente de Alexandria: Antologia.
46. Ideais de fé, conduta e salvação São Clemente de Alexandria
47. Santo Agostinho de Hipona: «Na Vigília da Páscoa»
48. Santo Agostinho de Hipona: «Sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos»
49. Santo EFRÉN, o Sírio: Vida
50. Santo EFRÉN, o Sírio: Obras (fragmentos)
51. Santo Epifanio: «Os Últimos Dias da Virgem Maria»
52. Santo Epifânio de Salamina: 1ª homilia para a Festa dos Ramos
53. São Germano de Constantinopla
54. São Gregório Magno: Antologia
55. São Leão Magno: Sermão n° 23: «Natal do Senhor»
56. São Leão Magno: Antologia
57. São Leão Magno: «Sermão Sobre Pentecostes»
58. Olivier Clèment: «São Gregório Nazianzeno»
59. São Gregório Nazianzeno: «Poema sobre a Natureza Humana»
60. São Gregório de Nazianzo: Antologia
61. Olivier Clèment: São Gregório de Nissa
62. São Gregório de Nissa: Antologia
63. Santo Hilário de Poitiers: «Sobre a Santíssima Trindade»
64. Santo Hilário de Poitiers: «Antologia»
65. San Ireneo: Vida y obras (espanhol)
66. Santo Irineu de Lião: Antologia de Textos Homiléticos
67. São João Damasceno: «Homilia Sobre a Natividade de Maria»
68. São João Damasceno: «Homilia Sobre aDormição da Santíssima Mãe de Deus»
69. São João Damasceno: Antologia de Textos Homiléticos
70. San Juan Damasceno: El jardín de la Sagrada Escritura - (Exposición de la fe ortodoxa, 1V 17)

71. San Juan Damasceno: La fuerza de la Cruz - (Exposición de la fe ortodoxa, I14 11)
72. San Juan Damasceno: El coro de los ángeles - (Exposición sobre la fe ortodoxa, 11, 3)

73. San Juan Damasceno: Madre de la gloria - (Homilía 2 en la dormición de la Virgen Maria, 2 y 14)

74. Santo Agostinho de Hipona: "Sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos"
75. São Máximo, o Confessor: Vida e Obras
76. São Pedro Crisólogo: «Sermão de Natal»
77. São Pedro Crisólogo: «Antologia de Textos Homiléticos»
78. San Policarpo, Obispo de Esmirna
79. São Policarpo de Esmirna: Antologia de Textos Homiléticos
80. São Simeão, o Novo Teólogo: Antologia de Textos Homiléticos
81. «Patrologia» e «Patrística»: Âmbito e definições

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ISLAMISMO

O Islamismo


O islamismo é a doutrina do profeta Maomé sobre o único e verdadeiro Deus, Alah. Sua pregação ganhou terreno entre as tribos beduínas da península arábica, no início do século VII, e expandiu-se rapidamente com uma força irresistível, ao longo do Mediterrâneo.

O islamismo, a mais jovem das religões universais, é hoje a segunda quanto ao número de adeptos.
Islã significa "submissão", palavra que dá a chave da mensagem de Maomé: a absoluta submissão dos crentes à vontade de Alah. O islamismo é estritamente monoteísta. Tem muitos aspectos em comum com o judaísmo e com o cristianismo; entre outros, o reconhecimento dos profetas do Antigo Testamento. Maomé definiu-se como o último e o maior dos profetas, entre os quais se contavam Abraão, Moisés e Jesus.
Via nas imagens do Deus do Judaísmo e do Cristianismo o caminho para o verdadeiro Deus, Alah. Como Medina e Meca, Jerusalém é uma das cidades santas do Islã. Maomé recebeu o chamado de Alah e rompeu com a idolatria de seus companheiros de tribo. A mensagem era clara e simples. Por meio de parábolas descritivas ameaçava os infiéis com o dia do juízo e o fogo do inferno, enquanto prometia aos crentes um paraíso com alegrias terrenas.
O islamismo não tem sacerdócio nem sacramentos. O Corão é a sua única norma. O crente muçulmano responde por sua vida, perante Alah, sem intermediários. Os seguidores de Maomé estavam imbuídos do maior entusiasmo e conseguiram impor sua doutrina em um campo de batalha político-religioso sem igual: o da Guerra Santa do Islã.
A oração
Voltado para Meca, no seu tapete de oração, o muçulmano reza em qualquer lugar onde se encontre, quando chega a hora da prece. A oração realiza-se com complicados movimentos rituais, genuflexões e repetidas flexões com a fronte tocando o solo.
A mesquita
É o local do serviço divino do islamismo, onde o povo recolhe-se à oração e ao estudo do Corão. A sala de oração ocupa uma ala de um jardim, aberto e circundado de pórticos. No centro do jardim encontra-se o poço da purificação, para as abluções antes da oração. Os minaretes, e por vezes um mausoléu, acham-se contíguos à mesquita. No muro que dá para Meca há um nicho, o mihrab, que indica a direção na qual se deve rezar. Essa direção também está indicada nos tapetes de oração.
Alcorão (A leitura)
É o livro sagrado dos muçulmanos que acreditam que o mesmo tenha sido revelado por Alah a Maomé. Desde o século IX, elaboram-se numerosos manuscritos ricamente decorados. O Corão instrui, espiritual e materialmente o muçulmano. Interpreta a fé, explica a história e inclui um código penal e regras de conduta.
As cinco colunas da fé
Os mais importantes mandamentos do islamismo são chamados "as cinco colunas".
- Recitação da profissão de fé.
- As esmolas (1/4 dos lucros).
- O jejum no mês de Ramadã.
- A peregrinação a Meca, ao menos uma vez na vida.
Islamismo - O caminho a Deus por meio da Submissão
"Em nome de Alá, Clemente, Misericordioso." Esta frase traduz o texto árabe acima, do Qur'ãn (Alcorão). E continua: "Louvado seja Deus, Senhor do Universo, Clemente, Misericordioso. Soberano do Dia do Juízo. Só a Ti adoramos e só a Ti imploramos ajuda! Guia-nos à senda reta, À senda dos que agraciaste, não à dos abominados nem à dos extraviados." - Qur'ãn, surata 1:1-7. Qur'ãn é a grafia preferida por escritores muçulmanos.
Tais palavras formam a Alfátiha (A Abertura), o primeiro capítulo, ou surata, do livro sagrado dos muçulmanos, o Sagrado Qur'ãn, Corão ou Alcorão. Visto que mais de uma de cada seis pessoas no mundo é muçulmana, e considerando que os muçulmanos devotos repetem esses versículos pelo menos cinco vezes em suas orações diárias, estas devem estar entre as palavras mais recitadas na terra.
Há mais de 900 milhões de muçulmanos no mundo, o que faz com que, numericamente, o islamismo seja menor apenas do que a Igreja Católica Romana. Dentre as religiões principais é talvez a que aumenta mais rapidamente no mundo, com movimento muçulmano em expansão na África e no mundo ocidental.
O nome islã (ou islame) é expressivo para o muçulmano, pois significa "submissão", "rendição" ou "entrega" a Alá, e, expressa a mais íntima atitude dos que abraçaram a pregação de Maomé. Muçulmano significa aquele que faz ou pratica o islã.
Os muçulmanos crêem que a sua fé é a culminação das revelações dadas aos fiéis hebreus e cristãos do passado. Contudo, seus ensinamentos divergem da Bíblia em alguns pontos, embora citem tanto das Escrituras Hebraicas como das Gregas no Qur'ãn. Os muçulmanos crêem que a Bíblia contém revelações de Deus, mas que algumas foram posteriormente falsificadas.
A chamada de Maomé
Maomé nasceu em Meca (em árabe, Makkah), Árabia Saudita, por volta de 570 EC. Seu pai, Abdalá, morreu antes de Maomé nascer. Sua mãe, Amina, morreu quando ele tinha cerca de seis anos. Naquele tempo, os árabes praticavam uma forma de adoração de Alá centralizada no vale de Meca, no local sagrado da Caaba, um edifício simples em forma de cubo, onde se reverenciava um meteorito negro. Segundo a tradição islâmica, a "a Caaba foi originalmente construída por Adão segundo um protótipo celestial e depois do Dilúvio reconstruída por Abraão e Ismael". (História dos Árabes, de Philip K. Hitti, em inglês) Tornou-se santuário de 360 ídolos, um para cada dia do ano lunar.
À medida que crescia, Maomé passou a questionar as práticas religiosas de seus dias. John Noss, em seu livro Mans's Religions (As Religiões do Homem), declarava: "Maomé incomodava-se com as incessantes rixas por causa de confessos interesses de religião e honra entre os chefes coraixitas (Maomé era dessa tribo). Mais forte ainda era o seu descontentamento com os grotescos remanescentes na religião árabe, o politeísmo e o animismo idólatras, a imoralidade nas assembléias e quermesses religiosas, a bebedeira, a jogatina e as danças que estavam na moda, e o sepultamento em vida de bebês do sexo feminino indesejados, praticado não apenas em Meca mas em toda a Árabia." - Surata 6:137
A chamada de Maomé para ser profeta ocorreu quando ele beirava os 40 anos de idade. Ele costumava ir sozinho a uma caverna próxima, chamada Gar Hira, para meditar, e afirmou que foi numa dessas ocasiões que recebeu a chamada para ser profeta. Diz a tradição muçulmana que, estando lá, um anjo, mais tarde identificado como Gabriel, ordenou-lhe que recitasse em nome de Alá. Maomé não obedeceu, de modo que o anjo agarrou-o e cumprimiu-o tanto que Maomé não pôde suportar. Daí o anjo repetiu a ordem. Novamente, Maomé não reagiu, de modo que o anjo sufocou-o novamente. Isto ocorreu três vezes, depois do que Maomé começou a recitar o que veio a ser encarado como primeira duma série de revelações que constituem o Qur'ãn. Segundo outra tradição, a inspiração divina foi revelada a Maomé em forma do soar duma campainha.
Revelação do Qur'ãn
Qual foi, supostamente a primeira revelação que Maomé recebeu? Os versados no islamismo em geral concordam que foram os primeiros cinco versículos da surata 96, intitulada Al'Alac, "O Coágulo (de sangue)",que reza:
"Em nome de Alá, Clemente, Misericordioso.
Lê em nome de teu Senhor que tudo criou;
Criou o homem de um coágulo.
Lê que teu Senhor é generoso,
Que ensinou o uso do cálamo
Ensinou ao homem o que este não sabia."
Segundo a fonte árabe O Livro de Revelação, Maomé respondeu: "Eu não sei ler." Assim, ele teve de memorizar as revelações, de modo que pudesse repeti-las e recitá-las. Os árabes eram peritos no uso da memória, e Maomé não era exceção. Crê-se geralmente que as revelações ocorreram num período de 20 a 23 anos, aproximadamente por volta de 610 EC até a sua morte, em 632 EC.
Fontes muçulmanas explicam que, assim que recebia cada revelação, Maomé a recitava para quem quer que estivesse por perto. Estes, por sua vez memorizavam a revelação e, por recitação, mantinham-na viva. Visto que os árabes desconheciam a arte de fabricar papel, Maomé fez com que escribas anotassem as revelações em primitivos materiais então disponíveis, como omoplatas de camelo, folhas de palmeira, madeira e pergaminho. Mas, foi só depois da morte do profeta que o Qur'ãn assumiu a sua forma atual, sob a direção dos sucessores e companheiros de Maomé. Isto foi durante o domínio dos primeiros três califas, ou líderes muçulmanos.
O tradutor Muhammad Pickthall escreve: "Todas as suratas do Qur'ãn haviam sido registradas por escrito antes da morte do Profeta, e muitos muçulmanos haviam decorado o inteiro Qur'ãn. Mas, as suratas escritas ficaram dispersas entre o povo; e quando numa batalha...um grande número dos que sabiam o inteiro Qur'ãn de cor foram mortos, foi feita uma coletânea do inteiro Qur'ãn e assentada por escrito."
A vida islâmica é governada por três autoridades: o Qur'ãn, a Hadith e a Xariah. O Hadith, ou Sunna, "os atos, as declarações e a aprovação tácita (taqrir) do Profeta...fixados durante o segundo século na forma de hadiths escritos. Um hadith é um registro de uma ação ou de dizeres do Profeta". Pode também ser aplicado às ações ou aos dizeres de qualquer dos companheiros de Maomé e sucessores destes. Num hadith apenas o sentido é encarado como inspirado. - História dos árabes.
A Xariah, ou lei canônica, baseada em princípios do Qur'ãn, regula toda a vida do muçulmano, em sentido religioso, político e social. "Todos os atos do homem são classificados em cinco categorias legais:
1ª - O que é considerado dever absoluto (fard) envolvendo recompensa por agir ou punição por deixar de agir.
2ª - Ações elogiáveis ou louváveis (mustahabb), envolvendo recompensa, mas não punição por omissão.
3ª - Ações permissíveis (jaiz, mubah), que são legalmente indiferentes.
4ª - Ações repreensíveis (makrub), que são desaprovadas, mas não puníveis.
5ª - Ações proibidas (haram), cuja prática exige punição." - História dos Árabes
Os muçulmanos creêm que o Qur'ãn em árabe seja a mais pura forma de revelação, pois, como dizem, foi a língua usada por Deus ao falar por meio de Gabriel. A surata 43:3 diz: "Que vos temos ditado um Alcorão arábico, afim de que o compreendais." Assim, qualquer tradução é encarada como apenas uma diluição que envolve perda de pureza. De fato, alguns versados em islamismo recusam-se a traduzir o Qur'ãn. Acham que "traduzir sempre é trair" e, por conseguinte, os "muçulmanos sempre reprovaram, e às vezes proibiram, qualquer tentativa de traduzi-lo para outra língua", diz o dr. J. A Williams, preletor de história islâmica.
Expansão Islâmica
Maomé fundou a sua nova fé enfrentando grandes dificuldades. O povo de Meca, até mesmo de sua própria tribo, rejeitou-o. Depois de 13 anos de preseguição e ódio, ele transferiu seu centro de atividades para o norte, em Iatrib, que então passou a ser conhecido como al-Madinah (Medina), a cidade do profeta. Essa emigração, ou hégira, me 622 EC, foi um marco importante na história islâmica, e essa data foi mais tarde adotada como ponto de partida do calendário islâmico. Assim, o ano muçulmano é dado com AH (latim, Anno Hegirae, ano da fuga) em vez de AD (Anno Domini, ano do Senhor) ou EC (Era Comum).
Por fim, Maomé obteve o domínio quando Meca capitulou diante dele, em janeiro de 630 EC (8 AH), e ele passou a governá-la. Com as rédeas do controle secular e religioso nas mãos, ele conseguiu varrer as imagens idólatras da Caaba e estabelecê-la como ponto principal de peregrinação a Meca, que persiste até hoje.
Poucas décadas depois da morte de Maomé, em 632 EC, o islamismo já se havia difundido até o Afeganistão, e até mesmo à Tunísia, na África do Norte. Perto do início do oitavo século, a fé do Qur'ãn penetrara na Espanha e chegara à fronteira francesa. Como disse o professor Ninian Smart em seu livro Background to the Long Search (Origem da Longa Busca): "Encarada dum ponto de vista humano, a consecução de um profeta árabe que viveu no sexto e no sétimo séculos depois de Cristo é assombrosa. Humanamente, foi dele que fluiu uma nova civilização. Mas, naturalmente, para os muçulmanos a obra era divina, e a consecução, de Alá."
A Morte de Maomé causa divisão
A morte do profeta provocou uma crise. Ele morreu sem deixar descendente masculino e sem sucessor claramente designado. Como diz Philip Hitti: "O califado (cargo de califa) é, pois, o mais antigo problema que o islamismo teve de enfrentar. Ainda é uma questão acesa...Como disse o historiador muçulmano al-Shahrastani: "Nunca houve uma questão islâmica que causasse mais derramemento de sangue do que o califado (imamah)." Como se resolveu o problema lá em 632 EC? "Abu-Bekr...foi nomeado (8 de junho de 632) sucessor de Maomé por meio de um tipo de eleição em que participaram os líderes presentes na capital, al-Madinhah." - História dos Árabes.
O sucessor do profeta seria um governante, um khalifah, ou califa. Contudo, a questão concernente a quem eram os verdadeiros sucessores de Maomé virou motivo de divisões nas fileiras do islamismo. Os muçulmanos sunitas aceitavam o princípio de cargo eletivo, em vez de a descendência sanguínea do profeta. Assim eles crêem que os três primeiros califas, Abu-Bekr (sogro de Maomé), Omar (conselheiro do profeta) e Otmã (genro do profeta), eram os sucessos legítimos de Maomé.
Essa afirmação é contestada pelos muçulmanos xiitas, que dizem que a verdadeira liderança vem da linhagem sanguínea do profeta e por meio de seu primo e genro, Ali ibn Abi Talib, o primeiro imane (líder e sucessor), que se casou com a filha predileta de Maomé, Fátima. Seu casamento produziu os netos de Maomé, Hasã e Husain. Os xiitas afirmam também "que desde o início Alá e Seu Profeta haviam claramente nomeado Ali como único legítimo sucessor, mas que os três primeiros califas usurparam seu cargo de direito". (História dos Árabes) Naturalmente, o conceito dos muçulmanos sunitas é outro.
O que aconteceu com Ali? Durante seu domínio como quarto califa (656-661), surgiu uma rixa a respeito de liderança entre ele e o governador da Síria, Moávia. Envolveram-se entre ele e o governador da Síria, Moávia. Envolveram-se em batalha, mas, daí, para evitar mais derramamento de sangue muçulmano, eles submeteram a sua disputa ao arbítrio. Ter Ali aceitado o arbítrio enfraqueceu a sua causa e alienou muitos de seus seguidores, incluindo os Caridjitas (dissidentes), que se tornaram seus inimigos mortais. No ano 661, Ali foi assassinado por um caridjita fanático, com um sabre envenenado. Os doisgrupos (sunitas e xiitas) estavam em forte desacordo. Daí, o ramo sunita do islamismo escolheu um líder dentre os omíadas, ricos chefes de Meca, que não eram da família do profeta.
Para os xiitas, o primogênito de Ali, Hasã, neto do profeta, era o verdadeiro sucessor. Contudo, ele renunciou e foi assassinado. Seu irmão Husain tornou-se o novo imane, mas também foi morto, por tropas omíadas, em 10 de outtubro de 680. A sua morte, ou martírio, como os xiitas a encaram, teve um significativo efeito sobre o Shiat Ali, o partido de Ali, efeito que perdura até os dias de hoje. Eles crêem que Ali era o verdadeiro sucessor de Maomé e o primeiro "imane (líder) divinamente protegido contra o erro e o pecado." O maior segmento dos xiitas crê que houve apenas 12 verdadeiros imanes, e que o último destes, Maomé al-Muntazar, desapareceu (em 878) "na gruta da grande mesquita de Samarra, sem deixar descendência". Assim, "ele se tornou o imane oculto (mustatir) ou esperado (muntazar) ...No devido tempo ele aparecerá como o Madi (o divinamente guiado) para restaurar o verdadeiroislamismo, conquistar o mundo inteiro e introduzir um breve milênio antes do fim de todas as coisas". - História dos Árabes.
Anualmente, os xiitas comemoram o martírio do Imame Husain. Fazem procissões em que alguns se cortam com facas e espadas e de outras formas se autoflagelam. Em tempos mais recentes, os muçulmanos xiitas têm estado frequentemente nas notícias devido ao seu zelo pelas causas islâmicas. Contudo, eles representam apenas uns 20 por cento dos muçumanos do mundo, a maioria dos quais são muçulmanos sunitas. Agora, consideremos alguns dos ensinamentos do islamismo e vejamos como a fé islâmica afeta a conduta diária dos muçulmanos.
O supremo é Deus, não Jesus
As três maiores religiões monoteístas do mundo são o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Mas, na época em que Maomé apareceu, perto do começo do sétimo século, as duas primeiras religiões, a seu ver, haviam-se desviado do caminho da verdade. De fato, segundo certos comentaristas islâmicos, o Qur'ãn implica a rejeição de judeus e de cristãos, dizendo: "À senda (caminho estreito) dos que agraciaste, não à dos abominados nem à dos extraviados." (Surata 1:7)
Diz certo comentário alcorânico: "O povo do Livro desencaminhou-se: Os judeus por violarem o seu Pacto, e difamarem Maria e Jesus... e os cristãos por enaltecerem Jesus, o Apóstolo, à igualdade com Deus", por meio da doutrina da Trindade. - Surata 4:153-176
O principal ensinamento do islamismo, simplificando ao máximo, é o que se conhece por chahada, ou confissão de fé, que todo muçulmano conhece de cor: "La ilah illa Allah; Muhammad rasul Allah" (Não há deus senão Alá; Maomé é o mensageiro de Alá). Isto se harmoniza com a expressão alcorânica: "Vosso Deus é um só. Não há mais deus que ele, Clemente, Misericordiosíssimo." (Surata 2:163) A respeito da unicidade de Deus, o Qur'ãn reza: "Crede, pois, em Deus e em Seus apóstolos, e não digais: Trindade! Abstende-vos disso que será melhor para vós; sabei que o cristianismo verdadeiro não ensina a Trindade. Trata-se de uma doutrina de origem pagã introduzida por apóstatas da cristandade após a morte de Cristo e dos apóstolos.
Alma, ressureição, paraíso e inferno de fogo
O islamismo ensina que o homem tem uma alma que sobrevive para uma vida futura. O Qur'ãn diz: "Deus (Alá) recolhe as almas no momento da morte e, os que não morrem, ainda, (recolhe) durante o sono. Ele retém aqueles cuja morte tem decretada." (Surata 39:42) Ao mesmo tempo, a surata 75 é inteiramente devotada à Alquiáma ou Ressureição" ou "Levantamento dos Mortos". Ela diz em parte: "Pelo dia da ressureição...por ventura, crê o homem que jamais reuniremos seus ossos?...Perguntam: Quando acontecerá o dia da ressureição? Não será Alá capaz de ressuscitar os mortos? - Surata 75:1,3,6,40.
Segundo o Qur'ãn, a alma pode Ter diferentes destinos, que pode ser um jardim celestial paradisíaco ou a punição num inferno ardente. Como diz o Qur'ãn: "Perguntam: Quando chegará o Dia do Juízo Final? Será o dia em que forem torturados no fogo! Ser-lhe-á dito: Sofrei a vossa tortura! Eis aqui o que pretendestes urgir!" (Surata 51:12-14) "Sofrerão [os pecadores] um castigo na vida terrena; porém, o do outro mundo será mais severo ainda e não terão defensor algum ante Deus [Alá]. (Surata 13:34) Pergunta-se: "E que é que te fará entender isso? É o fogo ardente!" (Surata 101:10, 11) Esse pavoroso destino é o descrito em detalhes: "Quanto àqueles que negam Nossos versículos, introduzi-los-emos no fogo infernal. Cada vez que sua pele se tiver queimado, trocá-la-emos por outro, para que experimentem mais e mais o suplício. Sabei que Deus [Alá] é Poderoso, Prudentíssimo. '' (Surata 4:56) Outra descrição declara: "Em verdade, o inferno será uma emboscada...onde permanecerão séculos, até milênios, em que não provarão do frescor nem de (qualquer) bebida, a não ser água fervente e uma paralisante beveragem.'' - Surata 78:21, 23-25.
Os muçulmanos crêem que a alma dos falecidos vai para o Barzakh, ou "Barreira'', "o lugar ou estado em que as pessoas estarão após a morte e antes do Julgamento''. (Surata 23:99, 100, AYA, nota) A alma está cônsciaa ali, sofrendo o que se chama de "Punição do Túmulo" se a pessoa foi má, ou desfrutando a felicidade, se foi fiel. Mas, os fiéis também têm de sofrer algum tormento por causa de seus poucos pecados enquanto estavam vivos. No dia de juízo, cada qual encara seu destino eterno, que finda aquele estado intermediário.
Em contraste, aos justos se promete jardins celestiais paradísicos: "Quanto aos crentes que praticam o bem, introduzi-los-emos em jardins abaixo dos quais correm rios, em que morarão eternamente." (Surata 4:57) "Naquele dia os moradores do Paraíso em nada pensarão a não ser na sua felicidade. Junto com suas esposas, reclinar-se-ão sob arvoredos sombreados em sofás macios." (Surata 36:55, 56, NJD) "Antes disso Nós escrevemos nos Salmos, depois da Mensagem (dada a Moisés): 'Meus servos, os justos, herdarão a terra.' " A nota sobre essa surata remete o leitor para o Salmo 25:13 e 37:11, 29 e às palavras de Jesus em Mateus 5:5. (Surata 21:105, AYA) A menção de esposas leva-nos agora à outra pergunta.
Monogamia ou poligamia?
É a poligamia a regra entre os muçulmanos? Embora o Qur'ãn permita a poligamia, muitos muçulmanos têm apenas uma esposa. Devido à numerosas viúvas resultantes de custosas batalhas, o Qur'ãn fez concessão para poligamia: "Se temerdes ser injustos para com as órfãs, podereis desposar duas, três, ou quatro das que vos aprouver entre outras mulheres. Mas, se termerdes não poder ser equitativos para com estas, casai, então, com uma só, ou conformai-vos com o que está ao alcance de vossas mãos." (Surata 4:3) Uma biografia de Maomé, feita por Ibn-Hi-sham, diz que Maomé casou-se com uma viúva rica, Cadidja, 15 anos mais velha do que ele. Depois que ela morreu, Maomé casou-se com muitas mulheres. Ao morrer, deixou nove viúvas.
Outra forma de casamento no islamismo é chamada de mutah. É definido como "contrato especial celebrado entre um homem e uma mulher através da oferta e aceitação de casamento por um período limitado e com dote especificado, semelhante ao contrato para casamento permanente". (Islamuna, de Mustafá al-Rafafii, em inglês) Os suniras chamam-no de casamento por prazer, e os xiitas, um casamento a ser encerrado num período específico. Diz a mesma fonte: "Os filhos [de tais casamentos] são legítimos e têm os mesmos direitos que os filhos de um casamento permanente." Parece que essa forma de casamento permanente." Parece que essa forma de casamento temporário era praticada nos dias de Maomé, e ele permitiu que continuasse. Os sunitas insistem que foi proibida mais tarde, ao passo que os imamis, o maior grupo xiita, crê que ainda vigora. Muitos, efetivamente, o praticam, em especial quando um homem se ausenta de sua esposa por um longo período.
O islamismo e a vida diária
O islamismo envolve cinco principais obrigações e cinco crenças básicas. Uma das obrigações é que os muçulmanos devotos orem (salat) cinco vezes por dia, voltados para Meca. No Sábado muçulmano (Sexta-feira), os homens afluem à mesquita para oração ao ouvirem o chamado do muezim, do alto do minarete da mesquita. Hoje em dia, muitas mesquitas tocam uma gravação, em vez de fazerem uma chamada de viva voz.
Mesquita (masjid, em árabe) é o local de adoração dos muçulmanos, chamado pelo Rei Fahd Bin Abdul Aziz, da Arábia Saudita, de "pedra fundamental para invocar a Deus". Definiu a mesquita como "local de oração, estudo, atividades legais e judiciais, consultas, pregação, orientação, educação e preparação... A mesquita é o coração da sociedade muçulmana". Esses locais de adoração se encontram agora em todo o mundo. Um dos mais famosos na história é a Mezquita (Mesquita) de Córdoba, Espanha, que por séculos era a maior do mundo. A sua parte central é agora ocupada por uma catedral católica.
Conflitos com a Cristandade e no seio desta
A partir do sétimo século, o islamismo expandiu-se para o oeste, à África do Norte, para o leste, ao Paquistão, à Índia, ao Bangladesh, e até a Indonésia. Ao assim fazer, entrou em conflito com a militante Igreja Católica, que organizou Cruzadas para recuperar dos muçulmanos a Terra Santa. Em 1492, a raínha Isabel e o rei Fernando, da Espanha. Os muçulmanos e os judeus tinham de converter-se, sob pena de serem expulsos da Espanha. A tolerância mútua que existira sob o domínio muçulmano na Espanha mais tarde se evaporou sob a influência da Inquisição católica. Contudo, o islamismo sobreviveu e, no século 20, tem experimentado um ressurgimento e grande crescimento.
Enquanto o islamismo se expandia, a Igreja Católica enfrentava sua própria inquietação, tentando manter a união em suas fileiras. Mas, duas poderosas influências estavam para irromper em cena, e elas destroçariam ainda mais a imagem monolítica dessa igreja. Tratava-se da imprensa e da Bíblia na língua do povo.



Fundamentação Doutrinária

Dogmas

O foco principal do Islam é o Monoteísmo (a concepção do Deus único) e a revelação d´Ele ao profeta Maomé (Mohammad).

“Não há deus senão Alá ( Deus) , e Maomé é seu Profeta.”

Os muçulmanos seguem um conjunto de cinco obrigações religiosas, chamado de “Os cinco Pilares”: credo, oração,zacat(caridade, jejum e a peregrinação à Caaba que fica na cidade de Meca (Makkah).

Livros Sagrados

o Corão (Alcorão) – livro sagrado dos muçulmanos que reúne as revelações para o profeta Maomé (Mohammad). O primeiro Corão foi compilado por volta de 650 EC (Era Comum). Este livro maravilhoso do ponto de vista dos ensinamentos e do seu estilo literário, é um conjunto de 114 capítulos (suras), que se organizam da seguinte forma: os textos mais longos vêm primeiro, seguidos pelos mais curtos. Exceção à regra, é a sura 1, que inicia o Corão. Denominado “Al Fatiha” (a abertura), este capítulo inicial louva Alá e pede Sua orientação. Para os muçulmanos, o Corão contém as palavras exatas de Deus, que conforme eram reveladas a Maomé, este as recitava e seus seguidores as escreviam. Algumas histórias são de profetas do Velho e do Novo Testamento da Bíblia.

As leis do Corão dividem as ações humanas em vários grupos:

Fard – o que deve ser feito.

Mandub – ações encorajadas e recompensadas por Deus.

Mubah – ações nem punidas, nem recompensadas, pois o Corão nada fala sobre elas.

Makruh – atos desencorajados, mas não punidos.

Haram – ações ilegítimas e puníveis por lei.

Sunna – Palavra que significa “caminho”ou "lei". São as palavras e atos do profeta. É a explicação prática do conteúdo do Corão através dos ditos, atos e afirmações do profeta Maomé.

Hadith – Dizeres e relatos das ações do profeta, que foram compilados, para servir de exemplo para a geração futura. Duas das mais confiáveis coleções são a do imã Bukhari e a do imã Muslim.

Templos

Mesquitas - São os templos muçulmanos. A maioria possui planta retangular. Um arco na parede, denominado “mihrab”, indica a direção de Kaaba. À sua direita, geralmente com três degraus, está o “mimbar”, de onde o imã fala. Em grandes mesquitas do Oriente Médio, oficiais ficam sobre uma plataforma denominada “dakka”; ao lado há o “kursi”, estante sobre a qual é apoiado o Corão.

Kaaba – É o centro físico da fé islâmica. Todas as orações são feitas em sua direção. Primeiro santuário construído por Ibrahim para adorar o Deus Único, a Kaaba está localizada na cidade de Meca (Makkah). Estrutura oca em forma de cubo, com a pedra negra encravada no lado oriental, constitui o início e o fim do Hajj – peregrinação à cidade de Meca (Makkah).


O link deste texto acima foi mudado e não consegui atualizar.

Mais informações em http://www.mundoislamico.com/ e também em http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/islamismo/index.html

BÁRBAROS - MONASTICISMO OCIDENTAL E GREGÓRIO MAGNO

GREGÓRIO MAGNO
O PRIMEIRO PAPA MEDIEVAL



A sua consagração como o bispo de Roma divide o período antigo história da Igreja do período medieval. A Igreja Católica vê o período entre 500 e 1000 como a era de outro da história humana. Ele foi o intérprete de Agostinho para a idade média, com ênfase eclesiástica e sacramental. Puçá originalidade, expôs o sistema teológico do ocidente em harmonia com o cristianismo popular.

Gregório tornou-se o símbolo do novo mundo medieval em que a cultura foi institucionalizada dentro da Igreja dominada pelo bispo de Roma.

Gregório (540 – 604), geralmente chamado O Grande, nasceu nos turbulentos tempos em que o Império oriental sob Justiniano buscava reconquistar a metade ocidental do Impe’rio que fora perdida para as tribos teutãs. Pilhagens, doenças e fome estavam na ordem do dia.

De família tradicional, nobre e rica em Roma, recebeu uma educação jurídica para se preparar para a vida pública, estudou latim, familiarizado com Ambrósio, Jerônimo e Agostinho, conheceu pouco da literatura clássica ou filosófica de Roma. Foi escolhido prefeito de Roma em 573, uma posição importante. Logo depois disto, abandonou a fortuna que herdara do pai – a mãe Silvia, entrara para um convento após a morte do esposo – usou os lucros para construir sete mosteiros na Itália, dos quais o mais importante erigido no palácio do pai, tornou-se então monge ali. De 579 a 585, sem falar grego foi embaixador do bispo de Roma em Constantinopla, Depois de sua volta a Roma, foi escolhido abade do mosteiro de Santo André, que ele fundara após a morte do pai.

Tornou-se monge porque entendia que o ascetismo era uma forma de glorifica a Deus. Quando o papa Pelágio morreu, atacado por uma epidemia, em 590, Gregório foi escolhido para substituí-lo.

Seu epitáfio foi Cônsul de Deus, foi um dos gigantes da Igreja Romana, por ter renunciado a grande riqueza impressiona a sua geração, humilde, via-se como o servo dos servos de Deus. Missionário zeloso foi responsável pela conquista dos ingleses para o cristianismo, Sua formação fez dele um administrador dos mais competentes da igreja, mas era infelizmente supersticioso e crédulo. Ampliou o poder de bispo romano, embora não reivindicasse o título de papa, exerceu todos os poderes e prerrogativas dos papas posteriores. Mesmo quando contestou o título de bispo universal de João, o Jejuador, patriarca de Constantinopla, e para isto se aliou a Focas, usurpador do trono, não aceitou de ser chamado de papa universal mas sim de “servo dos servos de Deus”, por outro lado não permitiu que outro ostentasse este título. Como interessado na obra missionário, enviou a Agostinho, não o de Hipona, para a Inglaterra e lá trouxe os ingleses ao cristianismo e subordinou esta igreja a Roma.

Além disto tornou o episcopado de Roma um dos mais ricos da Igreja de sua época, por ser excelente administrador. Com este dinheiro foi capaz de juntar tropas e forçar o governante Lombardo a aceitar a paz e ganhou-o do arianismo.

Foi, mas há falta de documentação contemporânea, o organizador do canto gregoriano. Foi um grande pregador, apresentado uma mensagem de desafio para o tempo de crise em que viveu. Seus sermões eram práticos e salientavam a humildade e a piedade, embora grandemente prejudicados por um uso excessivo de alegoria, um erro comum na época.

Além dos sermões escreveu um comentário sobre o Livro de Jó, ele propõe uma interpretação moral e recorre à alegoria , pinta Jó como um tipo de Cristo, sua esposa como um tipo de natureza carnal, os 7 filhos como tipos de clero e as 3 filhas como tipos dos leigos fiéis. Era ta respeito como professor na Igreja Ocidental que é representado sempre com uma pomba, símbolo do Espírito, pousada em seu ombro e comunicando-lhe a verdade divina nos ouvidos.

Foi um teólogo destacado. Colocou os fundamentos da teologia romana até Aquino, Cria que o homem era um pecador por nascimento e escolha, mas discordava da doutrina agostiniana ao afirma que o homem não herdava a culpa de Adão mas apenas o pecado, como uma doença a que todos estão sujeitos, Sustentava que a vontade era livre e que apenas sua bondade fora perdida. Aceitava a predestinação limitando-a porém aos eleitos, não via a graça como irresistível.

Defendia a idéia das boas obras e aceitava a do purgatório como um lugar onde as almas seriam purificadas antes de sua entrada nos céus. Sustentava a inspiração verbal da Bíblia mas estranhamente dava a tradição o mesmo papel da Bíblia. Gregório ensinou as boas obras e a invocação dos santos para conseguir sua ajuda.

A sua teologia é agostiniana, mas com ênfase diferente, expande todas as tendências eclesiásticas de Agostinho e o material colhido do cristianismo popular. Milagres, anjos e o diabo ocupam no sistema de Gregório um lugar de muito maior destaque do que lhes coube no de Agostinho. Sistematizou a doutrina e fez a Igreja uma potência na área política

MONAQUISMO - DOS PRIMÓRDIOS AO SÉC. VII - INÍCIO
Por Maria Ester Vargas
INTRODUÇÃO
O objeto do presente estudo é o monaquismo, que constitui o grande alicerce para a expansão do Cristianismo à escala mundial. Não é nosso propósito desenvolver este tema relativamente ao período do seu grande apogeu - Idade Média -, mas sim referir-nos às suas origens e seus antecedentes, de modo a podermos compreender melhor como se chegou a um período tão áureo na vida monacal medieval. Debruçar-nos-emos, pois, sobre o tempo em que o Monaquismo nasceu, à margem da Igreja oficial, que tinha dificuldade em reconhecer o valor e a utilidade que os mosteiros poderiam ter na expansão e afirmação do ideal Cristão, 1 por suspeitar que eles espalhavam doutrinas duvidosas, para depois ir ganhando terreno no seu seio, transformando-se num meio imprescindível na afirmação da doutrina de Cristo.
Focaremos, igualmente, a evolução e o percurso do monaquismo, primeiro no Médio Oriente, seguindo-se o Norte de África e, finalmente, a Europa Central e Ocidental. Tentaremos demonstrar a importância e o contributo das principais Regras que ajudaram a fornecer bases bem precisas para "uma vida monástica mais consistente"2.
Em capítulo detalhado, desenvolveremos com maior pormenor a questão do monaquismo nas Ilhas Britânicas, com especial relevo para o monaquismo celta, que teve características próprias e bem definidas.
Tentaremos demonstrar que a Cristianização das Ilhas Britânicas não foi um processo pacífico, e que a uma determinada altura estabeleceu o caos e a confusão, devido à coexistência de várias correntes da vida monástica: a Celta e a de Roma.
Deter-nos-emos no Sínodo da Whitby (673), do qual resultou "a unificação religiosa da Inglaterra sob a orientação de Roma"3, embora tenham persistido ainda alguns redutos do Monaquismo Celta, sobretudo na Irlanda.
Escolhemos este fato por considerarmos que ele culmina um período bem demarcado do Monaquismo Ocidental - o seu nascimento e implantação, que será fundamental para o período de grande apogeu da vida dos mosteiros que se lhe seguiu e que, inclusivamente, originou a criação e a difusão de novas ordens monásticas.
Quanto à metodologia de trabalho utilizada, a mesma teve por base bibliografia variada e que é indicada em secção própria, de modo a possibilitar o confronto de ideais e a superação de lacunas que uma visão unilateral obrigatoriamente teria.
Esperamos que o nosso estudo ajude a uma reflexão e a uma sistematização sobre a maneira que os homens encontraram de chegar a Deus, tentando atingir a perfeição, meditando, alheando-se das coisas terrenas através da oração, humildade e obediência. A esse modo de vida religiosa se chamou MONAQUISMO
CONCEITO DE MONAQUISMO
Ao depararmos com o temo Monaquismo, de imediato nos surge a idéia de isolamento e de alheamento do mundo. Com efeito, o Monaquismo é um sistema de vida de consagração à causa divina, que tenta chegar a Deus passando pelo recolhimento e uma vida de dedicação e interiorização.
A esta palavra associa-se uma outra - monge -, que deriva do grego monos, (único, só). Etimologicamente, designa aquele que vive solitário, dedicando a sua vida ao serviço de Deus, dedicação essa assumida livremente e que pressupõe o cumprimento das normas estabelecidas numa Regra, baseando-se sempre nos conceitos de castidade, pobreza e obediência.
Embora tenha assumido formas diferentes, como iremos verificar, o que é certo é que o Monaquismo tem sido uma constante na vida de várias religiões, à partida completamente díspares (ex: Monaquismo Budista versus Monaquismo Cristão), revelando-se acima de tudo como "algo universal e inerente à condição dos fiéis que pretendem desenvolver a sua vida espiritual no sentido da perfeição"4.
ORIGENS DO MONAQUISMO CRISTÃO
Desde os primórdios da Cristandade que os ideais livremente assumidos de virgindade e castidade em louvor do Reino de Deus foram motivo de admiração. Essa escolha era feita "por fiéis de ambos os sexos que abraçaram uma vida de plena imitação de Cristo e que, para além dos votos referidos, praticavam a oração e a mortificação paralelamente com obras de misericórdia"5.
Como causas deste procedimento, poderemos referir a "repugnância pela imoralidade reinante"6 e, sobretudo para as mulheres, o facto de esse tipo de vida lhes proporcionar uma certa emancipação, tendo em conta a servidão social que o matrimônio assumia na época.
É curioso realçar o facto de, na maior parte dos casos, estes votos serem feitos sem quaisquer solenidades públicas, permanecendo as pessoas no seio das suas famílias, não tendo vestuário que os distinguisse das outras pessoas.
A partir do século IV começou a ser habitual a realização de um ritual de consagração das virgens, - o velario -7 que costumava ter lugar nas grandes festas litúrgicas e na presença de fiéis.
Este tipo de consagração a Deus foi-se generalizando cada vez mais, tornando-se quase numa moda, sobretudo nos meios aristocráticos. A ilustrar esta afirmação, poderemos citar o exemplo de Paulino de Nola e Terásia, casal da nobreza imperial romano-cristã, que "se desfizeram de patrimônios imensos e assumiram uma existência de fiéis discípulos de Cristo, segundo os ensinamentos do Evangelho"8. Importante se torna referir aqui a figura de São Jerônimo, que dirigiu espiritualmente os círculos ascéticos de nobres senhoras romanas, primeiro em Roma e depois na Palestina9.
As "virgens consagradas" terão sido, na nossa opinião, o embrião da vida monástica, uma vez que a sua práxis tinha a ver com a renúncia do mundo pelo ideal de Cristo, para além do fato de já possuírem uma forma de vida consagrada, ainda que muito incipiente.
MONAQUISMO ORIENTAL
Mas onde, e quando, terá sido a origem do fenômeno normalmente designado por Monaquismo, ou Monacato, se utilizarmos a terminologia de Fortunado de Almeida10?
Ao certo, não se sabe. É comum designar-se monge aquele que segue uma Regra antiga, mas o que é certo é que, muito antes de se terem estabelecido Regras, já havia formas de vida monástica baseadas na segregação do mundo - o contemptus saeculi -, como condição prévia para a purificação interior, abrindo o caminho da contemplação divina11.
João Cassiano, que depois de passar muitos anos entre os monges da Palestina, Egito e Constantinopla se estabeleceu na Provença e fundou dois mosteiros em Marselha, onde permaneceu o resto da sua vida, considerava que o Monaquismo já vinha do tempo dos Apóstolos12. Outros apontam para a época de Jesus. J. Allegro, no seu livro O Mito Cristão e os Manuscritos do Mar Morto aponta para o estudo dos documentos encontrados já neste século nas margens do Mar Morto e que dão testemunho da vida monástica (essénios e terapeutas) na época de Jesus Cristo, e que teriam influenciado os primeiros Cristãos. Estas comunidades espalharam-se até à Tebaida e parece ter sido nessa região - fronteira entre a Ásia e a África -, que a tradição diz ter nascido o Monaquismo Cristão13.
Com a promulgação da liberdade de culto e religião decretada pelo Édito de Milão de Constantino, ser Cristão passou a não comportar os riscos de outrora,
Alguns, desejando levar uma vida mais fervorosa, menos enredada nas preocupações do mundo, partiram para o deserto praticando aí uma vida de pobreza e humildade de acordo com os preceitos do Evangelho, tendo sido designados por Padres do Deserto.
A maior parte vivia isolada, por vezes com alguns discípulos à volta de um mestre, só voltando a encontrar-se com a comunidade para a celebração da liturgia. Muito pouco se sabe sobre a sua vida, que apenas veio até nós através dos Apotegmas - textos que nos relatam os seus atos através das suas palavras e que nos apresentam homens submetidos à tentação que se dedicam a viver o ideal de perfeição ensinado por Jesus14.
Como expoente e símbolo deste tipo de vida monástica apelidada de anacoreta ou eremita, temos Santo António do Egito, também conhecido por Santo Antão, que influenciou diretamente através do seu próprio exemplo, e indiretamente através do espírito, um grande número de aderentes ao anacoretismo, o qual se revestia de duas formas: absoluto, (solidão total) e temperado (sob a direção de um "pai" espiritual)15.
Graças à sua ação, esta forma de Monaquismo espalhou-se pelo alto Egito, Palestina, indo até à Síria e à Mesopotâmia.
Mas o anacoretismo não foi a única forma de vida consagrada existente nesta época.
São Pacómio, coevo de Santo António do Egito, trouxe ao Monaquismo novos elementos de grande importância - a vida em comum e a obediência a um superior religioso: cenobitismo16.
Ainda uma referência muito especial para o Cristianismo Copta que, de certa forma, foi uma conseqüência do Monaquismo Egípcio19. Graças à sua ação, O Cristianismo penetrou amplamente nas populações de camponeses de língua copta, principalmente porque os monges eram na sua maioria gente de condição humilde. Desde os tempos de São Atanásio, eram apoiantes acérrimos dos Patriarcas de Alexandria, a quem apelidavam de chefes religiosos e nacionais. Após o Concílio de Calcedônia (451), os monges, desconhecedores das disputas teológicas, seguiram incondicionalmente os seus patriarcas e caíram na heresia monofisista, surgindo assim outra corrente Cristã desvinculada de Roma e de Constantinopla que se foi isolando cada vez mais, sobretudo desde a conquista islâmica do século VII, passando a ser conhecida por Cristianismo Copta20.
MONAQUISMO OCIDENTAL
Herdeiro das tradições orientais, o Monaquismo Ocidental teve um papel de extrema importância na consolidação do ideal cristão.
Na Grécia, foi São Basílio, bispo de Cesareia, quem desenvolveu e organizou a vida dos ascetas, tendo escrito algumas "Regras", que ainda hoje são observadas no mundo ortodoxo.
Aliás, a fundação de mosteiros no Ocidente está sempre ligada à elaboração de um conjunto de normas orientadoras na organização dos Institutos de Vida Consagrada, utilizando a terminologia do atual Código do Direito Canônico.
Santo Agostinho de Hipona foi outro nome deste período, escrevendo, igualmente, uma Regra que viria a obter grande sucesso na Idade Média. São Martinho de Tours notabilizou-se também, através da fundação de mosteiros, entre os quais se salientam os de Ligugé e Marmoutier. Referência ainda para os nomes de Columba e Patrício, grandes impulsionadores do monaquismo celta.
Primordial se torna falar de São Bento de Núrsia - "last but not least" -, cuja Regra iria reger durante vários séculos quase todos os mosteiros do Ocidente, tornando-se numa grande personagem, senão maior, entre aqueles que fundaram mosteiros e escreveram Regras, sendo justamente chamado "Pai dos Monges do Ocidente"21 e designado Patrono da Europa.
Para além de se basear nas suas próprias experiências recolhidas nos mosteiros que fundou e onde viveu (Subiaco e Montecassino), a sua Regra, estabelecida em meados do sec. VI, inspirou-se nas que então se praticavam: as de Pacómio, Agostinho e Cassiano.
Contudo, segundo Souther, R.W., no seu livro A Igreja Medieval, "parece hoje indiscutível que São Bento copiou quase literalmente grande parte da sua Regra, incluindo algumas das passagens mais famosas acerca do ensino espiritual, da Regra de um autor anterior conhecido como Mestre"22. De acordo com a fonte citada, as duas Regras apresentam no entanto algumas diferenças, entre as quais se salientam:
REGRA DO MESTRE REGRA DE SÃO BENTO
- muitas generalidades, com pouca prática; longas descrições da vida no Paraíso e de natureza monástica.
- aspectos demasiado particularizados para serem significativos:
Regulamentação acerca do tossir, cuspir e respirar pelo nariz por forma a não ofender os anjos.
- revela espírito impetuoso e investigador do Mestre.
- o Abade parecia preocupar-se mais com os que se fingiam doentes.
- a obediência absoluta era uma virtude apenas alcançável por uns quantos monges perfeitos. - omitiu-se tudo isto, conservando apenas o que tinha interesse prático, resumindo tudo o mais possível e conferindo-lhe claridade.
- deu grande ênfase à rotina exacta dos ofícios diários.
- prova-se a humildade que exigia aos próprios monges.
- o abade destinava-se acima de tudo a cuidar dos doentes.
- a obediência absoluta era uma virtude alcançável por todos os bem-aventurados.

Mas como e porque é que esta Regra se tornou o expoente máximo do Monaquismo Ocidental?
Em nosso entender, isso ficou a dever-se ao fato de a Regra fornecer bases concretas e precisas para uma vida monástica, conservando, todavia, uma certa flexibilidade, pretendendo indicar um caminho para uma nova ordem e incluindo pormenores de vida diária, indicações sobre os salmos a recitar, quais os livros a ler e sobre as pessoas responsáveis pelas várias atividades, entre outros aspectos da vida dos monges. Sendo abrangente, a Regra de São Bento tem como princípio base da sua doutrina o ideal de obediência de corpo e alma:
- aos princípios espirituais contidos nos Evangelhos;
- à Regra;
- ao abade;
"Aqueles que cumprem, devem, pelo trabalho de obediência, regressar a Deus, que abandonaram devido ao pecado da desobediência"23.
A figura do abade tem grande peso na ordem beneditina, considerado o vigário de Cristo na Comunidade. Logo, a sua palavra tem que ser ouvida como se fosse a do próprio Deus. O abade vai ter na Regra beneditina um papel de consolador e encorajador, sobretudo relativamente aos que incorrem na pena de excomunhão por cauda da desobediência24. Aliás, esta ternura tão pouco habitual em regras anteriores, vai ser uma das principais características da Ordem, conferindo-lhe um sentido universal, destinada a todos os homens da Terra, misturando severidade e rigor com ternura, apoio e compreensão.
A Regra de São Bento ajudou a diluir a idéia defendida no início do séc. VI, e suportada por Santo Agostinho, segundo a qual era difícil que um bom monge se tornasse um bom clérigo. "No one can both perform ecclesiastical (clerical) duties and remain by due order under monastic rule"25.
Com efeito, a Regra possibilitou a evolução e preparação dos monges, que inicialmente eram analfabetos na sua maioria, não tendo formação adequada para exercerem funções de presbíteros. A insistência numa vida em comunidade fechada - a estabilidade era um dos princípios bases da Regra-, produzia um tipo de monge mais civilizado que podia ser aproveitado para o clero secular após uma preparação adequada.
Quando São Bento faleceu, apenas três mosteiros abservavam as suas prescrições e trinta anos mais tarde o próprio mosteiro de Montecassino era destruído pelos Lombardos.
Ao ser eleito Papa, Gregório Grande, antigo monge beneditino, encarregou-se de propagar a Regra da sua Ordem tendo em mente dois objetivos bem definidos26:

1. favorecer o monaquismo, na medida em que era melhor para a expansão do Cristianismo;
2. desenvolver uma legislação unificada sobre a qual poderia exercer maior controle.

No final do seu pontificado já uma grande rede de mosteiros beneditinos cobria a Europa, entre os quais se salientaram as abadias de Jarrow, Malmesbury e Westminster, na Inglaterra, bem como as fundações antigas reconvertidas de Lérins e Marmoutier.
Gradualmente, e com o grande incremento dado por Gregório o Grande, o ideal beneditino foi-se espalhando e alicerçando tendo absorvido até a Regra de Columba, na Irlanda.
A Península Ibérica foi também influenciada pela corrente monástica que então se vivia na Europa.
De imediato ressaltam dois nomes: São Martinho de Dume, que na segunda metade do séc. VI trouxe à Galécia a doutrina do Monaquismo Oriental; de São Frutuoso de Braga, monge visigodo propulsor de um movimento ascético que sobreviveu à invasão islâmica, tendo composto uma Regra para monges e que mais tarde originou uma Regra comum.27.
No reino visigodo cristão vários Padres Hispânicos elaboraram Regras. Entre eles, salientaram-se São Leandro, com uma Regra para Virgens, dedicada a sua irmã Florentina, e Santo Isidoro, cuja Regra se destinou ao mosteiro Honorianense, na Bética.
A vida monástica na Hispânia estava subordinada aos prelados diocesanos-bispos, que tinham o direito não só de escolher o abade dos mosteiros mas também o de corrigir os excessos cometidos contra a Regra.
Este fato demarcou o monaquismo da Espanha goda do ideal beneditino, que impunha que o abade fosse eleito pela Congregação tendo a partir desse momento papel soberano sobre toda a comunidade.
No que se refere à província da Lusitânia, um dos seus mosteiros mais antigos foi o do Lorvão, segundo Fortunato de Almeida28, sendo provável que a sua fundação date de meados do séc. VI e que, a par dos mosteiros de Dume e de São Martinho de Tibães, constitui um marco importante da vida monástica em território que posteriormente viria a ser Portugal29.

VARGAS, Maria Ester. Apostolado Veritatis Splendor: O MONAQUISMO - DOS PRIMÓRDIOS AO SÉC. VII - INÍCIO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/1123. Desde 12/05/2003.

BÁRBAROS CRISTÃOS, DENTRO E FORA DO IMPÉRIO ROMANO

Os bárbaros - isto é, por definição, os povos que não falavam nem latim nem grego - sempre tinham cercado e ameaçado o Império Romano, que se protegia deles graças a uma fronteira militarizada contínua, o limes, o limite. No entanto, desde finais do século III, a crise que corroía o mundo romano tornou os custos desta defesa difíceis de assegurar. A barreira tornou-se cada vez mais permeável, mas o cristianismo ganhou com isso novas ocasiões para se difundir entre os povos vizinhos.
É verdade que, havia muito tempo, Roma fazia uma política de sedução junto dos bárbaros mais próximos. Oferecendo-lhes algum dinheiro, os imperadores uniam estas nações belicosas mas economicamente vulneráveis, que se fixavam junto das fronteiras, de modo a criar uma barreira protectora. Estas populações, mais ou menos sedentarizadas, abriam-se às influências culturais dos seus poderosos protectores. Ocasionalmente, o cristianismo aproveitava estas aberturas. Assim, no Norte da Arábia, uma tribo de sarracenos aliada de Roma converteu-se desde os anos 370.
Esta instalação dos povos clientes romanos nas fronteiras não bastou para travar a crise profunda que o Império vivia e cuja causa principal era provavelmente a queda da demografia. Por isso, para repovoar o mundo romano, os dirigentes dos séculos IV e V permitiram que bárbaros entrassem no seu território. Bastantes deles foram contratados para um exército que não conseguia encontrar recrutas entre os cidadãos. Alguns deles tiveram belas carreiras: a maior parte dos grandes generais do Império Tardio, como Estílico ou Estilicão [em latim, Flavius Stilicho], Bauto ou Arbogasto foram bárbaros. Embora, em geral, estes homens tenham permanecido pagãos, os seus filhos converteram-se ao cristianismo e casaram-se com membros das maiores famílias romanas.
Outro bárbaros, em grupos inteiros, foram instalados nas províncias despovoadas para as fortalecer. Assim aconteceu com diversos povos chamados "germânicos" que habitavam a leste do Reno e a norte do Danúbio
e foram arrastados para o Império pelos fluxos migratórios oriundos da Ásia central. Muitas vezes, era a fome que os levava a entrar no Império, não para pilhá-lo, mas para procurar a sua protecção. Quando, então, descobriam o cristianismo, as suas reacções à nova religião dependiam bastante das relações complexas que mantinham com os imperadores.
Nesta perspectiva, basta o destino dos visigodos para resumir o processo de evangelização dos bárbaros. Em meados do século IV, este antigo povo germânico vivia no baixo vale do Danúbio, quando recebeu a visita de Úlfila, um bispo capadócio, que lhe pregou o cristianismo e lhe traduziu a Bíblia em língua gótica. Ora, este Úlfila tinha participado em 360 no Concílio de Constantinopla, em que triunfara a profissão de fé proposta pelo imperador Constâncio II. Estabelecido no seu terreno de missão, Úlfila ensinou aos visigodos o único modelo trinitário que conhecia: a doutrina homoiana, que apresentava o Filho como ligeiramente subordinado ao Pai e que os seus opositores qualificavam como arianismo disfarçado. E assim, por mero acaso, acabava de nascer o "arianismo germânico".
Apesar do ardor de Úlfila, o sucesso do cristianismo não foi imediato. Entre 369 e 372, um dos chefes visigodos, Atanarico, lançou uma perseguição, provavelmente porque a nova religião ameaçava as antigas crenças tribais em torno das quais se fundava a identidade gótica. Tudo mudou quando o poder dos visigodos decaiu e o seu território foi invadido pelos Hunos. Em 376, o chefe Fritigerno foi obrigado a negociar a entrada do seu povo no território romano. Em sinal de boa vontade, converteu-se ao cristianismo homoiano, que, então, era a religião oficial do Império Romano do Oriente.
No entanto, o imperador Valente não teve consideração alguma pelos refugiados. Humilhou os chefes godos e provocou a fome entre os seus povos. Num movimento de desespero, os bárbaros revoltaram-se. Desastradamente, Valente tentou esmagá-los, subestimando a sua força. Assim fazendo, arrastou o exército romano para um dos piores desastres da sua história, a batalha de Andrinopla (378), em que ele próprio encontrou a morte. O traumatismo causado pela derrota selou o destino da doutrina homoiana no Império, onde se considerava que a morte do imperador tinha sido um castigo divino punindo a sua heresia. Em 380, o novo imperador, Teodósio I, pôde sem dificuldade impor o regresso ao catolicismo, doutrina do Concílio de Niceia (325).
Por seu lado, os visigodos continuaram a vaguear através do Império, ora como aliados, ora como inimigos. Mantendo-se fiéis à doutrina pregada por Úlfila, foram descobrindo pouco a pouco que os romanos já não professavam o mesmo modelo trinitário. E, em vez de se converterem ao catolicismo, preferiram continuar "arianos". De facto, embora sofressem uma forte romanização no seu modo de vida, a diferença religiosa permitia-lhes proteger a sua identidade étnica. Por isso, enquanto a língua gótica ia sendo cada vez menos usada no dia-a-dia em proveito do latim, continuava a ser a língua litúrgica da Igreja ariana.

Embora o cristianismo dos visigodos tenha sido fruto do seu oportunismo político, nem por isso era menos sincero. Quando, em 410, fizeram o saque de Roma, respeitaram o direito de asilo das basílicas. Foi preciso esperar por 418 para que, finalmente, o Império lhes confiasse uma tarefa digna e remunerada segundo as suas expectativas. Com efeito, receberam a missão de defender as províncias do Sul da Gália de todos os outros bárbaros. Continuando senhores deste imenso território aquando do desaparecimento do último imperador do Ocidente, os visigodos fizeram dele o seu reino.
Nas regiões que controlavam, os visigodos implantaram um clero ariano e construíram basílicas heréticas. Mas também difundiram a sua fé entre outros povos germânicos. Os ostrogodos, que lhes eram aparentados, tinham sido convertidos desde a época da sua instalação comum nas margens do Danúbio. Os seus reis conservaram esta fé depois de terem conquistado a Itália em 493. Do mesmo modo, os vândalos aceitaram a doutrina ariana, em circunstâncias mal precisas, mas em data muito precoce; o seu reino de África tornou-se uma terra de heresia. Em 466, a diplomacia conquistadora dos soberanos visigodos alcança também a conversão ao arianismo dos suevos instalados no Noroeste das Hispânias. Quanto aos burgúndios, fixados no Reno médio, tinham decidido converter-se ao catolicismo durante os anos 430, pensando que, assim, beneficiariam do apoio de Roma contra os hunos que ameaçavam as suas fronteiras. Mas ficaram cruelmente decepcionados. Por isso, quando, nos anos 470, voltaram a formar um reino independente ao redor de Lião, preferiram converter-se à religião dos seus poderosos aliados visigodos.
Em resumo, por volta do ano 500, no conjunto do Ocidente, o arianismo germânico tornara-se a "lei dos godos", símbolo da sua supremacia. Contudo e paradoxalmente,'as Igrejas arianas abstinham-se de todo o proselitismo em relação às populações locais. Na verdade, a única razão de ser da heresia - baseada numa subtileza teológica, cuja compreensão escapava a muitos - era manter nos novos reinos uma distinção entre "romanos" e "bárbaros". Para que esta estratégia de distinção funcionasse, ainda faltava que os romanos não se sentissem tentados a converter-se ao arianismo. Isso explica que os reis arianos, com a notável excepção dos vândalos, fossem extremamente tolerantes com os seus súbditos católicos.
Esta especificidade do arianismo germânico explica igualmente o seu fracasso entre os povos bárbaros que tinham escolhido aproximar-se das populações romanas. Foi o caso dos francos, que se converteram em massa ao catolicismo depois do baptismo do seu rei Clóvis, por volta do ano 500. Então, jogaram com a sua ortodoxia para se aliarem estreitamente às elites galo-romanas, nomeadamente com o episcopado. Estes apoios permitiram-lhes derrubar os visigodos da Aquitânia, em 507 (batalha de Vouillé).
Desde então, o arianismo começou a recuar em toda a parte. Em 516, os burgúndios proclamaram a igualdade das três pessoas divinas na Trindade,
a pedido do seu rei Segismundo. Em meados do século VI, foi a vez de os reinos vândalo e ostrogodo desaparecerem, vencidos pelos exércitos bizantinos. Então, o imperador Justiniano impôs a doutrina de Niceia no Norte de África e na Itália reconquistados. Os visigodos, voltando-se para as Hispânias, continuaram a ser durante muito tempo um dos últimos bastiões do arianismo. Contudo, em 589, o seu rei Recaredo ordenou a conversão do conjunto do seu povo à fé católica. Tendo compreendido que as tensões confessionais minavam o seu reino, preferira sacrificar a religião identitária dos godos.
Quando Gregório Magno se tornou papa em 590, o catolicismo já triunfava na maior parte dos povos bárbaros instalados nas antigas províncias do Império. Só os lombardos, senhores do Norte de Itália desde 568, se mantiveram fiéis, ainda por alguns decénios (até ao início do século VII) a um arianismo germânico cada vez mais anacrónico.
Bruno Dumézil


HISTÓRIA DO CRISTIANISMO. ALAIN CORBIN. EDITORIAL PRESENÇA, 119-121

ANTÃO - CONCÍLIO DE NICÉIA - CRISÓSTOMO - JERÔNIMO


Antão começa a sua vida de eremita


Um dos principais fundadores das comunidades monásticas não tinha em mente a idéia de fundar coisa alguma. Ele estava simplesmente preocupado com a própria condição espiritual e passou a maior parte de sua vida sozinho.

Antão [ou Antônio] nasceu no Egito, provavelmente por volta do ano 250, em uma família de pais abastados que morreram quando contava cerca de vinte anos, deixando para ele toda sua herança. As palavras de Jesus ao jovem rico — "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres" — mudaram a vida do jovem Antão. A mensagem parecia ter sido direcionada a ele, uma vez que a entendeu literalmente. Doou suas terras aos vizinhos, vendeu suas outras propriedades e repartiu o dinheiro entre os pobres. Colocou-se sob os cuidados de um cristão idoso que lhe ensinou as alegrias da autonegação. Antão optou por comer uma única refeição por dia, composta de pão e água, e passou a dormir no chão.

Com a conversão do imperador Constantino em 312, a situação da igreja mudou drasticamente. Os cristãos saíram da posição de minoria perseguida e tornaram-se membros de uma religião respeitável que desfrutava apoio oficial. Contudo, à medida que grandes multidões começaram a entrar na igreja, ficou mais difícil distinguir entre os que tinham compromisso verdadeiro com Cristo e os que queriam apenas tomar parte da religião popular. A fé se transformou em uma coisa fácil e a sinceridade foi prejudicada.

Cristãos zelosos dessa época, com freqüência, optavam por lutar contra o comprometimento de sua fé afastando-se do mundo. Antão buscou fazer isso e foi viver em uma caverna. De acordo com Atanásio, seu biógrafo, durante doze anos Antão foi cercado por demônios que assumiam formas de vários animais estranhos e que, em alguns momentos, o atacavam, e, em determinada ocasião, quase o mataram. Eles estavam tentando trazer Antão de volta ao mundo dos prazeres sensuais, mas Antão sempre se levantava de maneira triunfante.

Para se afastar ainda mais do mundo, Antão se mudou para um forte abandonado, onde viveu vinte anos sem ver rosto humano. Sua comida lhe era jogada por cima do muro. As pessoas ouviam sobre sua impressionante autonegação e suas batalhas com os demônios. Alguns admiradores ergueram casas rudes próximas ao forte, e, de modo relutante, ele se tornou conselheiro espiritual delas, dando-lhes orientação sobre jejum, oração e obras de caridade. Antão certamente se tornou um modelo de autonegação.

O eremita não conseguiu se desligar totalmente do mundo. Em 311, Maximino, um dos últimos imperadores pagaos, estava perseguindo os cristãos, o que fez com que Antão deixasse sua casa, disposto até mesmo a morrer por sua fé. Em vez disso, ele ministrou aos cristãos que foram condenados a trabalhar nas minas imperiais. Essa experiência o convenceu de que viver a vida cristã poderia ser algo tão santo quanto morrer por ela. Mais uma vez, em 350, ele saiu de casa para defender a ortodoxia contra a heresia ariana, que não fora extinta pelo Concilio de Nicéia (325). Muitas pessoas, incluindo o imperador Constantino, buscavam o conselho espiritual do eremita.

Antão morreu com 105 anos, aparentemente desfrutando vigor físico e mental. Ele insistiu para que fosse enterrado secretamente de modo que nenhum culto se desenvolvesse ao redor de sua sepultura.

Apesar desse cuidado, porém, um culto surgiu. Atanásio, o influente teólogo que teve papel muito importante no Concilio de Nicéia, escreveu uma obra muito popular chamada Vida de Antão, na qual retratava-o como o monge ideal, que podia realizar milagres e discernir entre espíritos bons e maus. Não demorou muito para que a idéia de um verdadeiro guerreiro espiritual que se tornou monge e negou a si mesmo tomasse vulto dentro da igreja.

A prática das comunidades de monges que viviam juntos começou com Pacômio, um jovem companheiro de Antão. Como o austero e individualista Antão, a maioria de seus seguidores também foi eremita. Seja como for, Antão comunicou a idéia de que pessoa verdadeiramente religiosa se afasta do mundo, abstendo-se do casamento, da família e dos prazeres mundanos.

Essa idéia só foi desafiada seriamente na época da Reforma.


O CONCÍLIO DE NICÉIA

Embora Tertuliano tivesse outorgado à igreja a idéia de que Deus é uma única substância e três pessoas, de maneira alguma isso serviu para que o mundo tivesse compreensão adequada da Trindade. O fato é que essa doutrina confundia até os maiores teólogos.

Logo no início do século IV, Ario, pastor de Alexandria, no Egito, afirmava ser cristão, porém, também aceitava a teologia grega, que ensinava que Deus é um só e não pode ser conhecido. De acordo com esse pensamento, Deus é tão radicalmente singular que não pode partilhar sua substância com qualquer outra coisa: somente Deus pode ser Deus. Na obra intitulada Thalia, Ario proclamou que Jesus era divino, mas não era Deus. De acordo com Ario, somente Deus, o Pai, poderia ser imortal, de modo que o Filho era, necessariamente, um ser criado. Ele era como o Pai, mas não era verdadeiramente Deus.

Muitos ex-pagãos se sentiam confortáveis com a opinião de Ario, pois, assim, podiam preservar a idéia familiar do Deus que não podia ser conhecido e podiam ver Jesus como um tipo de super-herói divino, não muito diferente dos heróis humanos-divinos da mitologia grega.

Por ser um eloqüente pregador, Ario sabia extrair o máximo de sua capacidade de persuação e até mesmo chegou a colocar algumas de suas idéias em canções populares, que o povo costumava cantar.

"Por que alguém faria tanto estardalhaço com relação às idéias de Ario?", muitas pessoas ponderavam. Porém, Alexandre, bispo de Ario, entendia que para que Jesus pudesse salvar a humanidade pecaminosa, ele precisava ser verdadeiramente Deus. Alexandre conseguiu que Ario fosse condenado por um sínodo, mas esse pastor, muito popular, tinha muitos adeptos. Logo surgiram vários distúrbios em Alexandria devido a essa melindrosa disputa teológica, e outros clérigos começaram a se posicionar em favor de Ario.

Em função desses distúrbios, o imperador Constantino não podia se dar ao luxo de ver o episódio simplesmente como uma "questão religiosa". Essa "questão religiosa" ameaçava a segurança de seu império. Assim, para lidar com o problema, Constantino convocou um concilio que abrangia todo o império, a ser realizado na cidade de Nicéia, na Ásia Menor.

Vestido com roupas cheias de pedras incrustadas e multicoloridas, Constantino abriu o concilio. Ele disse aos mais de trezentos bispos que compareceram àquela reunião que deveriam resolver o impasse. A divisão da igreja, disse, era pior do que uma guerra, porque esse assunto envolvia a alma eterna.

O imperador deixou que os bispos debatessem. Convocado diante dos bispos, Ario proclamou abertamente que o Filho de Deus era um ser criado e, por ser diferente do Pai, passível de mudança.

A assembléia denunciou e condenou a afirmação de Ario, mas eles precisavam ir além disso. Era necessário elaborar um credo que proclamasse sua própria visão.

Assim, formularam algumas afirmações sobre Deus Pai e Deus Filho. Nessas declarações, descreviam o Filho como "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanciai com o Pai".

A palavra "consubstancial" era muito importante. A palavra grega usada pelos conciliares foi homoousios. Homo quer dizer "igual"; ousios significa "substância". O partido de Ario queria acrescentar uma letra a mais àquela palavra: homoiousios, cujo significado passaria a ser "de substância similar".

Com exceção de dois bispos, todos os outros assinaram a declaração de fé. Esses dois, com Ario, foram expulsos. Constantino parecia satisfeito com o resultado de sua obra, mas isso não durou muito tempo.

Embora Ário tivesse ficado temporariamente fora do cenário, sua teologia permaneceria por décadas. Um diácono de Alexandria chamado Atanásio tornou-se um dos maiores opositores do arianismo. Em 328, Atanásio tornou-se bispo de Alexandria e continuou a lutar contra aquela facção.

No entanto, a guerra continuou na igreja do Oriente até que outro concilio, realizado em Constantinopla, no ano 381, reafirmou o Concilio de Nicéia. Ainda assim, traços dos pensamentos de Ario permaneceram na igreja.

O Concilio de Nicéia foi convocado tanto para estabelecer uma questão teológica quanto para servir de precedente para questões da igreja e do Estado. A sabedoria coletiva dos bispos foi consultada nos anos que se seguiram, quando questões espinhosas surgiram na igreja. Constantino deu início à prática de unir o império e a igreja no processo decisorio. Muitas conseqüências perniciosas seriam colhidas nos séculos futuros dessa união.



JOÃO CRISÓSTOMO


A primeira vez que a atenção do público se voltou para João Crisóstomo foi devido a uma rebelião em protesto pelos novos impostos. Ele era pastor em Antioquia, em 387, quando o imperador Teodósio impôs essa nova taxa. O povo de Antioquia ficou enraivecido. Em protesto, se revoltaram, atacando oficiais do império e mutilando estátuas de Teodósio e de sua família. A ordem foi logo restaurada e as pessoas esperavam ser punidas.

Flaviano, bispo de Antioquia, correu para Constantinopla, a capital do império, pedindo clemência ao imperador. Teodósio era conhecido por enviar tropas para massacrar os cidadãos que lhe causavam dificuldades. Enquanto o bispo e uma legião de monges pleiteavam junto ao imperador, João tentava acalmar as multidões. Em uma série de vinte sermões (Homilías sobre os ícones), ele inspirou, admoestou e desafiou as multidões. Essa foi uma série de sermões proféticos da melhor espécie. O bispo retornou com notícias de anistia e João insistia com as pessoas para que as atitudes delas mudassem para melhor.

Essa não seria a última vez que João enfrentaria uma situação política séria. Ele fez aquilo com coragem, fidelidade e, talvez, com certa dose de arrogância.

Ε possível que ele tivesse aprendido isso com sua mãe, Antusa. Seu marido era oficial militar e morreu pouco depois do nascimento de João. Ela estava com apenas vinte anos e era muito bonita, mas rejeitou seus muitos pretendentes com o objetivo de dar a melhor educação possível a João e à irmã dele. Antusa vinha de uma família abastada e foi capaz de dar a João excelente educação, incluindo estudos de retórica com um famoso professor pagão chamado Libânio. João também estudou Direito, mas foi atraído cada vez mais pela ascese. João ingressou em um mosteiro pouco depois da morte de sua mãe.

Em 381, retornou à sua cidade natal, Antioquia, e foi ordenado diácono. O bispo percebeu suas habilidades na comunicação e fez dele pastor e pregador principal de uma das assembléias de Antioquia. Foi nessa função que ele enfrentou a revolta dos impostos. Durante os anos que se seguiram, ele continuou a ganhar respeito devido à sua habilidade na pregação. Por causa disso, recebeu a alcunha de Crisóstomo, transliteração de uma expressão grega cujo significado é "boca de ouro".

Seguindo a escola teológica de Antioquia, João adotou a abordagem mais literal da Bíblia (em oposição à interpretação mais alegórica da Escola Alexandrina). Ele também enfatizou a plena humanidade de Jesus em uma época em que as pessoas ignoravam esse aspecto. Crisóstomo pregou longas séries de mensagens sobre Gênesis, Mateus, João e Romanos, a maioria das quais ainda possuímos. Ele também escreveu comentários.

Em 397, o bispado de Constantinopla ficou vago. Era uma posição de grande prestígio, na capital do império. O imperador Arcádio escolheu João, o Boca de Ouro. Ε possível que, mais tarde, ele tenha se arrependido de sua decisão.

João era tão popular em Antioquia que teve de ser praticamente raptado para ser levado a Constantinopla. Acabou por ser consagrado bispo na capital em 398. O oficiante da consagração foi o bispo Teófilo de Alexandria.

Devido especialmente às questões políticas, Teófilo causou grandes problemas a João. Ele queria que João lhe fosse subserviente e, provavelmente, ficou enciumado pelo número de novos bispos que passou a seguir Crisóstomo, em função de sua habilidade na pregação. Teófilo também se opunha à teologia de Orígenes, na qual João se fundamentava. Com seu modo audacioso, João provavelmente não despendeu muito esforço para apaziguar o bispo Teófilo.

João tentou ministrar à grande comunidade dos góticos da cidade, dando-lhes boas-vindas, mas não aprovando a heresia ariana que muitos deles professavam. Pregava de maneira veemente contra o pecado, sempre que deparava com ele, a começar pelo próprio clero. Sacerdotes flertavam com a imoralidade, e João queria que isso acabasse. Ele também pregava contra as roupas insinuantes das mulheres de Constantinopla. Embora não se saiba se João tenha feito isso de propósito, o fato é que a imperatriz Eudóxia tomou as palavras de João como afronta pessoal.

Quanto a Teófilo, a gota d'água foi o fato de João ter aceitado quatro monges, defensores da teologia de Orígenes, que haviam sido disciplinados em Alexandria. O bispo alexandrino viajou para Constantinopla e se reuniu com os inimigos de João. Em uma propriedade conhecida como "O Carvalho", em 403, foi promovido um sínodo que condenou os ensinamentos de João e o baniu de sua igreja.

Eudóxia, no entanto, era supersticiosa. Um acidente, talvez um terremoto, aconteceu no palácio logo depois do sínodo e a imperatriz ficou assustada. Ela, imediatamente, pediu ao imperador que revogasse as decisões do sínodo. João foi trazido de volta por um período de cerca de um ano. Destemido como era, continuou a expressar de maneira aberta que pensava, especialmente quando uma estátua de Eudóxia foi levantada ao lado da catedral.

A imperatriz reagiu. Soldados imperiais interromperam um culto de Páscoa e alguns dos seguidores de João foram massacrados. João foi mandado para o exílio, em Cucusso, lugar lúgubre perto da Armênia. O papa Inocencio i protestou contra esse tratamento, mas o protesto foi em vão. O imperador do Oriente já tomara suas decisões. Mesmo no exílio, João continuou a se corresponder com seus seguidores, orientando-os sobre as questões da igreja. Logo, o imperador decidiu mandá-lo para mais longe ainda.

Foi assim que João morreu, viajando para o local de exílio ainda mais distante, em 407. Nas décadas seguintes, o papa Inocencio conseguiu limpar o nome de João, ao forçar o bispo Teófilo e outros a incluir o nome de João na lista de nomes pelas quais a igreja deveria orar.

João deixou o legado da boa pregação. Promoveu o estilo de exposição literal da Bíblia conforme praticado em Antioquia e, com Ambrosio, foi um dos primeiros líderes da igreja a se levantar corajosamente diante dos governantes e dizer: "Assim diz o Senhor...". Alguns cristãos fariam a mesma coisa em outros momentos críticos da história.


JERÔNIMO


A igreja desde o início aceitou que havia a necessidade de traduzir a Bíblia. Embora o grego comum do Novo Testamento fosse amplamente compreendido em todo o Império Romano, nem todos conheciam aquela língua, e a igreja tinha o objetivo de alcançar a todos com o Evangelho.

Surgiram as primeiras traduções em várias línguas, especialmente para o latim (que, com o tempo, passou a ser a língua oficial do império), o siríaco e o copta. Embora possamos destacar o zelo dos primeiros tradutores, infelizmente nem sempre tinham bom domínio do grego.

Dámaso foi bispo de Roma de 366 a 385. Embora o bispado de Roma fosse tido em grande estima, ele ainda não alcançara o poder superior ao dos outros bispados, e Dámaso gostava de poder. Ele queria libertar o cristianismo ocidental da dominação do Oriente. Havia muito tempo, o grego era a língua aceita pela igreja, mas Dámaso queria que a igreja do Ocidente se tornasse claramente latina. Uma das maneiras de conseguir isso seria traduzir a Bíblia para o latim.

O secretário de Dámaso era Euse-bius Hieronymus Sophronius, embora fosse mais conhecido na igreja por Jerónimo. Ele foi treinado nos clássicos em latim e grego e repreendia severamente a si mesmo por sua paixão pelos autores seculares. Para punir-se, praticava uma vida de renúncia e retirou-se para a Síria para estudar hebraico. Jerónimo já havia se tornado um dos maiores estudiosos na época em que começou a trabalhar para Dámaso.

Desse modo, Dámaso sugeriu que seu secretário produzisse uma tradução latina da Bíblia, que eliminasse as imprecisões das traduções mais antigas. Dámaso buscava a uniformidade. Assim como já padronizara o culto de adoração das igrejas que estavam sob sua autoridade, Dámaso queria um conjunto padronizado das Escrituras.

Jerónimo começou sua obra em 382. Quando Dámaso morreu, em 384, Jerónimo, aparentemente, alimentava o desejo de ocupar a posição de bispo de Roma. Em parte pela amargura de não ter sido escolhido, e em parte pelo desejo de se livrar das distrações, Jerónimo mudou-se de Roma para a Terra Santa, estabelecendo-se em Belém. Em 405, terminou sua tradução, que não foi sua única obra. Durante aqueles 23 anos, ele também produziu comentários e outros escritos, servindo de conselheiro espiritual para algumas viúvas ricas e bastante devotas. Ele se envolveu em várias batalhas teológicas de seus dias, por meio de cartas eloqüentes — e, às vezes, bastante cáusticas — que até hoje são consideradas muito dramáticas.

Jerónimo começou sua tradução trabalhando a partir da Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento. Porém, logo estabeleceu um precedente para todos os bons tradutores do Antigo Testamento: passou a trabalhar a partir dos originais em hebraico. Jerónimo consultou muitos rabinos e procurava com isso atingir um alto grau de perfeição.

Jerónimo ficou surpreso com o fato de as Escrituras hebraicas não incluírem os livros que chamamos hoje apócrifos. Por terem sido incluídos na Septuaginta, Jerónimo foi compelido a incluí-los também em sua tradução, mas deixou sua opinião bastante clara: eles eram liber ecclesiastici ("livros da igreja"), e não liber canonici ("livros canónicos"). Embora os apócrifos pudessem ser usados para a edificação, não poderiam ser utilizados para estabelecer doutrina alguma. Centenas de anos mais tarde, os líderes da Reforma dariam um passo adiante e não incluiriam esses livros na versão bíblica protestante.

A biblioteca divina, termo pelo qual Jerónimo se referia à Bíblia, foi finalmente disponibilizada em uma versão precisa e muito bem escrita, na linguagem usada comumente nas igrejas do Ocidente. Ficou conhecida por Vulgata (do latim vulgus, "comum"). A enorme influência de Jerónimo fez com que todos os estudiosos sérios da Idade Média tivessem grande respeito por sua tradução. Martinho Lutero, que conhecia hebraico e grego, fez citações da Vulgata durante toda sua vida.

Pelo fato de a obra de Jerónimo ter o selo de aprovação da igreja, outros tradutores tiveram dificuldades em segui-lo. Até a Reforma, poucas traduções haviam sido feitas para as línguas européias e, mesmo assim, em vez de trabalhar a partir do Novo Testamento em grego, os tradutores se voltavam para a Vulgata.

Ironicamente, a tradução da Bíblia no idioma que toda a igreja ocidental pudesse usar, provavelmente, fez com que a igreja tivesse um culto de adoração e uma Bíblia que nenhum leigo podia entender. A tradução de Jerónimo deu ao latim o ímpeto que Dámaso buscava, mas a Vulgata se tornou tão sacrossanta que a tradução da Bíblia para outras línguas bastante utilizadas foi proibida.

Extraído: Os 100 Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo. A. K. Curtis; J. S. Lang; R. Petersen. Editora Vida